Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Quem quer comprar um jornal?


Esta é a pergunta que muita gente está tentando responder em 29 cidades norte-americanas onde são publicados jornais do conglomerado jornalístico Knight Ridder, um dos três maiores dos Estados Unidos e que foi colocado a venda, depois que seus principais acionistas consideraram que a impressão de jornais não é mais um bom negócio.


O mais curioso é que está sendo muito difícil encontrar compradores, o que soa paradoxal numa atividade empresarial que não faz muito tempo era considerada altamente promissora.


O problema é que os hábitos consumidores de informação mudaram muito nos últimos cinco anos com uma migração de leitores para a internet, que passou também a atrair uma fatia crescente da publicidade em meios de comunicação. A isto tudo some-se a sucessão de problemas editoriais em grandes jornais norte-americanos como reportagens falsas, corrupção de repórteres e quebra da ética profissional, fatores que acabaram por minar a credibilidade da impresa na terra do Tio Sam.


O caso da cadeia Knight Ridder virou tema de debate na mídia americana como é o caso de Jay Rosen, diretor da escola de jornalismo da Universidade de Nova Yorque e editor do blog PressThink , que sugeriu a fragmentação do conglomerado jornalístico e entrega dos seus 32 jornais para grupos comunitários.


Já Jeff Jarvis, consultor do site About.com, controlado pelo grupo Times (The New York Times) contraria seus patrões ao afirmar em alto e bom som que os jornais impressos são um mau negócio hoje para quem quer ganhar dinheiro. O conselho está no blog BuzzMachine , muito lido entre jornalistas e investidores em jornais.


Phillip Stone, um ex-executivo da agência Reuters e atual diretor da empresa de consultoria FTM (Follow the Media) não é tão pessimista e afirma que os jornais podem sobreviver desde que reformulem seu modelo de negócios, adotem a transparência como norma tanto na redação como na administração e optem pela convergência multimídia como estratégia obrigatória.


Stone diz que o grande problema atual é a profunda desilusão dos acionistas de grandes grupos jornalísticos. As cotações dos jornais na bolsa de Nova Iorque cairam mais de 20% nos últimos 15  meses, provocando uma debandada de investidores, que colocou em risco a estabilidade de empresas como a Knight Ridder.


Outros dois grandes conglomerados jornalísticos norte-americanos estão igualmente ameaçados de uma rebelião de acionistas, garante Phillip Stone. Seriam as cadeias Gannett e Tribune, que receberam recomendação de venda de ações da corretora Merryll Linch e do Deutsche Bank.


Nem mesmo o multimilionário Rupert Murdoch está escapando da maré de pessimismo dos investidores em relação à indústria dos jornais. O dono do conglomerado News Corporation  admitiu que as ações de suas empresas cairam 16% e estão no nível mais baixo de sua história, mas descartou uma solução do tipo Knight Ridder. Murdoch está investindo quase dois bilhões de dólares em empresas na internet para diversificar seus negócios na imprensa.


A crise dos jornais deixou de ser apenas uma questão de fuga de leitores, perda de receita publicitária e má administração. Chegou agora às bolsas de valores e aos investidores, cujas decisões são implacáveis.


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