Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

TV digital não é (só) tecnologia

Luís Nassif adverte hoje (11/1) na Folha que “está se montando [em torno da TV digital] uma farsa para justificar uma escolha fundamental”. Cita a posição da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura, para a qual o ponto crítico não é o padrão tecnológico mas “o que se pretende em um país continental, de baixo poder aquisitivo e alta taxa de analfabetismo”.


O Brasil foi o terceiro ou quarto país do mundo a ter televisão. Não sei dizer até que ponto Assis Chateaubriand sabia onde a criação da TV Tupi iria desembocar. Mas li depoimentos sobre a criação da TV Globo nos quais fica bem clara a consciência de que uma rede nacional de televisão, num país de baixas taxas de alfabetização e escolaridade, deveria ter grande papel educativo. Embora se possa afirmar que parte da programação da Globo deseduca, é inegável que a emissora sempre trabalhou tendo em vista uma função educativa. Que de fato desempenha. Ainda que seu móvel principal seja a audiência, que lhe traz receitas publicitárias. E que não se acanhe em transmitir, por exemplo, propaganda de cerveja dirigida a jovens na qual o argumento de venda são corpos de belas moças.


Não é possível pilotar temas tão grandiosos como esse da televisão digital sem uma visão das carências e expectativas da sociedade. Se predominar exageradamente a visão dos que estudam tecnologia e mercados, é alto o risco de se adotarem decisões questionáveis, com efeitos que serão lamentados por muitos e muitos anos.