Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Repórter badalado ou execrado?

É enigmática a seguinte nota publicada hoje (29/12) na coluna de Mônica Bergamo na Folha de S. Paulo:


HOMENAGEM. O jornalista Cesar Tralli comemorou aniversário entre amigos na quinta-feira da semana passada. O jantar foi oferecido pelo senador Gilberto Miranda (PFL-AM), que providenciou caviar aos baldes, para comer de colherada. Risoto e cordeiro foram servidos em seguida – mas só para tirar o gostinho do caviar, que acabou funcionando como prato principal. Todos satisfeitos, eis que surge um bolo com inscrições de algumas das matérias investigativas já realizadas pelo repórter. A turma, que incluía Raquel Silveira e Ana Paula Junqueira, seguiu para o Baretto, fechado para a celebração, com show de Paulo Ricardo.”


Primeiro, trata-se de um assunto velho de uma semana. Segundo, menciona-se que Tralli foi homenageado “pelo senador Gilberto Miranda”, o que, dito assim, não significa nada. É notícia alguém ser homenageado por um senador? Ou a notícia repousa especificamente na biografia desse senador? Marcos Sá Corrêa, quando era editor do Jornal do Brasil, dizia com a maior propriedade que em jornalismo tudo deve ser explícito. A colunista não qualifica Gilberto Miranda. Como ele anda ausente do noticiário, muita gente não conseguirá inferir absolutamente nada.


Para começar, não se trata de um senador, mas de um ex-senador. Hoje os senadores pelo Amazonas são Artur Virgílio, Jefferson Peres e Gilberto Mestrinho. Quem desejar refrescar a memória pode submeter ao Google as expressões “Gilberto Miranda” e “Zona Franca”, na mesma busca. Quer saber mais? Exercite um pouco sua veia jornalística, leitor.


Gilberto Miranda Batista é irmão de Egberto Batista, quercista que se tornaria ministro muito poderoso de Fernando Collor. Isso eu não sei se está na internet, porque os jornais ainda não tinham conteúdo digitalizado na rede. Mas está na memória. Batista era admirador tão exaltado de Orestes Quércia que em 1986, ano da eleição de Quércia para o governo de São Paulo, conseguiu para seu carro uma placa com o código OQ-1986 (na época as placas tinham duas letras). Sobre sua trajetória no governo Collor, recorrer à bibliografia especializada.


Voltemos à nota.


Caviar aos baldes: é acepipe ou pecado?


Raquel Silveira e Ana Paula Junqueira que me desculpem, mas confesso não saber quem são. Sara Silveira é uma produtora de cinema. Anas Paulas existem às centenas no noticiário, e provavelmente a Arósio, com grande justiça, é a mais conhecida. Uma pesquisa no Google poderia sanar minha ignorância, mas fica para outra oportunidade.


Como vida privada de jornalista, para mim, seguindo uma velha e boa norma, não é notícia, ao fim e ao cabo fica a pergunta: o que quis dizer a coluna de Mônica Bergamo? Não teria sido melhor afirmar efetivamente alguma coisa, ao invés de insinuar?


Se o leitor tiver algum palpite, cartas para a redação.