Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Deu na mídia

Demorou , mas as delações premiadas chegaram até a imprensa. A pedido do ministro Guido Mantega, a Odebrecht fez dois empréstimos para a Editora Confiança, responsável pela revista Carta Capital. Explicação do delator e executivo da Odebrecht, Paulo Cesena: “Entendi que esse aporte financeiro tinha por finalidade atender solicitação do governo federal/ PT, pois essas pessoas eram ligadas ao partido”. Declaração da publisher da revista, Manuela Carta: “Foi uma operação normal de mercado”. Das surpresas e contradições da mídia nos últimos tempos sobram perplexidades. É para duvidar? Para rir? Chorar? Refletir? “Não existe crise política…o que existe em Brasília é uma crise ética, moral” (Veja, 21/12).

Jaques Wagner , do PT da Bahia, confirmou ter recebido da Odebrecht um relógio de U$20 mil. Mas o ex-ministro da Casa Civil de Dilma justifica-se assim, “guardei e nunca usei”. Outro delatado, o ex-deputado Inaldo Leitão, reagiu nas redes sociais depois de entrar na lista da Odebrecht…não contra a inclusão de seu nome mas pelo codinome que recebeu, Todo Feio.

Deu na mídia que, em carta ao Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Michel Temer também reclamou: “A ilegítima divulgação das delações atrapalha o governo”

Como política existe no espaço entre a lei e a guerra ( Folha, 19/12) Renan Calheiros juntou-se ao time da guerra Legislativo X Judiciário e acusou Janot de estar “fazendo política” e apresentar “denúncias nas coxas”. O presidente do Senado, em seus últimos dias, criticou o abuso de autoridade do Supremo Tribunal Federal ,depois de desrespeitar uma ordem judicial, e em seguida, sem que ninguém entendesse nada, afirmou “decisão judicial do Supremo é para se cumprir”.

O STF também se insurgiu contra o STF . Gilmar Mendes, da Suécia, chamou o colega Marco Aurélio Melo de “doido” e “inimputável” no caso da retirada de Renan da presidência do Senado, e declarou achar as liminares de outro colega, Luís Fux, ” muito esquisitas “, quando anulou no Congresso a votação que desfigurou o pacote anticorrupção, no qual só sobraram duas das dez medidas aprovadas . Segundo Carmem Lucia, ” é preciso cuidado para que a dificuldade não se torne tempestade; a tempestade em desesperança; a desesperança em desespero; o desespero em raiva; e a raiva, em fúria”.

Fúria de todo lado. O Ministério Público Federal denuncia e Sérgio Moro acolhe a quinta denúncia contra  Lula por corrupção. “Todos sabiam que o apartamento pertencia a Lula”, diz o ex-zelador do Condomínio Solares, em Guarujá ( Ricardo Noblat,Globo 19/12). O Instituto Lula afirma” o apartamento nunca foi de Lula no Guarujá, o terreno não é nem nunca foi do Instituto Lula”. ” “Fora ,Temer”, escreve Mário Sergio Conti na Folha de 13/12, “os cleptocratas não valem a tintura acaju que lhes colore o topete e o Viagra que lhes corre nas veias”. “Dentro, Temer”, escreve Reinaldo Azevedo , também na Folha três dias depois, “seria demasiado escrever aqui que você não deve acreditar na imprensa”.

Guerra e fúria no Rio de Janeiro , a imprensa informa, os leitores deitam e rolam com comentários . A Cidade Maravilhosa que, segundo Dorrit Harazim ( Globo de 11/12 ), viu a felicidade roubada, faliu por extrema corrupção dos seus dirigentes mas ,para remendar ,o estado elevou impostos como o ICMS. Aumenta o preço da energia elétrica, cerveja, chope, combustível, telecomunicações e cigarro. O choppinho vai pagar as joias da ex-Primeira Dama Adriana Ancelmo que viajou 6O vezes ao exterior em sete anos e em apenas um hotel em Londres gastou R$90 mil.

No Rio, para engordar o cordão dos acusados, foi preso o presidente do Tribunal de Contas, órgão que existe para fiscalizar as contas públicas e garantir a moralidade dos atos. Jonas Filho é suspeito de comandar um esquema de propinas.  Ainda no Rio , quando ainda era capital, foram emprestadas ao governo federal  48  obras de arte enviadas ao Palácio do Planalto e só agora voltam ao lugar de onde nunca deveriam ter saído, o Museu Nacional de Belas Artes. Guignard, Portinari, Visconti, Maria Leontina, Djanira fizeram a viagem volta ,.60 anos, depois para deleite do público ou dos avós do público que deveria ter visto as obras em 1956.

No lançamento do livro de Nélida Piñon no Rio, Vera Fischer surpreendeu. Tem gente como Raduan Nassar que leva uma vida para produzir obras primas como “Lavoura Arcaica” e “Um Copo Cheio de Cólera “, mas a atriz declarou ter 10 livros prontos, ” romances, contos, exercícios de autobiografia…” o que levou a coluna de Ancelmo Góis (Globo de quarta 14/12) a prever: ” ainda acaba na ABL”
O deputado Ricardo Izar(PP/SP) relator do caso de Jean Wyllis(PSOL-RJ) no Conselho de Ética da Câmara, recomendou a suspensão de quatro meses do mandato do parlamentar. Motivo: Wyllis cuspiu em Jair Bolsonaro(PSC-RJ) na sessão de impeachment de Dilma. Wyllis reagiu, “ele me chamou de ‘queima rosca’, ‘bichinha’, ‘veadinho'”… tudo isso no Congresso.

As páginas do ridículo

O Rio está mal e o prefeito eleito e pastor, Marcelo Crivella ,só conta com um aliado, “Deus vai ajudar a fazer o impossível “. Já o pastor carioca Silas Malafaia teve outro destino para Deus na sua Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que projeta multiplicar pelo país: Recebeu R$100 mil, não sabe de quem, mas são suspeitos de fraudar créditos para exploração mineral. O pastor diz ser alvo de retaliação e que a condução coercitiva ” é uma safadeza”.

Não é só o Rio que está nas páginas do ridículo.  “Algum dia, quem sabe, todos os brasileiros poderão usar polo Ralph Lauren”, disse o prefeito eleito de São Paulo, João Doria. Sua mulher, a artista plástica Bia Doria, perguntou “o Minhocão hoje, para que serve?…quase nunca fui lá. É um tipo de viaduto, né?” . Na entrevista onde chegou a bordo de um Porsche, a futura Primeira -Dama paulista continuou, “só o que os pobres querem é um abraço “

Deu no Washington Post: “Brazil’ poor just ” want a hug”: wealthy politician’s wife ridiculed for interview from Porsche(Os pobres brasileiros só querem um abraço: a mulher de um politico rico é ridicularizada por dar entrevista num Porsche) . Bia continuou ” “Sempre me senti uma Evita Perón, porque eu sou mais do povo, eu me sinto do povo”.

A disputa São Paulo x Rio que dura uma eternidade parece ter terminado graças à Rocinha. Agora a favela mais famosa do Rio é comandada por paulistas, a facção de traficantes chefiada por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. A rivalidade das duas cidades termina assim, São Paulo liderando, Deus ao lado de Crivella e uma grande quantidade de fuzis. Deu tudo na mídia.

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Alberto Dines