Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Só o amor constrói

Com os principais jornais do dia pingando corrupção por quase todos os espaços nobres reservados ao noticiário nacional, é um colírio a entrevista da repórter Cristina Christiano, do Diário de S.Paulo, transcrita no Globo, o carro-chefe do mesmo grupo de mídia, com a senhora Verônica Calheiros, mulher do senador de igual sobrenome.


Se a questão dos chamados valores familiares pesasse na cabeça dos brasileiros como se diz que os family values importam para os americanos – tanto que em 2002 ajudaram a dar à direita republicana a maioria no Congresso e em 2004 ajudaram a reeleger o presidente Bush -, as declarações da senhora Calheiros em louvor do amor conjugal e da integridade do casamento a transformariam para muita gente em símbolo da ‘mulher de verdade’.


Verônica parece ser tudo que as feministas abominam e que os homens a quem elas incomodam acham ideal.


Leiam e apreciem a entrevista intitulada ‘Perdoar não diminui as pessoas, o perdão fortalece’, que ficaria melhor na Caras ou, em outros tempos, no sofá da Hebe Camargo. Com todo o respeito, naturalmente. Ei-la:


‘Com a voz muitas vezes embargada pela emoção, a artista plástica Verônica Calheiros conta, em entrevista ao “Diário de S. Paulo”, por que decidiu perdoar o marido, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), pelo relacionamento extraconjugal que manteve com a jornalista Mônica Veloso.“Não foi um caso, um relacionamento. Foi apenas um momento”, diz.


Por que a senhora perdoou seu marido?


Construí uma história com o Renan, passamos muitos momentos difíceis. Estamos casados há 28 anos, temos três filhos e um neto de três meses. Amo meu marido, eu perdoei por amor. Que direito eu teria de não perdoar o pai dos meus filhos?


A senhora, então, aceitou o que ele fez?


Não vou ser hipócrita de dizer que aceitei. Fiquei abaladíssima. Na hora, fiquei áspera, juntando sapo. Mas aí houve uma conversa. Pedi a verdade e perguntei se ele não iria mentir para mim. O Renan respondeu que não sabia se era verdade. Quando teve certeza, ele foi muito sincero.

Como a senhora soube?


Foi há dois anos. Estava na internet e li a nota de um jornal, que depois foi desmentida. Mas, após a conversa com o Renan, soube que foi uma armadilha que fizeram para ele. Não foi um caso, um relacionamento. Foi apenas um momento.

A senhora teve coragem por acompanhá-lo no Senado no dia em que ele falou sobre a denúncia. Foi difícil ouvir tudo aquilo?


O Renan não queria que eu fosse. Mas eu fiz questão. Sabia que falar do caso entre quatro paredes é uma coisa e, em público, era diferente. Mas jamais desanimei, jamais vou deixar destruir minha família. Tenho gênio forte e, muitas vezes, até me surpreendo com as minhas atitudes.

Seus filhos sabiam?


Quando eu vi a notícia no jornal, perguntei ao meu filho mais velho se ele sabia do caso. Ele respondeu que tinha ouvido falar, mas nunca questionou o pai. Quando tudo foi esclarecido, expliquei a situação aos três. Mas o resto da nossa família não sabia de nada.

Nunca se arrependeu do perdão?


Se ele não correspondesse ao meu amor, talvez não o tivesse perdoado. Mas não é isso. Mesmo estando distante de casa, ele sempre teve gestos de amor comigo. Família unida supera tudo. Perdoar não diminui as pessoas, o perdão fortalece. Se eu o tivesse deixado, por acaso ia passar uma borracha em tudo e apagar? Eu seria uma pessoa infeliz, desconfiada, ia guardar ódio para o resto da vida.

A senhora pensou em vingança?


Nunca. O amor é uma aliança. Quando a gente ama uma pessoa, ama também os defeitos dela. A situação que ele viveu não foi um romance, não foi platônico. Se existisse um amor entre o Renan e a outra pessoa, não aconteceria isso. Ela ia querer conversar no lugar de expor. Se o meu amor por ele não desse certo, eu ia recuar, dar espaço.

O perdão ajudou a esquecer o caso?


Quando a gente gosta, quer estar sempre junto da pessoa. Então, perdoando sofre-se menos, porque o tempo se encarrega do esquecimento.

Com quantos anos a senhora se casou?


Tinha 17 anos e o Renan, 25. Éramos estudantes. Eu, secundarista, e ele fazia faculdade de direito. Quando fui para Brasília tinha 19 anos.

Qual o conselho a quem passa pela mesma situação?


Nunca tire conclusão em um primeiro momento. Converse muito. O amor vence tudo. Quem ama não mata.’


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