Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ações para acumulação de massa crítica

O Grupo de Trabalho da História da Mídia Digital reuniu 20 pesquisadores de cinco estados brasileiros (São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Tocantins), representando nove universidades, no III Encontro da Rede Alfredo de Carvalho, realizado em Novo Hamburgo (Feevale/RS), entre os dias 14 e 16 de abril de 2005.

O GT teve a inscrição de 13 trabalhos, aumento de 160% no número de papers apresentados em relação ao evento do ano passado, sediado em Florianópolis (UFSC/SC). A diversidade dos objetos e temas pesquisados revelou que o grupo está se consolidando por meio de um perfil multidisciplinar, pois realiza cruzamentos dos conhecimentos adquiridos em outras áreas da ciência, como a de Exatas e Biológicas, além de fortalecer o principal objetivo do GT: criar uma consciência conservacionista, ou seja, escrever a história do cotidiano digital. ‘O GT deve preservar a memória para ir construindo a história’, afirma o coordenador nacional e idealizador da Rede Alcar, o professor José Marques de Melo (USP/Umesp).

Papers

A mestranda em Comunicação e Informação pelo PPGCOM Fabico/UFRGS, Ana Maria Brambilla, apresentou a ‘Reconfiguração do tempo e do espaço midiáticos pela digitalização da sociedade’ que reconstitui, em um esboço, os últimos 20 anos do cenário histórico-social onde ocorreram mudanças comportamentais estimuladas pelos avanços tecnológicos, a partir do redimensionamento das grandezas de tempo e espaço nos processos de comunicação digital.

Já um resgate bastante importante foi realizado por Celso Galli Coimbra (advogado e fundador do grupo Biodireito-Medicina online) e Cláudia Viviane Viegas (doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC) e professora do Centro Universitário Feevale). Com o paper ‘De e-groups a website: a trajetória de Biodireito-Medicina, trabalho de comunicação alternativa que desafia o agenda setting e é referência entre tratadistas do Biodireito’, a dupla de pesquisadores descreveu a trajetória de um processo de comunicação via Internet, em Biodireito e Medicina, que teve seu início valendo-se da ferramenta de grupos de e-mails (e-groups), em janeiro de 2000. O espaço digital discute os critérios declaratórios de morte encefálica para efeito de transplante de órgãos humanos.

‘A TV na Internet: Convergência e a Fusão de Mídias’ foi o trabalho apresentado por Domingo Glenir Santarnecchi , assessor de imprensa da Faenac/SP e apresentador da It´s TV. Ele revela que a primeira televisão criada exclusivamente para a enternet na região do Grande ABC foi a It’s TV, com sede na cidade de São Caetano do Sul e que surge da reunião de todas as mídias em uma só e tira proveito da sinergia e interatividade da tecnologia digital disponível, ‘conceitos já utilizados no Japão, Estados Unidos e Alemanha, entre outros países, para criar uma mídia diferente’, afirma.

Preocupada com as notícias em tempo real, a coordenadora de Atividades Interdisciplinares dos cursos de Comunicação Social da PUC Minas Arcos, a profa. dra. Filomena Bomfim apresentou o paper ‘As seções de tempo real abrem espaço para um novo conceito de jornalismo?’ que versa sobre necessidade da reflexão critica a respeito das práticas midiáticas vigentes no ciberespaço – mais precisamente no campo do jornalismo on-line – as quais tendem a fazer circular, em âmbito universal, um volume avassalador de informações. Nesse trabalho, fruto de uma pesquisa de doutoramento, nomeia-se esse fenômeno de ‘abundância informacional’.

A docente também apresentou o trabalho ‘Um estudo comparativo das notícias do MST nas versões online dos jornais Estado de Minas e Estado de S.Paulo, realizado em conjunto com a acadêmica Mariângela Albuquerque de Oliveira Guimarães, que analisou as notícias do MST nas versões on-line dos dois veículos, no que se refere aos links e análise do discurso.

A intenção foi verificar se os links realmente ampliam e contextualizam a notícia, envolvendo-a numa teia de relações ou se provocam apenas uma abundância de informações desconectadas, impedindo a reflexão e a crítica do leitor.

Já a contribuição da pesquisadora, oriunda da área de Exatas e mestranda em Comunicação, Ivone Matiko Ivassaki (Unimar/SP), foi sobre os avanços tecnológicos e a velocidade do transporte da informação como o paper denominado ‘As características de um jornal on-line’.

Realidade virtual

O pesquisador Juciano de Sousa Lacerda (IELUSC) contribuiu com o paper ‘A processualidade dos dispositivos tecnomediáticos na abordagem do fenômeno da tecnointeração’. O professor do Curso de Comunicação e pesquisador do Núcleo de Estudos em Comunicação (Necom), no IELUSC, em Joinville (SC), discute os dispositivos tecnomidiáticos retomando a noção de interface na pesquisa e apontando a midiatização e a mediação como processualidade. Por fim, o trabalho faz uma tentativa de localizar o conceito de processos midiáticos como lugar de compreensão dos fenômenos tecnointeracionais ao discutir as tecnologias informacionais enquanto dispositivos que produzem e reproduzem o social e possibilitam a interação social.

A estudante de jornalismo da Universidade Católica de Pelotas, Maria Clara Aquino, apresentou um estudo denominado ‘Um mapeamento histórico do hipertexto’, que mostrou um histórico do surgimento e do desenvolvimento do hipertexto, comparando a sua atual aplicação nas páginas Web com a sua noção básica formada em séculos passados. A universitária também confrontou os projetos que utilizam como base a construção coletiva do hipertexto, no intuito de resgatar os propósitos inicias deste tipo de escrita.

Interessante e pertinente, o paper ‘Realidade Virtual, do Sensorama a Caverna Digital’, exposto pelo mestrando em Comunicação Social (PUCRS), Vagner de Carvalho Silva, fez questão de deixar de lado o debate constante sobre o real e o virtual e realizou um levantamento do caminho que vem sendo trilhado pela utilização da Realidade Virtual. O estudo aponta algumas utilizações, condições para a mesma, e ainda, algumas pesquisas realizadas, além de registrar os primeiros experimentos até os mecanismos utilizados no Brasil atualmente.

O IV Encontro da Rede Alcar será realizado em 2006, em São Luis (MA) e já estendemos o convite a todos os pesquisadores na área da História da Mídia Digital.

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Coordenador do GT da História da Mídia Digital e doutor em Jornalismo Digital pela ECA/USP