Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

“Um momento extremamente perigoso”

Amig@s,

Desde sexta feira (31/7/15) estou tentando encontrar palavras para transmitir meu sentimento com relação ao que está ocorrendo ultimamente no nosso Brasil e particularmente depois que uma bomba  foi arremessada ao local do Instituto Lula do qual sou diretora com muito orgulho e onde trabalhei anos a fio, antes mesmo de participar do governo federal nos dois mandatos de Lula.

Para mim, uma bomba atirada contra a sede do Instituto Lula (ou de qualquer outra instituição) é um ataque à democracia. Para mim, que fui criada por dois sobreviventes do nazismo e me formei politicamente na tradição trotskista, o ataque à democracia é indubitavelmente um ataque à humanidade, à liberdade.

Penso que se o desrespeito às pessoas (autoridades ou não), se o deboche dos seres humanos, se a zombaria do direito e dos direitos, se linchamentos e estupros, não despertam em nós preocupação e não nos levam à ação política, talvez estejamos vivendo um momento extremamente perigoso.

Muitos apontam nesses atos e atitudes um comportamento fascista. Provavelmente se trate mais de manifestações de brutalidade e ignorância do que de fascismo propriamente dito. Mas certamente o alastramento desses comportamentos pode sim levar ao enaltecimento e à consolidação de um rumo fascista.

Não faltou na Alemanha quem não se importasse com o ato de empurrar os comunistas para a ilegalidade em 1933 e com a chamada “solução final” em 1941/42 estruturada para exterminar o povo judeu . Não faltou também, na União Soviética quem achasse que era normal condenar, prender e inclusive matar, os dissidentes para supostamente garantir a revolução socialista.

Aos que nalguns órgãos de imprensa tentaram minimizar o episódio da bomba no Instituto Lula por se tratar de uma bomba caseira, observo que não faltam dispositivos caseiros com potencial letal e rememoro a tragédia provocada pelo “simples” envelope dirigido à OAB que matou a Sra. Lyda em 1980.  .

Não paro de pensar, cada vez que revejo as imagens, o que teria sido se alguém estivesse passando por lá no momento da explosão.

Por fim, reproduzo aqui o relevante alerta de Jânio de Freitas na Folha de hoje (02/8/15): “É bem possível que a bomba de agora seja vista, depois, como um ponto inicial.” E conclui gravemente com a frase: “Nem sugiro de quê”.

Clara Ant

P.S. Tomo a liberdade de anexar uma breve síntese dos 25 anos da existência do Instituto, incluindo os anos noventa quando era chamado de Instituto Cidadania. Faço parte dessa história, ajudei a coordenar vários projetos de políticas públicas inéditas como, por exemplo, o “Fome Zero” hoje reconhecido mundialmente.