Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A democratização da comunicação

A comunicação. O quarto poder. Segundo Aristóteles, ‘a arte da retórica’, a arte da persuasão. Aquela que pode construir e destruir. Ela é discutida nos quatro cantos do mundo. No Brasil, só agora o seu poder está sendo colocado em discussão, assim como quem deve controlá-la. Mas ela tem controle? Talvez. Se as pessoas certas estiverem envolvidas.

A I Conferência Municipal de Comunicação de Passo Fundo, que aconteceu no dia 15 de setembro de 2009, na Câmara de Vereadores, em Passo Fundo, RS, tinha como objetivo provocar a reflexão dos alunos e professores de Comunicação Social, profissionais do rádio, da imprensa e demais presentes para dois pontos referentes à comunicação: a situação das rádios comunitárias no Brasil e a democratização da comunicação.

Para isso, três palestrantes estiveram expondo reflexões e perspectivas no debate: Dagmar Camargo, do Conselho de Rádios Comunitárias, Otávio Klein, professor doutor em Comunicação da Universidade de Passo Fundo e Oscar Plentz, coordenador da TV Comunitária de Porto Alegre. A discussão englobou contextos interessantes e polêmicos: a concessão de emissoras de rádio que não são discutidas (juntamente com casos como o de Sarney, que possui tantas concessões que poderia sair distribuindo-as) juntamente com a lei das rádios comunitárias, que é muito restrita e com muitas exigências, a importância da notícia local nos grandes veículos de comunicação e a substituição dessa informação local pela nacional e mundial (como a RBS, afiliada da Rede Globo, onde o local não chega a ter 30 minutos na programação diária), a Conferência da Comunicação que nunca aconteceu (curiosidade: a primeira Conferência da Saúde foi realizada há cerca de 40 anos e a da Comunicação, cadê?), a legislação atrasada sobre a Comunicação Social (agora ainda mais: tempos de jornalismo sem exigência de diploma), a programação nada educativa da TV aberta, dentre outros assuntos.

Persuasiva demais

Uma discussão não poderia deixar de ter um ápice, o ponto mais marcante e relevante: a quem pertence a comunicação? Quem deve controlá-la? O Fórum Nacional para a Democratização da Comunicação (FNDC) é uma associação civil que luta pelo controle público dos meios de comunicação, defende a comunicação como um direito de todos e organiza-se em comitês. Democratizar a comunicação. Fazer com que os grandes grupos não escolham o que oferecer, mas que você possa optar. Retirar todo o monopólio que existe, deixar o comercial um pouco de lado (como previa um grupo de estudos da ONU, que organizou um relatório, durante a Guerra Fria, sobre como deveria ser a comunicação e que foi engavetado quando chegou à sua conclusão: que a comunicação não deveria ser comercial).

O FNDC prevê quatro eixos principais para a conclusão da democratização: o controle público dos meios de comunicação, a capacitação da sociedade e dos cidadãos (que devem saber o que está por trás da imagem que veem pela TV, qual a sua real mensagem, que está camuflada), o desenvolvimento da cultura (uma grade educativa que promova o desenvolvimento cultural do país e da sociedade, não um bando de retardados falando besteira e discutindo o novo namorado da Madonna) e, por último, a reestruturação dos mercados e dos sistemas (traduzindo: fazer com que surjam mais redes de TV, rádio, jornais, para que haja concorrência, diversidade de mercado) e que necessita da intromissão do governo federal.

Persuadir. Isso é comunicar. Não apenas fazer a sua mensagem chegar até as pessoas. Mas fazê-las mudar hábitos, mudar a vida (como as novelas fazem). Esse é o tipo de comunicação que se tem hoje: ela é persuasiva demais. Só o seu controle pode melhorá-la, fazê-la desenvolver. Transformá-la no que deveria realmente ter sido desde o início, mas que não é: social.

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Estudante de Comunicação Social – Jornalismo, da Universidade de Passo Fundo e fotógrafo, Soledade, RS