Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

A obrigatoriedade do diploma

O portal Comunique-se publicou na sexta-feira (12/9) a seguinte nota:




Fenaj ganha apoio da AMB na luta pelo diploma


A Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) ganhou importante apoio esta semana em sua campanha pela obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Em reunião realizada na terça-feira (09/09), integrantes do Conselho Executivo da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) decidiram enviar um documento à Fenaj e declarar apoio irrestrito à luta pelo diploma.


Em agosto, os presidentes da Fenaj e da AMB, Sérgio Murillo e Mozart Valadares Pires, se encontraram para tratar do assunto. Pires declarou apoio pessoal à instituição. ‘Tenho defendido o exame da Ordem porque acho fundamental a qualificação do exercício profissional no direito, seria no mínimo incoerência propor o contrário para os jornalistas’, disse, de acordo com o site da AMB.


Se pela Constituição há de ser respeitado o princípio da isonomia, então, se a lei vale para uma profissão, tem que valer para todas.


Ainda que o órgão avaliador não seja diretamente o governo, é o governo quem vai aprovar a lei ou não – portanto, é o governo sim que irá discutir ou impor a criação desta exigência. Portanto, o governo poderá mostrar interesse ou não em que os jornalistas sejam avaliados.


Porém, quem deve discutir esta exigência de exame e diploma é a sociedade civil, em especial os próprios jornalistas, e um grande debate deve ser aberto para que todos os pontos de vista e análises sejam esgotados.


Avaliar a avaliação


Quem avalia a competência e o conhecimento de um profissional é o próprio órgão que o contrata, e não o governo. No caso do Judiciário e do exame da Ordem dos Advogados do Brasil, o advogado vai prestar serviços junto a este poder, junto ao governo, daí a necessidade mesmo de exigir o exame da Ordem. No caso dos jornalistas não, pois estes têm como principal órgão vinculante empregatício os veículos informativos da iniciativa privada, que são independentes do governo.


Quando o jornalista presta serviços ao poder, ele já passa por um concurso. Por outro lado, alguns são indicados para trabalhar como assessores em gabinetes do Legislativo ou do Executivo, mas sem concurso. No caso, o poder contratante define o critério de admissão que, geralmente, é o critério político.


O exame poderia funcionar a qualquer tempo, para o governo, como uma espécie de ferramenta de controle sobre o jornalista, pois lá o mesmo registraria o que pensa sobre diversos temas. Tempos atrás, uma tal ‘Lei da Mordaça’ (expressão criada pela imprensa) proposta pelo governo chegou a preocupar os jornalistas.


Um exame avaliativo do conhecimento profissional do jornalista é muito relativo, uma vez que o mesmo saberia mais ou menos sobre alguma área específica do que outra. É difícil um jornalista saber tudo, tanto que é comum a frase ‘o jornalista é um especialista em generalidades’.


É preciso avaliar a própria avaliação. É preciso avaliar até mesmo as entidades avaliadoras.


Cargos públicos


Avaliar apenas o conhecimento teórico não fará do profissional um melhor jornalista para a sociedade porque se sabe, comprovadamente, que o profissional melhora seus conhecimentos fora da faculdade por intermédio da prática e da vivência.


Do ponto de vista comercial, teremos uma festa. Surgirão cursinhos para jornalistas mal formados. Taxas de inscrição para as provas. Carteirinhas de jornalistas que serão cobradas pelos sindicatos, fora a absurda anuidade. Enfim, grandes interesses econômicos parecem estar alimentando esta idéia de diploma e exame.


E, já que estamos em época eleitoral, exigir exame e diploma de jornalista é mais importante do que exigir o mesmo de candidatos a vereadores, a prefeitos, a presidente, a ministros, a secretários de Estado etc.? Ou será que para cargos públicos mais elevados do Executivo e do Legislativo não é necessário formação alguma?

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Webjornalista, diretor do site VIVAcidade, Sorocaba, SP