Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A proposta original de uma rede digital para rádio e TV

Face à divulgação do artigo ‘Sonho da rede nacional virou realidade‘, assinado por Gabriel Priolli, e divulgado neste Observatório, é necessário traçar algumas importantes considerações a respeito dos fatos.

No 1º Encontro de Assessoria de Imprensa, Rádios e TVs Universitárias das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), realizado em outubro de 2003, em Ouro Preto, a Universidade Federal do Paraná – representada por mim – colocou em pauta a proposta de usar a internet, por meio da Rede Nacional de Pesquisa (RNP) e de técnicas de compressão de vídeo, como base para a formação de uma rede de troca de programas entre as IFES.

Neste encontro também foram convidados alguns representantes de universidades estaduais, um representante da TV Cultura e uma representante da ABTU. A reação da representante da ABTU diante da proposta da UFPR foi de total descrédito e desconhecimento da realidade das instituições públicas, alegando que a internet não possui velocidade (capacidade) para o tráfego pesado de dados e que os sistemas de compactação de vídeo não conseguem atingir uma qualidade de broadcast.

Essas alegações foram devidamente rebatidas por mim e pelo representante da TV Cultura, que apresentamos soluções a cada um dos pontos questionados. Ao final das discussões, a representante da ABTU insistiu na velha proposta de uma rede analógica via satélite. (Desde 1997 a ABTU insiste neste projeto que centraliza as decisões e forma uma grade de programação, que seleciona os programas a serem veiculados. Verdadeiramente uma cabeça-de-rede.)

Quanto vai custar

Existem provas documentais da autoria da idéia de criação de uma infovia para permuta de programas para rádio e televisão, registradas no Banco Nacional de Pesquisa (Banpesq), em 2004. Nesse mesmo ano, houve um segundo encontro, agora em Niterói, entre as TVs das IFES, e lá estava, novamente, um representante da ABTU, com a mesma obtusa, obsoleta e cara proposta de rede analógica via satélite para troca de programação. A UFPR, por sua vez, novamente representada por mim, não só reafirmou como também demonstrou publicamente a qualidade de compactadores de vídeo acessíveis às Ifes. A proposta apresentada é viável para as Ifes – assim como para outras TVs universitárias e, melhor que isso, democratiza o acesso à informação porque põe por terra a idéia de uma cabeça-de-rede, que determina previamente o que será ou não veiculado.

Estranhamente, a proposta da UFPR – tão rebatida e ironizada pela ABTU – brota ‘silenciosamente’, como escreve o próprio Priolli, em um terceiro encontro das assessorias de comunicação, TVs e rádios das Ifes em Brasília, em agosto de 2006. Segundo informações da ABTU, a parceria seria com a própria RNP.

É certo que a RNP não foi procurada anteriormente para apoio financeiro à proposta das Ifes, pois se trabalhava com afinco na busca de soluções baratas e viáveis que atendessem de forma simples a todas as Ifes e universidades públicas. Estas instituições muitas vezes têm dificuldades financeiras até mesmo para produzirem programas com custo de produção muito simples, quem dirá de ‘três capítulos de uma novela’, como disse Priolli. Esta colocação também pode ser entendida como manipulação de informação. Afinal de contas, quanto vai custar aos cofres públicos? Quanto vai custar para cada instituição de ensino? Custará o equivalente a um capítulo de novela da Globo? Ou um capítulo de novela mexicana?

Descentralizar, democratizar

Dentre essas estranhas atitudes ainda contesto a afirmação de Priolli de que a ‘ABTU é hoje a legítima representante dos interesses da televisão universitária brasileira’, pois nem todas as TVs das Ifes, e claramente a UFPR TV (TV Universitária da Universidade Federal do Paraná), são afiliadas da ABTU. A UFPR TV nem mesmo assinou algum documento jurídico com a finalidade de ser representada pela ABTU em qualquer fórum ou discussão sobre projetos e ações para TV universitária pública. Esta tentativa retórica de se coroar, que Priolli coloca, é no mínimo ilegal. Entendo ainda que as TVs das universidades federais possuem uma realidade muito particular e distinta.

Temos certeza que a ABTU pode seguir com seu projeto, mas saliento que o projeto original de infovia para rádio e televisão das Ifes está disponível neste site, em fase de testes iniciais, e já apontou resultados surpreendentes em relação `a capacidade de transmissão.

Acreditamos que as TVs e rádios universitárias das Instituições Federais de Ensino Superior terão muitos ganhos, como também a liberdade para continuarem a desenvolver seus projetos de pesquisas nas áreas de TV e rádio, além de continuarem com sua autonomia universitária preservada, sem precisar da autorização de nenhuma outra entidade que previamente escolhe qual programação deverá ser veiculada ao público.

O projeto de rede das IFES reforça e incentiva que as universidades públicas e gratuitas respeitem a inteligência do seu público e para ele veiculem produções com conteúdo de alta qualidade. Porém, dentro de uma realidade que não limita nem deixa de fora quem não consegue pagar. Como é costumeiro nas universidades públicas, nós queremos descentralizar, democratizar, inserir, multiplicar e nunca dividir ou excluir.

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Professor de Telejornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR