Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Violência familiar é subestimada, diz leitora

A leitora Luciene Correia, que faz curso de pós-graduação em jornalismo social pela PUC de São Paulo, ficou indignada porque leu na Folha Online, ontem (112/3), uma manchete que não viu repercutir em nenhum outro meio de comunicação: “Polícia prende padastro e mãe suspeito de espancar menino à morte”


Bradou, em mensagem eletrônica para o Observatório da Imprensa: “Esses não são fatos isolados. É um problema social grave!!! É homicídio com altos índices de crueldade!!!”


Mandou em seguida um texto do qual selecionei as passagens abaixo:


“A violência familiar e a violência social são, com freqüência, tratadas isoladamente. Não somente isso, a violência familiar não é reconhecida como um problema e, por conta disso, não é alvo de discussões sérias e nem tampouco tratada de forma a ser erradicada”.


“É importante ressaltar que a autoridade dos pais na família deve ser fundamentada no respeito e não nas relações de poder exercidas pelos mais fortes sobre os mais fracos. Os pais fazem uso da necessidade que os filhos têm de seus cuidados e, com esse poder, manipulam a relação. O pátrio poder em relação à criança cria uma dependência ainda mais cruel ao passo que o filho fica à espera de amor, mas os pais podem decidir por conceder ou retirar esse sentimento, ou ainda transformá-lo em algo bem perverso”.


“Os pais são capazes de criar uma confusão imensa nos filhos quando maltratam e dizem que o fazem em nome do amor que sentem por eles. Nesse momento, as crianças chegam a relacionar a dor provocada pelos pais ao carinho que dizem sentir. A criança fica sem defesa pelo fato de tratar-se de alguém da família. Pois, se por um lado aprendeu a desconfiar de estranhos, por outro, disseram-lhe que ‘na família tudo é permitido’. O domínio sobre a criança pode ser exercido facilmente”.


“Muitos pais dizem crer que uma ‘simples palmadinha’ não é violência e que pode ser um recurso eficiente. No entanto, bater não passa de uma atitude equivocada de descarregar a tensão e a raiva em alguém próximo e que não pode se defender”.


“A violência doméstica contra crianças assume contornos nem sempre brutais e evidentes, ou seja, nem sempre deixam marcas físicas. Muitas vezes, são constantes agressões ‘cuidadosas’ – para não marcar, atitudes que humilham, gestos de raiva, negligência e outras violências sutis que também deterioram, destroem, estraçalham, ou, no mínimo, atrapalham o desenvolvimento da criança e deixam conseqüências drásticas, não só no corpo, mas principalmente nas lembranças”.