Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A gente não quer só política…

Apesar da política ser um dos assuntos mais cotados nos jornais atualmente, as manifestações culturais continuam a ocorrer por todas as partes. Posto que são a representação da identidade de um grupo, é importante que os periódicos divulguem e valorizem estas práticas.

Assumindo a cultura como uma lente através da qual o homem vê o mundo, o Monitor de Mídia questionou ‘Onde está a cultura local nos jornais?’. Foram analisadas seis edições aleatórias dos jornais A Notícia, Diário Catarinense e Jornal de Santa Catarina, observando o que é publicado além das hard news.

Segundo Denis Cuche, em A noção da cultura nas Ciências Sociais, ‘a cultura aparece como um conjunto de conquistas artísticas, intelectuais e morais que constituem o patrimônio de uma nação, considerado como adquirido definitivamente e fundador de sua unidade’. Levando em consideração o material apresentado aos leitores, segue a análise dos periódicos catarinenses.

Diário Catarinense

Para o Diário Catarinense, foram escolhidos aleatoriamente os dias 21/05, 25/05, 3/06, 6/06, 11/06 e 16/06. Como espaço especial, nas edições de sábado o jornal traz o caderno ‘Cultura’ e de domingo o caderno ‘Donna DC’.

Na edição 27/05 foram encontradas quatro matérias relacionadas ao tema deste diagnóstico, sendo que duas delas apresentaram chamada de capa. Nesta edição, apenas uma matéria não fazia parte do caderno ‘Donna DC’ – foi a ‘Festa do Divino, tradição na Capital’ comemoração típica da capital. Os outros textos, contidos no caderno especial citado, abordavam: a modelo catarinense, a Mostra Casa Nova em Florianópolis e entrevista com uma proprietária de galeria de arte na mesma cidade. É interessante citar que eram matérias superficiais e culturalmente vagas. De bom só os títulos das duas últimas: ‘Coisa de artista’ e ‘Uma vida dedicada à arte’.

Nas edições dos dias 06 e 11/06, a cultura ganhou chamada de capa. Totalizou-se 11 matérias nas duas publicações, sendo sete em uma e quatro na outra. O destaque foi a edição do dia 06, pois foi a que mais publicou matérias relacionadas a cultura em Santa Catarina. Além disso, trouxe uma diversidade de temas e tentou fugir das comemorações festivas – quando dedicou matéria sobre a Festa do Pinhão em Lages. Desta edição vale citar as matérias ‘Orquestras catarinenses para catarinenses’, ‘Fotos e bordados’ e ‘Mais um degrau para a banda Iriê’.

Chamou atenção a matéria sobre as orquestras, pois se trata da maratona de apresentações sinfônicas que percorrerão várias cidades do Estado, para divulgar a música clássica, que não faz parte da cultura de massa. A matéria foi bastante informativa e aprofundada.

Na edição 16/06, foi chamada de capa: ‘O imaginário da Ilha no olhar de Vera Sabino’. A matéria intitulada ‘Uma Ilha imaginada’ estava localizada na primeira página do caderno ‘Cultura’. O texto mostrou o olhar da Ilha Catarinense apresentado nas telas da artista plástica contemporânea e florianopolitana Vera Sabino. A matéria foi escrita por uma socióloga, professora aposentada da UFSC e escritora. O texto não era informativo, teve caráter de artigo e não matéria.

Ainda neste caderno, o DC trouxe ‘A arte da passagem’ em que divulgou o único artista catarinense, o joinvillense Luiz Henrique Schwanke (1951-1992) incluído na atual mostra 80/90 Modernos, Pós-Modernos etc promovida pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Foram expostas duas obras dele de 89, ambas sem título. Apesar do conterrâneo, o jornal apresentou uma matéria curta e superficial.

Dois aspectos chamaram a atenção para o caderno de ‘Cultura’: primeiro que das cinco matérias publicadas, apenas duas eram de caráter estadual. Outro aspecto foi que nenhuma levou assinatura de jornalista. Das 5 apresentadas, 4 eram assinadas por professores e uma proveniente de assessoria de imprensa.

Na editoria ‘Geral’, o periódico apresentou a matéria ‘Máscara e mistério no sul’, sobre a 3ª Festa da Gastronomia em Nova Veneza que terá o 1º Carnaval de Veneza, em Nova Veneza. O evento pretende demonstrar algo mais da cultura italiana. Sobre o mesmo assunto foi publicada uma foto na contracapa do grupo que vai se apresentar na festa.

No geral, o DC não dedicou muito espaço para a cultura local do Estado, porém não a escondeu dos leitores. O destaque para a cultura esteve equilibrado entre as editorias ‘Cultura’, ‘Geral’ e ‘Variedades’. Na questão regional, foram valorizadas várias regiões catarinenses, principalmente com eventos festivos. É fato que a maioria dos leitores pode não se interessar pelo assunto, mas é papel dos jornais é informar os mais variados eventos e feitos, incluindo os dos nativos de Santa Catarina ou que elevam o nome do Estado.

Jornal de Santa Catarina

Foram escolhidas, aleatoriamente, para a análise do Jornal de Santa Catarina duas edições de final de semana – 05 e 06/05; 12 e 13/05 – e outras três edições durante a semana – 07/05 e 11/05; 19/06.

Um fato curioso nas publicações do Santa é que a cultura local teve destaque na editoria ‘Economia’ – uma seção que, teoricamente, está voltada para assuntos financeiros. Ponto positivo para o periódico, que valorizou tradições fora das páginas de lazer ou variedades. ‘O turismo vai à colônia’ (12 e 13/05, pág. 9) foi um dos exemplos. A matéria descreveu um roteiro turístico que envolverá patrimônio histórico e belezas do Vale agrícola.

Outra interessante valorização da cultura local foi dada na matéria ‘De todos os olhos’, do caderno ‘Lazer’ (07/05). O texto apresentou o trabalho de Luciano Martins, um artista plástico que exibiu em Paris suas obras que mostram a cultura de Santa Catarina.

Além de outras notas e textos no caderno ‘Lazer’, que faziam menção a aspectos culturais, o jornal ainda publicou dois artigos relacionados ao tema: ‘Vila Germânica: um ano de benefícios para Blumenau’ (05 e 06/05) e ‘Quem perde, a cultura ou nós?’ (19/06). O primeiro texto foi escrito pelo diretor-presidente do Parque Vila Germânica, José Carlos Oechsler, e o segundo pelo jornalista Dirceu Bombonatti.

Observou-se que, de maneira geral, o Jornal de Santa Catarina aborda com freqüência aspectos culturais locais, ainda que somente para divulgar alguma exposição, peça teatral ou show.

A Notícia

O jornal foi superficial em relação à cultura catarinense. Das seis edições analisadas (dias 29/04, 11 e 19/05, 14, 23 e 26/06) foram contabilizadas 15 notas e cinco matérias. Os temas variaram entre teatro, dança, literatura, exposições, eventos, heranças culturais e música.

Porém, considerando a abordagem dedicada, percebeu-se pouco desenvolvimento dos assuntos. Não houve valorização da origem ou dos significados, resumindo em apenas exposição e divulgação dos eventos – como serviço de agenda.

De todas as editorias, o caderno ‘Anexo’, que propõe tratar de ‘variedades, cultura e lazer’, apresentou a maior incidência de assuntos relacionados com o tema analisado.

Chamou a atenção o dia 19/05, quando o jornal apresentou somente uma nota com tema cultural. Sob o título ‘Colorir e Ruído/mm em Florianópolis’, o texto tratou do show das bandas ‘Colorir’ e ‘Ruído’, no Teatro Álvaro de Carvalho de Florianópolis.

Outra matéria de destaque foi ‘Esperança para reerguer Bolshoi’, no dia 14/06. Nela o periódico apresentou as dificuldades da única filial fora da Rússia do grupo de dança e teatro. O texto esteve na editorial Geral, teve caráter factual é só abordou os problemas enfrentados pela instituição, sem qualquer outra indicação de apresentações ou planos artísticos.

Cabe aos jornais ir além das tradicionais comemorações festivas culturais, deixando de cair no agendamento e nos clichês. A cultura catarinense ainda é pouco explorada. É importante essa valorização, justamente para fortalecer a identidade local. O desafio está em tornar os assuntos considerados segmentados dentro da cultura em matérias atrativas e explicativas ao maior público possível.

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Sobre escândalos e sobre o que realmente interessa

Uma das condições para que um fato se torne notícia é a sua novidade. Isto é, se algo novo aconteceu, isso pode ser passado adiante. Entretanto, os meios de comunicação muitas vezes insistem na cobertura de acontecimentos que – de tão noticiados – parecem não ter novidade alguma. Há vinte anos, por exemplo, uma chacina no Rio de Janeiro era motivo para destaque, manchetes e gritaria na mídia. Hoje, infelizmente, elas acontecem com tanta freqüência que a brutalidade dos fatos evapora com a quantidade de repetições. A violência se banaliza.

O mesmo se dá no campo da política. Com a redemocratização do país nos anos 80, o jornalismo brasileiro ganhou mais espaço e mais força para denunciar abusos nos poderes, injustiças sociais e outras chagas nacionais. Ondas sucessivas de denúncias sobre corrupção varrem a sociedade, e infelizmente, com grande freqüência também. Já é comum perguntarmos qual é o escândalo da vez. A corrupção se banaliza.

Nas últimas semanas, dois casos de repercussão nacional chacoalham a sociedade com manchetes, editoriais, fotos e fitas com declarações estarrecedoras. O primeiro traz suspeitas sobre a conduta do presidente do Senado, Renan Calheiros, o terceiro homem mais poderoso do país. O segundo caso tem no centro o ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. Nas duas situações, os políticos são acusados de estarem se beneficiando de suas condições para aumentar seus patrimônios, para exercer influência e poder, enfim, usar seus status de maneira imprópria.

Frente a isso, a mídia tem feito o seu papel. Talvez até demais. Talvez até deixando de lado fatos tão ou mais importantes, como a reforma política que passa – sorrateira – pelo Congresso Nacional. Não afirmamos que os meios não tenham que denunciar mandos e desmandos, escândalos e atrocidades.

Mas jornalismo não é apenas isso. O jornalismo não vive apenas do sangue dos vilões do momento. Vive também da cobertura que orienta, que educa, que chama a atenção da sociedade para a direção de seu desenvolvimento e evolução. O jornalismo não é um carrasco da política, tão somente. É também um farol que sinaliza os caminhos que a política pode percorrer. Quem decide se esses serão os nossos caminhos é a sociedade.

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De post em post a blogosfera ganha espaço

Joel Minusculi

Assim como a sociedade é dividida em grupos, a internet tem seu conteúdo organizado em segmentos específicos, de acordo com o gosto de seus internautas. A estratégia, junto com os motores de busca, facilita o acesso rápido aos dados e aproxima usuários em círculos de interesses. Entre os muitos serviços disponíveis no mundo virtual, os blogs são um fenômeno participativo e um dos exemplos mais práticos da estratégia de grupo com a chamada blogosfera.

O termo representa o coletivo dos diários virtuais, weblogs, e foi usado pela primeira vez em 10 de setembro de 1999, no blog de Brad L. Graham, como uma piada: ‘Goodbye, cyberspace! Hello, blogiverse! Blogosphere? Blogmos? Imagine billions and billions and billions of blogs…’. Anos mais tarde, o escritor William Quick postou em seu blog: ‘I propose a name for the intellectual cyberspace we bloggers occupy: the Blogosphere’. A partir disso, a informação propagou pelo mundo virtual como um meme – uma idéia que se espalha através da multiplicação, similar aos genes da memória.

A comunidade que desenvolve conteúdo por postagens é crescente, como mostra o filósofo da informação Pierre Lévy em seu livro As árvores do conhecimento. Segundo o autor, ‘as redes de computadores carregam uma grande quantidade de tecnologias intelectuais que aumentam e modificam a maioria das nossas capacidades cognitivas’. A idéia representa a construção coletiva do conhecimento, que ganhou força com a web 2.0 e a possibilidade das pessoas participarem com seus pontos de vista – por isso a internet é considerada um meio democrático, como discutido no artigo ‘La internet, el acceso a las informaciones y las nuevas formas de organización del cotidiano‘.

Os blogs entram como uma vitrine de idéias para o meio virtual. Enquanto eles são apenas a mensagem exposta através de multimídia, a blogosfera é o fenômeno das relações entre blogueiros. Isso acontece através dos hyperlinks, principais apoios dos textos virtuais, que remetem e desenvolvem os conteúdos dentro de uma rede ligada por idéias relacionadas. O exemplo prático está inserido neste texto, em cada palavra grifada em azul, em que com apenas um clique sobre elas faz o usuário ‘navegar’ através de uma rede de pensamentos.

Na dinâmica dos hyperlinks há duas possibilidades: prender o internauta dentro de um círculo restrito e auto-suficiente de conteúdo (que pode ser do mesmo local da publicação principal) ou expandir para o maior número de links externos possíveis (neste caso, podem ser direcionados para qualquer assunto dentro da grande esfera dos blogs).

No quesito monitoramento e organização da blogosfera, há vários serviços como o Technorati, dos Estados Unidos, o BlogBlogs, do Brasil, que disponibilizam estatísticas e informações úteis para esse mundo de posts. Eles identificam interconexões, assuntos relacionados e uma lista completa de categorias que abrangem os blogs.

Apesar de ter ultrapassado os dez anos, a blogosfera somente ganhou espaço nas discussões quando as pessoas começaram a usar os blogs como um meio de propagação de idéias, além do simples relato diário de suas atividades. Já a imprensa, ainda com o peso da confiabilidade da informação, tem nesse meio uma nova maneira de comunicar e buscar informações – principalmente quando é discutido o futuro da mídia, em que o desafio estará em adaptar a mesma informação para as diversas plataformas disponíveis.

Entre todos os conceitos e possibilidades, a melhor forma de entender a blogosfera e tudo o que um blog representa ainda é participar desse fenômeno cibercultural. Há vários serviços, como o WordPress e o Blogspot, que disponibilizam espaço para a postagem dos mais diversos assuntos e nas mais variadas formas. A partir disso, com a mobilização das pessoas dentro da nova esfera social que representa a blogosfera, será possível tornar reais as projeções feitas para o mundo virtual pelo Monsieur Lévy.

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