Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Surpresa no desfecho da luta pelo controle de uma marca cobiçada

Seria a editora Nikkei um novo Axel Springer da Ásia? Seria o valor de 1,3 bilhão de dólares um preço tão absurdo quanto os 5 bilhões de dólares que Rupert Murdoch pagou pela Dow Jones? Como é que a guinada de Berlim para Tóquio não levou mais de 15 minutos? Serão as lições japonesas a principal ordem do dia no nº 1 da Southwark Bridge [edifício-sede do grupo Financial Times] a partir da semana que vem?

A aquisição do Financial Times pela editora Nikkei significa uma pequena bomba nos negócio jornalísticos globais. Embora especulássemos sobre compradores do FT (em minha coluna Economia e informação de quarta-feira, por exemplo: quanto vale o Financial Times e quem o poderia comprar?), o nome da Nikkei não constava da lista de ninguém. No entanto, mereceu ser destacada na lista de Pearson, um dos proprietários: uma companhia de jornalismo de confiança.

Essa história traz à luz muitas questões. Vamos fazer um pequeno exercício de pergunta-e-resposta com algumas das mais importantes.

O que é que aconteceu entre Londres, Berlim e Tóquio?

“Londres está chamando e com notícias ruins.” É inconcebível como Axel Springer deve ter ficado aturdido. O chefe dos chefes da mídia na Alemanha achava que tinha fechado um acordo, depois de um ano de conversas, mas aí entrou boi na linha. A equipe de jornalistas do FT começou por dizer que Springer seria o comprador “duas pessoas próximas às negociações haviam dito que a empresa alemã não sabia que tinha sido enganada pela Nikkei até 15 minutos de ser anunciado o acordo da empresa japonesa com Pearson”. Temos que esperar para conhecer os detalhes mais suculentos daquilo que parece ter sido quase um leilão ao vivo.

O que ficou claro é que Springer perdeu uma oportunidade única na vida de reposicionar a empresa como uma central de energia da mídia, o que o CEO Mathias Döpfner havia anunciado como um objetivo (“O que é que eles estão pensando? Oito princípios para a transformação de Axel Springer por Mathias Döpfner”). Springer irá procurar novas oportunidades – e continuar com as conversas visando à fusão com a ProSieben, a maior rede privada de televisão na Alemanha.

Teria Springer tido a oportunidade de subir a proposta, ou seria esta uma questão de disciplina de preço por parte de Döpfner? Por que teria a Nikkei sido a primeira a cruzar a linha de chegada?

É claro que o dinheiro poderia ter sido decisivo, mas os relacionamentos têm um peso, mesmo nestes negócios gigantescos, como destaquei ontem. Em março de 2013, com muito pouco destaque, o Financial Times e a Nikkei tinham fechado uma parceria de múltiplas facetas. Ela cobria um processo de deslocar seu blog, seu site ou o conteúdo de seu vídeo para os sites de terceiros, seja como um artigo na íntegra, como um trecho de um texto ou um link [content syndication é a expressão em inglês], concessão de licenças, treinamento, negócios com a China e outras coisas. O CEO do Financial Times, John Ridding, tem uma relação muito forte com os executivos da Nikkei. Há que levar em conta o fator conforto, como me disse um funcionário do FT da velha guarda: “Para o alto escalão, é o mais vantajoso possível.”

Os executivos do Financial Times já conhecem seu novo patrão e provavelmente gostarão mais do CEO do grupo Nikkei, Tsuneo Kita, do que do CEO de Pearson, John Fallon, cujas estratégias centralizadoras irritaram profundamente a cultura e as operações (um bom texto sobre a cultura Nikkei foi publicado no Guardian).

Nota da redação: Em obediência aos princípios do fair use, publicamos apenas o início do texto. Os interessados em ler a versão integral em inglês podem acessar o link http://www.niemanlab.org/2015/07/newsonomics-eight-questions-and-answers-about-nikkeis-surprise-purchase-of-the-ft/

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Ken Doctor é jornalista do Nieman Lab