Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Software africano, mundialmente famoso em grandes tragédias, tem versão para monitorar eleições

Pressionados pelas consequências da generalização dos incêndios florestais, os europeus estão recorrendo em massa  uma tecnologia revolucionária que, acredite quem quiser, foi desenvolvida no Quênia em 2008, por uma jovem advogada e mãe de família. 


 


O programa Ushahidi (testemunha em swahili, o idioma nacional do Quênia)Ory Okolloh / Foto Wikipédia surgiu por acaso quando a advogada e ativista dos direitos humanos Ory Okolloh tentava desesperadamente obter informações sobre a crise provocada por conflitos entre grupos políticos rivais, há dois anos e meio.


 


Ela convocou amigos que entendiam de computadores e telefones celulares para procurar meios de obter informações. Ela tinha um blog que foi inundado por comentários de pessoas dando informações sobre atos de violência e assassinatos. Depois de virarem o sábado e o domingo, os amigos de Ory bolaram um sistema onde as pessoas não precisam ter acesso à Web, basta um celular, para enviar notícias.


 


O sucesso do Ushahidi na crise queniana foi tão grande que ele foi usado depois no terremoto do Haiti, em seguida no desastre ambiental do Golfo do México e agora é a tabua de salvação nos esforços para combater a ampliação dos incêndios em toda a Europa.


 


O segredo do sistema criado pela advogada queniana de 32 anos Home Page do Ushahidiusa telefone celular para transmitir informações de qualquer lugar, para uma central onde os dados são transferidos para um mapa digital que por sua vez cria instantaneamente uma visualização das dimensões do acontecimento. O mapa fica numa página web para acesso livre.


 


Na primeira vez que foi usado, o programa permitiu que os quenianos reportassem, quase que em tempo real, incidentes de violência em diversas partes do país. Tudo era feito por celular, já que os jornais pararam de circular, as rádios e a televisão fecharam ou estavam censuradas. Pela primeira vez na história, os cidadãos quenianos puderam estar na frente do governo em matéria de informação pública e consequentemente tomar decisões sem consultar as autoridades legais. 


 


Mais ou menos a mesma coisa aconteceu no Haiti, onde o colapso das instituições durante o terremoto de janeiro de 2010, deu aos sobreviventes que ainda tinham celulares ativos, o poder de usar celulares e construir de forma coletiva um mapa da tragédia, orientando as equipes de socorro.


 


No Golfo do México, o mesmo sistema foi usado para reportar novos focos de contaminação de praias do litoral da Louisiana, ganhando em rapidez e eficiência dos sofisticados equipamentos da marinha e da agência de proteção ambiental dos Estados Unidos. 


 


A simplicidade e eficiência do sistema da doutora Okolloh acabou sendo também a tábua de salvação de pequenas comunidades do interior de Portugal, Rússia e outros países afetados pela onda de incêndios florestais neste quentíssimo e seco verão europeu. O Ushahidi já é uma espécie de equipamento padrão para grandes tragédias como ferramenta rápida de comunicação e ajuda. Está sendo usado nas enchentes na China e no Paquistão.


 


Mas as suas aplicações vão além das emergências. Por se tratar de um sistema aberto, ele permite que as pessoas comuns possam usá-lo, sem ter muita intimidade com a tecnologia e sem acesso à internet. Como qualquer um pode navegar pela página do Ihsahidi, os cidadãos podem tomar decisões por conta própria com base em informações fornecidas por centenas de outros cidadãos.


 Projeto Eleitor 2010


Mais recentemente, os responsáveis pelo Ushahidi criaram um programa ainda mais simples para ser usado em emergências como ferramenta para recolher informações de interesse público nas mais diversas situações, como por exemplo monitoramento de eleições.  É o Crowdmap que pode ser também utilizado para recolher opiniões de pessoas isoladas, desde que elas estejam na área de cobertura de alguma rede de telefonia celular.


 

Aqui no Brasil, o projeto Eleitor2010 já está usando a plataforma africana para recolher informações de eleitores sobre o desenvolvimento da campanha presidencial.