Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Revista eletrônica Slashdot pode ser modelo do novo modelo de produção jornalística na Web

Dez anos depois de ser lançada, em meio a um grande ceticismo, a revista online Slashdot, especializada em notícias sobre novas tecnologias não apenas é uma empresa consolidada, como já é apontada como um possível modelo para a produção jornalística na Web.


 


O professor australiano Axel Bruns dissecou a experiência da Slashdot no seu livro Gatewatching, no qual apresenta a revista como um modelo de produção coletiva de notícias na internet. Mais recentemente, a revista que adotou o slogan “news for nerds, stuff that matters”, foi tema de um seminário na Universidade de Nova York reunindo professores e jornalistas da Online News Association.


 


O nome Slashdot (barra ponto em tradução literal) foi escolhido por Rob Malda e Jeff  Bates, os fundadores da revista, como uma brincadeira em torno do endereço padrão na Web que usa barras e pontos.


 


Malda e Bates, dois fanáticos por novas tecnologias, desenvolveram um sistema onde os leitores sugerem notícias e sites, que são avaliados pelos editores e publicados, cabendo aos usuários verificar a veracidade e exatidão das informações publicadas na revista.


 


O sistema, que no começo era considerado utópico, pois surgiu antes mesmo dos weblogs, transformou-se numa referência obrigatória para quem acompanha o desenvolvimento da internet, não importa se é um leigo ou um especialista.


 


Atualmente, Slashdot tem cerca de 6,5 milhões de visitantes por mês e se refere a 80 milhões de páginas, em média, mensalmente. Algumas notícias citando páginas de referência chegam a receber 100 mil comentários de leitores.


 


Os nerds (fanáticos por internet) cunharam a expressão efeito Slashdot, ou seja os enormes congestionamentos formados por visitantes tentando acessar uma página pequena mencionada numa notícia publicada pela revista.


 


Mas o mais importante neste processo é o sistema desenvolvido por Malda e Bates, que começaram do nada em 1997 e venderam a revista para a empresa SourceForge, na virada do século, mantendo, no entanto, o seu controle editorial.


 


Atualmente o sistema de produção de notícias jornalísticas, adotado pela maioria da imprensa convencional, enfrenta três grandes dilemas: como administrar a avalancha de informações recebidas diariamente; como produzir a saída de material para publicação e, finalmente, como administrar a interatividade com os leitores.


 


A entrada de material esbarra no reduzido número de jornalistas em redações. Muito atribuem esta defasagem aos cortes de pessoal, mas mesmo que nenhum emprego tivesse sido eliminado, a sobrecarga de trabalho seria grande, porque houve um aumento enorme da massa de informações que chegam a um jornal, rádio ou TV.


 


A saída de material também é um dilema porque a contextualização das notícias, checagem de dados, verificação de veracidade e credibilidade de fontes são processos demorados que geralmente ultrapassam os prazos de fechamento. Resultado: a notícia é publicada sem uma verificação completa, na maioria dos casos.


 


O terceiro ponto, onde as redações acabaram atropeladas pelas mudanças na ecologia informativa contemporânea, é a relação com os leitores. Mesmo os ombudsmans não conseguem dar conta do trabalho. Resultado, o público é mantido a distância, torna-se cético e cada vez mais crítico.


 


O modelo Slashdot não é uma tábua de salvação, mas oferece alternativas inovadoras que exigem algumas mudanças nas rotinas e valores das redações. É um sistema para ser testado em jornais e revistas na Web, antes de ser experimentado em rádios e em WebTVs. A sua principal vantagem em relação ao modelo convencional é que ele redistribui as responsabilidades por meio de uma colaboração entre jornalistas e leitores.


 


A grande diferença é que o sistema não publica notícias completas, como fazem os os jornais e revistas convencionais. Noventa por cento da matéria-prima informativa recebida por Slashdot é enviada por colaboradores, em sua esmagadora maioria sem formação jornalística.


 


O material é revisado pelos editores da revista (às vezes chegam até cinco mil mensagens por dia), que eliminam as notícias sem valor jornalístico, sem atualidade, sem foco claro, as que usam linguagem grosseira ou obscena e as que fazem apologia da violência, racismo, sectarismo religioso ou promovem produtos comerciais.


 


Os editores fazem questão de esclarecer que eles não conferem a credibilidade e exatidão das noticias, tarefa que é repassada aos leitores, com base no principio de que eles são os principais beneficiados pela confiabilidade das informações publicadas.


 


Dez anos depois, as dúvidas sobre a eficiência do modelo Slashdot foram consideravelmente reduzidas. O modelo já deixou de ser visto como um modismo tecnológico para ser examinado com rigor acadêmico na busca de alternativas para o saturado modelo convencional de produção de notícias jornalísticas.