Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A crise da meia-idade e o jornalismo

Não é novidade para ninguém: a crise pelo qual passa o jornalismo, agravada pela recessão do país nos últimos anos, resultou no encolhimento dos investimentos e dificuldade para se encontrar empregos. E, para completar a reviravolta, os profissionais jornalistas têm de enfrentar a mudança de modelo de seu ofício, se reinventar, para se adaptar aos meios de comunicação digital.

Eu ouço muita gente dizendo que essa é a hora de ser forte e criativo, de se requalificar, encontrar novas formas de exercer sua atividade jornalística, de acordo com os novos paradigmas. Por outro lado, sei de gente que desistiu, por ver seu amor ao jornalismo deixar de ser correspondido com o passar dos anos. Não os culpo.

Até onde devemos nos adaptar às mudanças de nossa velha paixão, que já não fala bonito como antes, não se veste da mesma maneira elegante e perdeu a sua altivez, para se transformar em uma figura cada vez mais vulgar e surrada? É correto ficar dando murro em ponta de faca, procurando se rebaixar a sua nova oratória, que já não corresponde àquilo que queremos e precisamos ouvir?

Muitos pensam ser traição mudar de atividade profissional depois de tantos anos, mas como não pensar nisso depois de nos submetermos a seguidos maus tratos, justamente por parte de quem tanto amávamos? Estaríamos sendo desleais ou foi o jornalismo que nos deixou falando sozinhos, enquanto saía por aí fazendo fofocas sobre atrizes da moda em sites de entretenimento?

Esses são questionamentos cada vez mais comuns, principalmente para as vítimas dos passaralhos nas redações com mais de 40 anos de idade, fase em que o jornalista deveria ser mais valorizado, por já ter acumulado bagagem e repertório suficientes para exercer qualquer função dentro da atividade. Diante de tamanha ingratidão de quem só teve nosso carinho por tanto tempo e não soube retribuir, tem muita gente questionando qual é o limite entre o amor e o masoquismo — uma linha muitas vezes difícil de ser enxergada.

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Roberto Schiavon é jornalista na cidade de Araraquara, interior de São Paulo.