Wednesday, 17 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Projeto canadense tenta ressuscitar agências de notícias

Siglas famosas como UPI, ANSA, DPA e TASS sumiram da imprensa mundial enquanto outras não menos conhecidas como AP, AFP e Reuters lutam pela sobrevivência num ambiente informativo cada vez mais inóspito para agências de notícias baseadas num modelo centralizado de distribuição de informações.


 


As agências convencionais foram atropeladas pela avalancha de novas tecnologias de informação e comunicação, depois de quase um século de hegemonia no jornalismo mundial. Elas são hoje apenas uma sombra do passado, e é neste contexto que um projeto canadense tenta reocupar o espaço das agências convencionais usando a Web em vez do teletipo, telex e telégrafo para distribuir notícias internacionais.


 


O NowPublic, lançado em 2005, pretende reviver as glórias passadas das agências internacionais de notícias substituindo os correspondentes estrangeiros por colaboradores autônomos.


 


O site surgiu inicialmente com a proposta de reproduzir a experiência do jornal sul-coreano OhmyNews, a mais bem sucedida tentativa de publicar notícias produzidas por leitores comuns, sem experiência jornalística.


 


Mas depois de um ano de vida, o NowPublic teve que mudar de estratégia para conseguir um financiamento de 1,4 milhão de dólares em junho de 2006. O novo objetivo passou a ser a distribuição material produzido por free lancers para jornais impressos, revistas, emissoras de radio e de televisão bem como portais de notícias na Web.


 


Em julho de 2007, o NowPublic anunciou mais um aporte de recursos da ordem de 10,6 milhões de dólares para reforçar a sua rede de 120 mil colaboradores em 140 países, segundo declarações do co-fundador do projeto, Leonard Brody.


 


Apesar do apoio financeiro recebido, as dúvidas sobre o futuro do NowPublic ainda são grandes porque ele tenta reviver um modelo de distribuição de notícias que a maioria dos estudiosos da imprensa considera ultrapassado.


 


A World Wide Web criou um fluxo descentralizado de informações em escala planetária que acabou com o monopólio das agências convencionais na distribuição de notícias entre países e continentes.


 


As norte-americanas Associated Press e United Press International, a inglesa Reuters e a francesa AFP era indispensáveis para a imprensa mundial informar sobre guerras como a da Coréia e do Vietnã, bem como em todos os grandes eventos como a corrida espacial dos anos 60 e 70.


 


O papel de intermediação das agências acabou sendo minimizado na medida em que hoje é possível acessar diretamente as fontes de informação através da internet. Até mesmo as agências alternativas como a cooperativa de jornalistas InterPress Service acabaram perdendo mercado na reviravolta provocada pela internet.


 


O surgimento dos sistemas automáticos de coleta e distribuição de notícias como o Google News, Topix e Newsbot , do MSNBC criou uma concorrência desleal porque os robots eletrônicos conseguem monitorar até três mil publicações, muito além da capacidade de toda a equipe de uma agência de notícias convencional.


 


Elas acusaram o golpe. A AFP até hoje briga na justiça francesa contra o Google News acusado de uso ilegal de informações produzidas pela agência e publicadas em jornais que foram indexados pelo mecanismo de buscas.


 


A UPI fechou as portas ingloriamente em 1993 e a Reuters é hoje uma pálida imagem do seu passado centenário, depois de ter demitido quase três mil funcionários e ver suas receitas caírem 90%.


 


A Associated Press é talvez a única das outrora grandes agências que ainda aposta no modelo centralizado de distribuição de notícias. A agência, que é uma cooperativa de jornais norte-americanos criada em 1846, tem um acordo operacional com o NowPublic e intermediou o último grande financiamento recebido pelo site.


 


O maior desafio à nova experiência de agência de notícias vem dos weblogs e do recém lançado site Tailrank, que monitora informações publicadas em quase cinco milhões de weblogs de todo mundo. Além disso, existe o chamado “jornalismo quântico”, que deve provocar o surgimento em breve de várias experiências de distribuição personalizada de notícias, segundo os interesses e necessidades de cada leitor.