Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A pesquisa em jornalismo no Brasil

Primeira pesquisadora a ganhar o Prêmio Adelmo Genro Filho na categoria Sênior, Christa Berger fala do significado do PAGF e do panorama da pesquisa em jornalismo no Brasil. Com 30 anos de carreira, a professora aposentada da UFRGS foi responsável pela formação de 13 mestres e dois doutores e hoje coordena o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos, no Rio Grande do Sul.

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A senhora foi a primeira pesquisadora a ganhar o Prêmio Adelmo Genro Filho na categoria Sênior, a única cuja inscrição se dá por indicação. Como avalia este reconhecimento e que importância este prêmio tem na sua carreira?

Christa Berger – Por ser um prêmio da Associação que reúne pesquisadores da minha especialidade, por ter sido indicada pelos meus pares, pelo prêmio homenagear Adelmo Genro Filho, por ser a primeira a recebê-lo nesta modalidade sinto-me honrada e feliz. Ao longo da minha vida profissional tenho tido muitas gratificações, mas, esta, sem dúvida, estará registrada em meu estoque de boas lembranças de 2007. A importância do prêmio para minha carreira é de redobrar a responsabilidade ao pesquisar e falar sobre jornalismo.

A partir de seus 30 anos de experiência, como a senhora avalia a pesquisa em jornalismo no Brasil?

C.B. – Penso que estamos em um momento muito rico e que os programas de pós-graduação contribuíram de forma decisiva para a qualidade da nossa pesquisa. Neste caso, a quantidade e a regularidade propiciaram o desenvolvimento de uma construção teórico-metodológica de qualidade. Estamos atentos à produção internacional, temos boas obras de referência e um acervo de estudos sobre o jornalismo brasileiro que, reunido, permite conhecer a história da nossa imprensa, compreender o funcionamento das redações, as lógicas das coberturas e os discursos informativo e opinativo. A produção bibliográfica que circula em livros e revistas também contribuiu para a divulgação dos resultados das nossas pesquisas e, consequentemente, com uma produção cumulativa.

Não podemos esquecer que as agências de financiamento também têm sua cota de responsabilidade sobre o desenvolvimento da pesquisa em comunicação no Brasil, pois temos tido a oportunidade de estudar, pesquisar e conhecer pesquisadores e centros de pesquisa nacionais e internacionais graças às bolsas e aos apoios institucionais. Por fim, considero que nossas associações, Intercom e Compós com GTs de jornalismo e SBPjor, têm sido fundamentais na consolidação da pesquisa.

A senhora é gaúcha e contemporânea de Genro Filho cuja obra O segredo da pirâmide acaba de completar 20 anos. A senhora chegou a conviver com este pesquisador? Se sim, que lembranças guarda deste período?

C.B. – Nossos caminhos não se cruzaram muitas vezes. Eu conheci o Adelmo em Ijuí, na casa do Ben-Hur e da Inge Mafra. Eu sou de Ijuí, mas já morava em Porto Alegre havia alguns anos. Era amiga do Ben-Hur e da Inge e fui convidada a participar de uma reunião sobre o jornal Informação – um jornal alternativo que circulou entre 1975 e 76 e foi primeiro editado em Ijuí, depois em Porto Alegre. Nesta reunião se discutia a continuidade do jornal, a permanência do Jefferson Barros como editor, a transferência do jornal de Ijuí para Porto Alegre. Lembro que não entendi todas as coisas que estavam em pauta. Adelmo era do setor jovem do MDB, Jefferson era de esquerda, mas não filiado ao partido. Nesta época, estava desenhando minha vida afetiva, profissional e política. No início de 1977 fui ao México e fiquei até 1980. Na volta ingressei na universidade e reencontrei o Adelmo em um encontro organizado pela UFSC. Depois adotei seu livro em sala de aula, encantada com as relações que ele propunha. E lembro muito fortemente da notícia da sua morte e da tristeza e inconformidade do meu amigo Daniel Herz com a perda do seu companheiro de lutas e ideais.