Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Portais online, casulos informativos e a recomendação noticiosa

Os portais noticiosos na Web estão cada vez mais na contramão da tendência rumo à recomendação personalizada como base para agenda de informações dos usuários da internet, especialmente os com menos de 35 anos.


 


Uma pesquisa divulgada semana passada pelo instituto norte-americano Pew Internet indicou uma elevação em quase oito pontos percentuais no uso do sistema de microblogs Twitter como ferramenta para atualização sobre pessoas e notícias. Segundo a investigação, 19% — ou um em cada cinco internautas — recorrem ao Twitter e outros sites de redes sociais para saber o que seus amigos, parceiros ou ídolos estão fazendo.


 


O trabalho também revelou que os homens e mulheres na faixa dos 30 aos 35 anos são os principais usuários do sistema de micromensagens com até 140 caracteres. Este dado contraria a idéia muito difundida de que os adolescentes e jovens com menos de 25 anos são os principais usuários do Twitter.


 


O problema não se restringe, no entanto, em identificar modismos. A questão vai mais longe. As redes sociais online, entre elas as badaladas Facebook e Orkut, são na verdade imensos conglomerados virtuais onde a recomendação funciona como o principal gerador de agendas e de consumo.


 


O que se nota hoje, e os marqueteiros online são os que mais estudam o fenômeno, é que a recomendação pessoal está substituindo rapidamente a publicidade e o marketing convencionais, bem como deixando para trás a agenda informativa da imprensa convencional.


 


É cada vez maior o número de pessoas que só confiam numa notícia depois que ela foi comentada por outras pessoas. Estas pessoas conquistaram uma alta reputação na blogosfera, o universo virtual dos blogs, por seu conhecimento, credibilidade e interatividade em redes sociais.


 


As assinaturas individuais estão se tornando tão ou mais valorizadas do que os títulos de publicações. E quem mais sofre com isso são os portais noticiosos, tanto os de empresas online como os produzidos por grupos jornalísticos que editam jornais e revistas impressas.


 


Os portais foram construídos dentro da filosofia de que eles seriam lugares de passagem, onde o internauta descobriria o que está acontecendo e escolheria o que iria ler, ouvir, ver ou comentar. Acontece que com a recomendação as pessoas recebem sugestões de leitura e vão direto à notícia, sem passar pelo portal.


 


Cresce também o número de internautas que deixam de lado a notícia e o artigo para ir direto aos comentários, procurando saber o que as pessoas em geral estão pensando sobre um determinado fato, processo, opinião ou informação.


 


A recomendação informativa é hoje um processo em acelerada expansão também na área do consumo de bens e serviços. É cada vez mais freqüente o fato de o comprador potencial procurar saber o que as outras pessoas opinam sobre um produto antes de comprá-lo. No segmento de produtos eletrônicos este procedimento já se tornou uma regra, dada a enorme variedade de modelos e de fabricantes.


 


O grande risco nesse tipo de opção é a criação do que o professor norte-americano Cass Sunstein chama de “casulos informativos” (information cocoons). Quando a tendência é seguir recomendações de outras pessoas com a mesma opinião, cresce a possibilidade de homogeneização e sectarismo.


 


Apesar da enorme variedade de posicionamentos na blogosfera, a tendência ao casulo informativo é muito forte entre os weblogs conforme mostram pesquisas feitas nos Estados Unidos. Nada menos que 91% dos blogs norte-americanos sugerem sites da mesma tendência política ou cultural.


 

Avaliar opiniões opostas dá muito mais trabalho e o comodismo ou falta de tempo acabam por estimular o “efeito manada” entre os blogueiros. Se a imprensa convencional estivesse atenta a esse fenômeno, ela poderia encontrar nesta conjuntura uma opção para reconquistar relevância informativa apostando na diversidade e na divergência.  Mas isso ainda é apenas um sonho.