Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Redações ‘no osso’ têm dificuldade para revisar rotinas


As dúvidas que eu ainda tinha sobre a necessidade de uma profunda revisão na prática do jornalismo desapareceram esta semana. Ao contatar editores e chefes de redação de jornais, revistas, emissoras de televisão e de rádio para que indicassem profissionais para um workshop sobre cobertura de trânsito e transportes públicos em São Paulo, quase a metade deles admitiu que não podia tirar ninguém da linha de produção, sob pena de não haver material para publicar.


Todos reconheceram a urgência e necessidade de repensar a cobertura de temas locais numa cidade às voltas com tantos problemas, mas ao mesmo tempo deixaram claro que estavam trabalhando no limite, literalmente no osso, depois de quase cinco anos de enxugamento e miniaturização das redações.


A ausência de condições para permitir que os profissionais reflitam sobre algo que é um desafio cotidiano, como o trânsito em São Paulo, é especialmente preocupante quando crescem, a cada dia, os indícios de que as empresas jornalísticas e os jornalistas devem repensar as suas estratégias e rotinas diante da rapidez com que está mudando a ecologia da informação no Brasil e no mundo.


Situações como as vividas pela maior parte das redações brasileiras mostram que o problema não é a ausência de alternativas para a queda de tiragens, para a crise de credibilidade, redução das receitas e evasão de público, mas a falta de uma coisa bem mais elementar: tempo para discutir estes problemas.


A massacrante rotina para produzir edições diárias, semanais ou em cima da hora acabou fazendo com que os jornalistas não possam pensar no seu amanhã, apesar de todos os indícios de que o futuro da profissão reserva inúmeros mudanças, algumas bastante radicais. Ao mesmo tempo, os executivos estão hipnotizados pela busca dramática de fluxo de caixa, e ampliação de receitas, sem se dar conta que é o modelo de negócios que já não funciona mais.


Se os jornalistas não pararem para pensar, discutir e trocar idéias sobre as mudanças na sua profissão, eles correm o risco de serem atropelados por elas.