Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A explosão do poder simbólico e de signos

Este estudo tem como objetivo analisar a presença e utilização do Poder Simbólico, assim como a desconstrução, criação e recriação de Signos pelos atores nas Redes Sociais. Também, como esse processo afeta a produção e consumo do “Eu”, objeto que vem sendo tratado em diversos estudos na área da comunicação. As análises se justificam em função da utilização cada vez maior da internet e, por conseguinte, das redes sociais. Mas, principalmente, dos atores que são praticamente máquinas motrizes desses meios que proporcionam interação social e, atualmente, movimentam diversos tipos de valores não exclusivamente monetários e de crenças. A intenção deste estudo é de enriquecer as demais pesquisas neste campo com a inserção de alguns pontos que ainda não foram abordados quanto ao tema de redes sociais.

Introdução

Para dar início a análise de algumas questões que serão abordadas neste estudo faz-se necessário o conhecimento de alguns conceitos como, por exemplo, o de Redes Sociais, que conforme Wasserman e Faust, 1994; e Degenne e Forse, 1999, citados na obra Redes Sociais na Internet, de Rachel Recuero, “é definido como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)”. Antes de qualquer coisa, conforme Recuero, o advento da internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. Entre essas mudanças, temos algumas fundamentais. A mais significativa, para este trabalho, é a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediada pelo computador (CMC). (RECURDO, 2009, p. 24).

Contudo, o principal foco deste conceito é o resultado da construção de atores ou a interação e comunicação de um ator com outros atores. Ou seja, os rastros que são deixados por eles na rede de computadores. Pois, esse processo de acordo com (Recuero, 2009), permite “o reconhecimento dos padrões de suas conexões e visualização de suas redes sociais através desses rastros”. Dessa forma, podemos ampliar para os elementos que constituem as redes sociais na internet como os atores, ou seja, “são o primeiro elemento da rede social, representados pelos nós (ou nodos)”, segundo Recuero, também, “atuam de forma a moldar as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais”, que neste caso conforme Wellman (2001, p.7), define-os:

Laços consistem em uma ou mais relações específicas, tais como proximidade, contato frequente, fluxos de informação, conflito ou suporte emocional. A interconexão destes laços canaliza recursos para localizações específicas na estrutura dos sistemas sociais. Os padrões destas relações à estrutura da rede social – organiza os sistemas de troca, controle, dependência, cooperação e conflito.

Já de acordo com Brieger (1974, p. 183-185), que, “inspirado nos trabalhos de Goffman (1975), explica que laço social também pode ser constituído de outra forma: através de associação”. Como explica Recuero 2009, “a conexão entre um indivíduo e uma instituição ou grupo torna-se um laço de outra ordem, representado unicamente por um sentimento de pertencimento”. Por conseguinte, as conexões são ainda segundo Recuero, “constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através da interação social entre os atores”. A partir desta linha de raciocínio, haja vista, a forma como as estruturas sociais se dão em função da geração de fluxo de informações e trocas sociais que podemos falar sobre o Efeito Halo no contexto de pós-modernidade.

Efeito halo no contexto de pós-modernidade

As Redes Sociais são plataformas em que os atores estão em constante “Efeito Halo”. Mas não de acordo com o conceito clássico levantado em 1920, pelo psicólogo norte-americano, Edward Lee Thorndike, para o que é abordado neste estudo. Neste caso, a variação na interferência do resultado não tem tempo determinado e nem um lado específico. Thorndike afirmava que o “Efeito Halo” “é a possibilidade de que a avaliação de um item possa interferir no julgamento sobre outros fatores, contaminando o resultado geral. Por exemplo, nos processos de avaliação de desempenho o efeito halo é a interferência causada devido à simpatia ou antipatia que o avaliador tem pela pessoa que está sendo avaliada”. Pois, o Poder Simbólico e a utilização, desconstrução, criação e recriação de signos permitem que os atores no campo de redes sociais quebrem a barreira vertical do “Efeito Halo” e até mesmo a inverta, sem que haja um tempo pré-definido. Os atores de acordo com Raquel Recuero:

“são o primeiro elemento da rede social, representados pelo nós (ou nodos). Trata-se das pessoas envolvidas na rede que se analisa. Como partes do sistema, os atores atuam de forma a moldar as estruturas sociais” (RECURDO, 2009, p. 25).

Isso, em função da relação e interação social se dar a distância, ou seja, mediada pelo advento do computador e, por conseguinte, das redes sociais e o uso que os atores fazem desses meios. Assim, os atores dentro destes campos que muitas vezes se interligam um com os outros, obtêm a confiança ou não de outros atores em função da necessidade de cultivar e sustentar suas crenças e valores. O que Sibila (2008) destaca:

“Por um lado, parece que estamos diante de uma verdadeira ‘explosão de produtividade e inovação’. Algo que estaria apenas começando, segundo a Time, ‘enquanto milhões de mentes que de outro modo teriam se afogado na escuridão ingressam na economia intelectual global’. Até aí, nenhuma novidade: já foi bastante comemorado esse advento de uma era enriquecida pelas potencialidades das redes digitais, sob bandeiras como as da cibercultura, da inteligência coletiva e da reorganização rizomática da sociedade. Por outro lado, convém dar ouvidos também a outras vozes, nem tão deslumbradas com as novidades e mais atentas para seu lado menos luminoso. Tanto na internet quanto fora dela, hoje a capacidade de criação é sistematicamente capturada pelos tentáculos do mercado, que atiçam como nunca essas forças vitais e, ao mesmo tempo, não cessam de transformá-las em mercadorias. Assim, o seu potencial de invenção costuma ser desativado, pois a criatividade tem se convertido no combustível de luxo do capitalismo contemporâneo: seu ‘protoplasma’, como diria Suely Rolnik” (Sibila, 2008, p. 10).

Inerente a isso, pode-se afirmar que os atores subjetivamente se apropriam e se comunicam fazendo uso do poder simbólico. Assim, dentro das estruturas montadas pelos atores nas redes sociais há uma hierarquia que, teoricamente, hoje, é de uma ordem, mas que, amanhã, pode ter outra.

Poder simbólico nas redes sociais

Por meio de formas simbólicas os atores nas redes sociais podem perpetuar uma determinada estrutura social, criar novas estruturas e até mesmo alterá-las, como explica Thompson:

“Poder simbólico é a capacidade de intervir no curso dos acontecimentos, de influenciar as ações e crenças dos outros e, na verdade, de também criar acontecimentos, através da produção e transmissão de formas simbólicas. Ou seja, utilizar o acúmulo de prestígio, reconhecimento e respeito que lhe foram atribuídos, por exemplo, a reputação, que além de ser considerada um atributo é, também, um recurso muito utilizado no campo político, enquanto forma de poder simbólico” (THOMPSON, 2002, p. 132).

Desse modo, no campo de Redes Sociais, mobilizar compromissos, estabelecer ou renovar elos de confiança, se esforçar para mobilizar simpatizantes e persuadir atores, mesmo que haja diferenças de ideias e ideais, o objetivo será sempre o mesmo dentro deste conceito de campo de Redes Sociais. Bordieu, em sua obra O Poder Simbólico, fala do cuidado que se deve ter ao aplicar ideias oriundas de um dado contexto cultural a outros, apontando para as suas implicações: riscos de ingenuidade e simplificação. Entretanto, ele fala de algo que está em toda parte e é ignorado: o poder simbólico. “… o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo o exercem.” (p. 8). Bourdieu cita os neo-kantianos e o tratamento dado por eles aos diferentes universos simbólicos: mito, língua, arte, ciência. Para eles, cada um desses instrumentos constitui-se num instrumento cognoscente e de construção do mundo objetivo. Ele faz referência a Durkheim e à sua tentativa de elaborar ciência, sem empirismo e apriorismo, como o primeiro passo na inauguração de uma “sociologia das formas simbólicas.” “Nesta tradição idealista, a objetividade do sentido do mundo define-se pela concordância das subjetividades estruturantes (senso = consenso).” (p. 8). Ainda conforme Bordieu, a análise estrutural seria capaz de analisar a apreensão de cada uma das “formas simbólicas”, a partir do isolamento da estrutura imanente a cada produção simbólica, privilegiando as estruturas estruturadas. Para ilustrar, ele cita o linguista Ferdinand Saussure, fundador desta tradição, e a representação que ele faz da língua:

“… sistema estruturado, a língua é fundamentalmente tratada como condição de inteligibilidade da palavra, como intermediário estruturado que se deve construir para se explicar a relação constante entre som e sentido” (p. 9).

Neste caso, a eficácia desse sistema só é possível, porque ele próprio é estruturado. Ou seja, o poder simbólico constrói a realidade e estabelece uma ordem do conhecimento humano, natureza e seus limites do ato cognitivo, o sentido imediato do mundo e, em particular, do mundo social supõe aquilo que Durkheim chama o conformismo lógico, ou seja,

“uma concepção homogênea do tempo, do espaço, do número, da causa, que torna possível a concordância entre as inteligências” (p. 9).

Segundo Bourdieu, Durkheim afirma que a função social do simbolismo é política, não se realizando a função de comunicação. “Os símbolos são instrumentos por excelência da ‘integração social’: enquanto instrumentos do conhecimento e de comunicação, eles tornam possível o consenso acerca do sentido do mundo social que contribui, fundamentalmente, para a reprodução da ordem social: a integração ‘ilógica’ é a condição da integração ‘moral’.” (p. 10). O autor ainda cita a ênfase nas funções políticas que os sistemas simbólicos têm, em detrimento da sua função com relação a essa ordem do conhecimento humano, natureza e seus limites do ato cognitivo. Mas, ao contrário do que afirmava Bourdieu, de que “os símbolos seriam produzidos para servir à classe dominante”, neste caso, os agentes do campo de redes sociais desconstroem, criam, recriam, se apropriam e pertencem a determinados símbolos e signos. Entretanto, antes de abordarmos essa questão faz-se necessário o conhecimento sobre a ruptura de cultura que os atores proporcionam em função do advento da internet e, por conseguinte, por meio dos computadores.

Capital de valor quanto à moeda corrente de informação

O que melhor explica a questão de Poder Simbólico nas Redes Sociais é o conceito de capital social, em que Bordieu (1982), na obra The forms of capital, aborda três tipos que transitam nas relações on-line: o capital econômico, o cultural e o social. Entretanto, há outro capital sugestionado e que sustenta esses três pilares pelo menos no campo de redes sociais que é o capital simbólico, como vimos acima. De acordo com Bordieu (1983),

“Em meio aos três, há o capital simbólico, capaz de legitimar a posse de cada tipo de capital como um recurso” (Bordieu, 1982, p.58).

Conforme Recuero (2009), “o capital social em Bordieu é diretamente relacionado com os interesses individuais, no sentido de que provém de relações sociais que dão a determinado ator determinadas vantagens. Trata-se de um recurso fundamental para a conquista de interesses individuais”.

Redes sociais e a ruptura de culturas

Os atores nas redes sociais são caracterizados acima de tudo pela bagagem cultural que adquiriram ao longo dos anos dentro de um contexto social e antropológico. Seja pela educação que receberam ou deixaram de receber, pelas suas vivências, assim como experiências adquiridas. Um indivíduo mesmo que tenha nascido, sido criado e vivido na zona urbana, rural, em um povoado ou tribo tem uma linha de experiência e conhecimento peculiar que segue de acordo com o local, ou seja, com aquela determinada sociedade e, por conseguinte, aos seus ditames. Conforme a filósofa Marilena Chauí,

“A cultura é a criação coletiva de ideias, símbolos e valores pelos quais uma sociedade define para si mesma o bom e o mau, o belo e o feio, o justo e o injusto, o verdadeiro e o falso, o puro e o impuro, o possível e o impossível, o inevitável e o casual, o sagrado e o profano, o espaço e o tempo. A Cultura se realiza porque os humanos são capazes de linguagem, trabalho e relação com o tempo. A Cultura se manifesta como vida social, como criação das obras de pensamento e de arte, como vida religiosa e vida política” (CHAUÍ, 2000, p. 61).

Mesmo que inúmeras culturas e sociedades sejam diferentes entre si, o advento da internet cada vez mais estreita laços entre os atores, que além de proporcionar o compartilhamento de experiências possibilita também à quebra, assimilação e construção de uma nova ordem cultural. No entanto, mesmo que a permissão não seja tratada como uma exceção. O funcionamento de um paradigma se dá em função da fusão entre pontos de vista diferentes quanto a um objeto e a tolerância que se tem sobre a mudança de sua forma original. Esse processo contribui para a permissão. Ou seja, em um local acostumado com determinadas regras, onde não há a defesa de uma visão diferente que busque alternativas e mudanças de um determinado processo, mas quando há essa defesa, a estrutura montada para a realização de determinada ação é barrada, justamente, pela falta da soma de tolerância por parte do “sistema” frente ao ponto de vista sugerido. Ou seja, o que é errado para um, pode ser certo para outro. Tudo depende do ponto de vista e da tolerância que se tem quanto à mudança. Porém, a real conquista por meio das redes sociais nunca acontecerá. Nada na história do Brasil, especificamente, marca uma conquista do povo. Conhecemos a palavra “conquista” maquiada pela “permissão”. Tudo na História do Brasil se deu pelo fato de ter sido cedido o direito, lógico, pelo poder e seus interesses e interessados. Por outro lado, as relações estipuladas nas redes sociais não são exclusivamente de reivindicação, mas, inerentes à tolerância de outros atores frente a um novo ponto de vista. No contexto de pós-modernidade, eis um exemplo de ruptura de cultura.

Produção e consumo do “eu” nas redes sociais

Por outro lado, o termo “Cultura do narcisismo” foi criado no final da década de 70, pelo antropólogo americano Christopher Lasch. Ele fala sobre um recrudescimento do individualismo característico da Modernidade. Sem esperança no futuro ou na política, o homem contemporâneo definitivamente teria mergulhado na busca por um prazer imediato e desvinculado de qualquer sentido coletivo. O consumismo é uma das expressões mais diretas desta cultura. Apesar de Döring (2002) ter analisado o fenômeno da construção da identidade na internet por meio de páginas pessoais, de acordo com Recuero (2009), “há a sugestão de que os websites pessoais eram apropriações individuais do ciberespaço, como forma permanente de construção de si, dentro do foco da pós-modernidade”. O que Döring (2002) sugere também é a constante atualização dos atores, o que nos remete ao conceito outrora citado referente ao Efeito Halo nas redes sociais, como ela explica abaixo:

“O comum aos conceitos de ‘identidade cultural’, ‘identidade narrativa’, ‘self múltiplo’, ‘self dinâmico’ e ‘self dialógico’ é o foco da construtividade, mudança e diversidade. Precisamente os aspectos que são encontrados nas páginas pessoais. A página pessoal está sempre ‘em construção’, pode ser regularmente atualizada para refletir as últimas configurações do ‘self’” (Döring, 2002, online).

O investimento sobre a própria imagem vem ganhando dimensões menos imaginárias e mais reais. Devido à capacidade do ser humano de perceber, pensar, avaliar, agir e de acumular experiências, portanto, criou-se a cultura, um conjunto de conhecimentos, valores e crenças. Ela é compartilhada nas redes sociais e está sempre em constante mutação. Não menos diferente, porém, em outro contexto, mesmo que na modernidade, Friedrich Nietzsche, na obra Humano Demasiado Humano, previa em a Era da Comparação:

“Quanto menos os homens estiverem interligados pela tradição, tanto maior será o movimento interior dos motivos, e tanto maior, correspondentemente, o desassossego exterior, a interpenetração dos homens, a polifonia dos esforços. Para quem ainda não existe, atualmente, a rígida obrigação de ligar a si e a seus descendentes a um lugar? Para quem ainda existe algum laço rigoroso? Assim como todos os estilos de arte são imitados um ao lado do outro, assim também todos os graus e gêneros de moralidade, de costumes e de culturas. Uma era como a nossa adquire seu significado do fato de nela poderem ser compradas e vivenciadas, uma ao lado da outra, as diversas concepções do mundo, os costumes, as culturas; algo que antes, com o domínio sempre localizado de cada cultura, não era possível, em conformidade com a ligação de todos os gêneros e estilos ao lugar e ao tempo” (Tradução de Menschliches, Allzumenschliches, Ein Buch Für Freie Geister (1878, 1886) por SOUZA, Paulo; da obra Humano Demasiado Humano, de Friedrich Nietzsche (2000, p. 31)).

Para tanto, como já levantado por Lúcia Santaella, em seu livro Culturas e Artes do Pós-Humano – Da Cultura das mídias à cibercultura, “a cultura midiática propicia a circulação mais fluida e as articulações mais complexas dos níveis, gêneros e formas de cultura, produzindo o cruzamento de suas identidades. Inseparável do crescimento acelerado das tecnologias comunicacionais, a cultura midiática é responsável pela ampliação dos mercados culturais e pela expansão e criação de novos hábitos no consumo de cultura” (p. 59).

Desconstrução, criação e recriação de signos

Apesar de não existir uma resposta que explique na sua totalidade o significado de signo, assim como nem todos os teóricos preferem utilizar essa palavra, conforme Stephen W. Littlejohn, “podemos dizer que signo é um estímulo que se considera representar algo diferente dele mesmo”. (p.89). Portanto, de acordo com o ponto de vista do filósofo e sociólogo Charles Morris, “um signo funciona produzindo no organismo aptidão para responder.” Neste caso, dentro da linguagem verbal, Morris criou alguns rótulos para vários aspectos desse processo:

Intérprete: “Qualquer organismo para o qual algo é um signo.”

Interpretante: “A disposição num intérprete para responder, por causa do signo.”

Denotatum: “Qualquer coisa que permita a conclusão das sequencias de resposta a que o intérprete está disposto por causa de um signo (…) Diz-se que um signo caracteriza e marca um denotatum.”

Significatum: “Aquelas condições que são de tal natureza que seja o que for que as preencha como denotatum será denominado o significatum de um signo. Diz-se que o signo significa um significatum; a frase ‘ter significação’ pode ser considerada sinônima de ‘significar’”.

Um exemplo simples e no condicionamento clássico: é quando um cão é ensinado a responder a uma sineta como sinal de alimento. Quando soa a sineta condicionada, o cão prepara-se para comer. Morris afirma que a sineta se converteu num sinal. Nesse exemplo, o cão é o intérprete e sua prontidão para o alimento, interpretante. Como a presença do alimento permitiria ao cão comer, o alimento é o denotatum (assinalado pela sineta). A qualidade comestível do alimento é o significatum (significado pela sineta). Suponhamos em nosso segundo exemplo, que a mãe diz a seu bebê, que está ensaiando os primeiros passos: “Vamos apanhar alguns brinquedos.” A palavra brinquedos é o sinal. A criança é o intérprete e a sua disposição de ir até à caixa dos brinquedos é o interpretante. A presença dos brinquedos na caixa é o denotatum; e o fato de se poder brincar com eles é o significatum. (LITTLEJOHN, P. 90 E 91).

Haja vista a explicação supracitada, podemos agora abordar a questão da codificação por meio das interações em redes sociais, seja por meio verbal e não-verbal, respectivamente. Logo, a linguística, ou estudo da língua, é uma das mais importantes áreas teóricas relacionadas com a comunicação humana. Dessa forma, importante também neste estudo é o fator representacional, porque além da projeção e repercussão da desconstrução, criação e recriação de signos nas redes sociais há as diversas alterações nas estruturas sociais e nas conexões, em função dos estímulos provocados pelos atores. Contudo, frente à teoria de Charles Osgood:

“O nível representacional é aquele em que se dá o significado. O estímulo proveniente do meio ambiente é projetado no cérebro e, nesse ponto, uma resposta interna leva a um estímulo interno (significado) que, por seu turno, conduz à resposta do indivíduo. A resposta interna, ou significado, é uma associação aprendida entre certas respostas concretas ao objeto e um signo do objeto. Assim, o signo (talvez uma palavra) produzirá certo significado ou conjunto de significados, o qual promana da associação do signo e do objeto” (apud. LITTLEJOHN, P. 99).

Ainda conforme Charles Osgood, na linguagem verbal existe um padrão comportamental ou um enfoque de aprendizagem que influenciam na aquisição linguística, que considera a linguagem como um produto de associações (condicionamento clássico) e, também, um reforço (condicionamento instrumental) no meio ambiente. O paradigma clássico, incluído na teoria de Osgood, determina que as palavras passam a ter significados por associações com objetos ou outras palavras ou signos previamente condicionados. Como nas redes sociais lidamos com a linguagem verbal e não-verbal, de acordo com Randall Harrison:

“O termo ‘comunicação não-verbal’ tem sido aplicado a uma vasta gama de fenômenos, desde a expressão facial e os gestos até à moda e aos seus símbolos de status, desde a dança e o teatro até à música e á mímica, desde o fluxo de sentimentos e emoções até o fluxo de tráfego, desde a territorialidade de animais até o protocolo dos diplomatas, desde a percepção extra-sensorial até os computadores analógicos, e desde a retórica das dançarinas topless” (LITTLEJOHN, P. 107).

Contudo, podemos entender que signo não-verbal é qualquer outro signo que não a língua falada ou escrita, aquele usado para representar alguma coisa que não ele próprio, sendo assim, o mesmo conceito de signo outrora falado neste estudo. Porém, no contexto atual em que o avanço tecnológico é iminente, se torna intrínseca a influência da velocidade de comunicação na conduta dos atores e suas significações e ressignificações.

Velocidade de informação na pós-modernidade

Na era digital, em que cada minuto on-line é efêmero quando falamos de produção e consumo, temos um novo paradigma. Os atores nas redes sociais que consomem, ou seja, os consumidores não são mais passivos na comunicação. Pelo contrário, o principal fator para a constante mutação de signos e símbolos é a velocidade e amplitude dos espaços virtuais, assim como as trocas de informações e relações sociais, em que os atores se posicionam de forma cada vez mais ativa. Essa liberdade – mesmo que restrita em vários países – permite articulações tanto por parte dos consumidores, quanto pelos produtores e fabricantes de conteúdos. Essa constante troca caminha em uma linha tênue que permite ora mudanças benéficas, ora maléficas aos consumidores e produtores. Cabe a eles em suas organizações por meio das redes sociais a tolerância ou manifestações referentes ao objeto em questão. No entanto, é imprescindível focar no que tange a obra Vida de Consumo escrita por Zygmunt Bauman, quanto aos desejos, “advento do consumismo que augura uma era de “obsolescência embutida” dos bens oferecidos no mercado e assinala um aumento espetacular na indústria e remoção do lixo”.

“A instabilidade dos desejos e insaciabilidade das necessidades, assim como a resultante tendência ao consumo instantâneo e à remoção, também instantânea, de seus objetos, harmonizam-se bem com a nova liquidez do ambiente em que as atividades existenciais foram inscritas e tendem a ser conduzidas no futuro previsível. Um ambiente líquido-moderno é inóspito ao planejamento, investimento e armazenamento de longo prazo. De fato, ele tira do adiamento da satisfação seu antigo sentido de prudência, circunspecção e, acima de tudo, razoabilidade. A maioria dos bem valiosos perde seu brilho e sua atração com rapidez, e se houver atraso eles podem se tornar adequados apenas para o depósito de lixo, antes mesmo de terem sido desfrutados” (BAUMAN, 2007, p. 45).

Os atores já identificam as redes sociais como uma plataforma em constante mutação e que, por conseguinte, também possibilita uma espécie de espelho, cujas atividades desenvolvidas nesses campos podem gerar mudanças nos padrões comportamentais e culturais em outros campos que não sejam virtuais. Uma ação em rede social pode representar manifestações em um ambiente físico e vice-versa, mas o que realmente impressiona é a utilização de novas tecnologias que tornam cada vez mais instantâneos a repercussão de fatos que até pouco tempo só seria possível ter conhecimento em questão de minutos e horas. Neste avanço que Sodré (2002), destaca o que seria o “turbocapitalismo”:

“As novas tecnologias apoiam e coincidem, em termos econômicos, com a extraordinária aceleração da expansão do capital (o ‘turbocapitalismo’) esse processo tendencial de transnacionalização do sistema produtivo e de atualização do velho liberalismo de Adam Smith a que se vem chamando de ‘globalização’ e cuja autopropaganda, atravessada pela ideologia do pensamento único, lhe atribui poderes universais de uniformização. Na realidade, esta última característica é mais postulado do que fato, uma vez que a globalização mostra-se claramente regional (os investimentos concentram-se em determinadas regiões do mundo) no seu modo de ação. Global mesmo é a medida da velocidade de deslocamentos de capitais e informações, tornados possíveis pelas teletecnologias – globalização é, portanto, um outro nome para a ‘teledistribuição’ mundial de pessoas e coisas” (SODRÉ, 2002, p. 12).

Considerações Finais

Curiosamente podemos concluir que a presença e utilização do Poder Simbólico pelos atores nas redes sociais, ao contrário, mas não dissonante ao levantado conceito de Antropologia do Espelho, por Muniz Sodré, se dá também em relação a uma Antropologia do Medo nas Redes Socais e fora delas. O avanço galopante das tecnologias induz a desconstrução, criação e recriação de Signos pelos atores que no fim, esse processo se torna tão veloz quanto o aprimoramento dos novos aparatos tecnológicos. Esse “turbocapitalismo” não apenas influencia na produção e consumo do “Eu”, como um objeto, mas, também quanto à personificação virtual de uma ideologia, heróis e anti-heróis. O movimento de diversos tipos de valores e crenças, por conseguinte, quebra barreiras que outros meios de comunicação até então não permitiam. Atualmente, uma hierarquia que é seguida fora do âmbito virtual e de redes sociais pode ser insignificante dependendo da influência que se tem dentro delas. As avaliações e os resultados que temos hoje de um objeto na virtualidade já não segue mais tempo e espaço, pois tanto os objetos, quantos os atores estão em constante mutação e explosões do Poder Simbólico e de Signos nas redes sociais.

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Gustavo Rodrigues Nunes é jornalista e pós-graduando em Comunicação Empresarial, Porto Alegre, RS