Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Autoridades criam ambiente de medo para jornalistas

Desde que o presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad chegou ao poder no Irã, em 2005, a repressão a jornalistas no país se tornou mais sutil e menos visível, mas, segundo a Repórteres Sem Fronteiras [28/11/06], ela continua tão presente e forte quanto antes. A organização afirma que o país é o maior violador da liberdade de expressão no mundo.

A República Islâmica usa prisões arbitrárias para enfraquecer sua imprensa independente. Ainda que hoje o número de jornalistas encarcerados seja menor do que há seis anos, as autoridades não afrouxaram a pressão sobre a imprensa. Atualmente, jornalistas presos são libertados em poucos dias ou semanas, mas a data de seu julgamento não é marcada. Algumas vezes os profissionais recebem sentença de prisão mas não são convocados a comparecer a uma delegacia.

Julgamentos que são constantemente adiados e sentenças que não são executadas podem parecer sinais de confusão no governo e no judiciário, mas funcionam como ameaças – estão sempre ali para lembrar os jornalistas de não escrever livremente. A administração de Ahmadinejad transformou o país inteiro na maior prisão aberta do mundo.

Na maioria das vezes, os profissionais ameaçados são aqueles que não trabalham para veículos estatais. Quando acusados ou brevemente presos, eles ainda são prejudicados no bolso: grandes fianças devem ser pagas enquanto ‘aguardam julgamento’. Estes jornalistas praticamente param de trabalhar quando saem da cadeia. Por um lado, eles temem enfurecer o governo novamente com seu próximo artigo. Por outro, muitos editores e publishers recebem ordens expressas para não os contratar. Em alguns casos, as prisões de jornalistas são acompanhadas pelo fechamento da publicação onde trabalham.

Proibições, condenações e fugas

O diário pró-reforma Rouzegar foi recentemente proibido de funcionar pela Comissão de Vigilância de Imprensa por contratar jornalistas do diário Shargh, depois que este foi fechado em setembro. O procurador linha-dura Said Mortazavi chegou a enviar ao editor do jornal uma lista com nomes de quem deveria ser demitido.

Jornalistas que optam por trabalhar em veículos de mídia independentes são o principal alvo do governo. Os casos de Issa Saharkhiz, Mohammad Sedigh Kabovand e Saghi Baghernia ilustram o cenário destes profissionais no Irã. Os três podem ser presos a qualquer momento. Editor da publicação mensal Aftab, Saharkhiz foi sentenciado em junho deste ano a quatro anos de prisão e cinco anos de proibição de trabalhar como jornalista por ‘ofensa à constituição’ e por fazer propaganda contra o governo.

Kabovand, que editava o semanal Payam-e mardom-e Kurdestan, fechado em 2004, foi sentenciado no ano passado a 18 meses de prisão e também cinco anos de proibição de exercer sua profissão por ‘perturbar a opinião pública e disseminar idéias separatistas’.

Saghi, publisher do diário financeiro Asia, foi sentenciada em agosto a seis meses de prisão por ‘propaganda contra o regime’. Iraj Jamshidi, seu marido e editor do jornal, foi sentenciado a um ano de prisão.

Desde o início de 2004, a Repórteres Sem Fronteiras contabilizou mais de 30 casos de jornalistas que fugiram do Irã para escapar de condenações judiciais. Mais de 50 profissionais de imprensa estão hoje proibidos de exercer a profissão no país.