Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Antes feitos que desfeitas

Matérias fúteis vendem mais porque o ‘povo’ não tem ‘cultura’ ou o povo não tem cultura porque matérias fúteis vendem mais? Essa pergunta nos faz lembrar o velho dilema que o profissional de Comunicação enfrenta desde o primeiro dia de aula na faculdade. Na verdade essa polêmica deveria começar pela frase ‘Como vai a educação no país?’.

Acredito que os comunicólogos e especialistas no assunto não devam tentar desvendar o ‘mistério’ a partir da discussão ‘batida’ sobre dois conhecidos pressupostos: a mídia pensa que o ‘povo’ gosta mesmo é de baixaria, estrelismos e futilidades e esse é o argumento que sustenta sua sobrevivência, explicando a publicação das Caras da vida. O outro seria: a mídia acredita que a população no Brasil tem uma cultura muito pobre, e por isso temos que encontrar um meio-termo.

Na verdade, aqueles que têm consciência do estado de calamidade no qual estão nossos veículos de comunicação – ou seja, na mais intensa produção de mediocridades – precisam (como já fazem alguns) incentivar o crescimento da produção de matérias que questionem a educação e apontem os resultados positivos de projetos desenvolvidos.

Pouco brava gente

A responsabilidade na divulgação desse tema está tanto nas mãos dos jornalistas quanto dos críticos do assunto. A análise de reportagens que tocam no ‘x’ da questão, ou seja, a educação no Brasil, é muito mais necessária do que aquela que insiste em apontar como determinado veículo vem produzindo material ‘recheado de besteiras’. Dessa forma, entendo que, às vezes, os críticos e analistas dão espaço demais ao mau jornalismo, em vez de bater na tecla (literalmente) daquilo que antecede essa inundação de futilidades.

Um artigo dizendo que ‘caras e bocas’ formam idiotas não é novidade para ninguém. Certamente algo mais pode ser dito. Atender a todas as demandas por informação é um caminho difícil e tortuoso, levando-se em conta a existência das linhas eleitorais, opa, quero dizer, editoriais. Entretanto, muitos jornalistas têm capacidade de publicar assuntos úteis, que estimulem um José Maria ou uma Maria José a procurar saídas para algumas de suas indignações. Sendo assim, é fundamental ressaltar esses feitos jornalísticos, uma vez que a tarefa de driblar tantas ‘conveniências’ requer muito jogo de cintura e competência.

Colocar o dedo na ferida dos ‘marajás da deseducação’ é fundamental, seja qual for o direcionamento da crítica, no entanto precisamos ir mais fundo, pois tenho certeza de que quem escreve sobre isso, no mínimo, tem noção do tamanho da irresponsabilidade da nossa mídia em relação a essa gente muito brasileira, mas, às vezes, pouco brava.

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Assessora de comunicação