Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Blogs podem ser jornalísticos se estiverem associados a uma prática profissional

Apesar de ser associado ao amadorismo do ‘diário on-line’, é possível que o blog – página da internet que qualquer um pode ter para colocar conteúdos como textos e fotos – seja jornalístico se apresentar características como atualidade, interesse público, periodicidade e se pertencer a uma instituição jornalística. ‘É como uma folha de papel, que pode se tornar um diário, um poema ou um jornal. Depende da maneira como se faz’, argumenta o jornalista Artur Araujo.

Diante do ‘sucesso’ do blog, do seu uso por jornalistas e das opiniões divergentes sobre o tema, Araujo decidiu se aventurar num terreno que ele define como ‘inconsistente’, pelo fato de ser um campo de estudos muito recente. Em seu mestrado pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o jornalista questionou se é possível ou não a união
entre blog e jornalismo. Para isso, a análise foi concentrada em dois blogs: o extinto blog do Observatório de ImprensaBloi e
o NoMínimo Weblog. O pesquisador escolheu esses dois produtos porque eles fazem crítica de imprensa e, portanto, refletem sobre o fazer jornalístico. ‘Com eles também pude verificar se o blog permite pensar um jornalismo diferente daquele que é feito hoje’, acrescenta.

Potencial e legitimidade

O formato do blog já mostra seu potencial como recurso de imprensa. Por ser identificado como ‘página de internet com textos dispostos numa ordem cronológica que vai do mais recente para o mais antigo’, permite colocar o texto de acordo com uma das características do jornalismo delimitadas por Araujo: a atualidade.

‘A legitimidade do blog como jornalístico depende também da periodicidade (fluxo contínuo de informações), da aparição pública, da diversidade de conteúdo e do profissionalismo’, explica o jornalista. Segundo ele, a esse caráter profissional está agregada a idéia de empreendimento econômico, de estar inserido numa empresa jornalística e contar com o suporte de sua estrutura. Vasconcellos conclui que um blog jornalístico resulta da somatória desses conceitos.

Um blog com esse potencial não faz papel de jornal, mas funciona como uma parte dele. ‘Lembra uma coluna de jornal quando é concebido jornalisticamente, com textos que refletem opinião ou tratam de temáticas demarcadas’, diz o pesquisador. ‘Muitas vezes, lembra também o formato de digesto, publicação que existia antes mesmo do jornalismo e que resume notícias de vários meios’, complementa.

De cabeça para cima

Araujo conta que a idéia que se criou ao surgirem os blogueiros é a de que, com eles, o mundo do jornalismo viraria de cabeça para baixo. Mas, segundo o jornalista, o simples fato de um discurso ser reproduzido no ciberespaço e estar disponível com apenas alguns cliques não abala o que já está estabelecido. ‘Ambos os blogs (Observatório da Imprensa e No Mínimo) têm uma visão bem ortodoxa da profissão e carregam consigo todos os valores do jornalismo, como verdade, objetividade e clareza’, conclui. ‘Como críticos, esses blogs contêm textos que questionam o desvio das regras do fazer jornalístico atual e, assim, legitimam a imprensa e os valores tradicionais.’

As diversas possibilidades que a internet traz podem assustar, mas podem também ser muito úteis. Segundo o pesquisador, recursos como links e a junção de texto, som e imagem numa mesma página não são anti-jornalísticos. Pelo contrário, eles podem aprimorar o trabalho. Os blogs, por exemplo, permitem que o leitor deixe um comentário sobre o texto que acabou de ler e até se comunique com quem o escreveu. ‘Essa interatividade pode aprimorar o fazer jornalístico’, acredita.

O texto completo da dissertação, em formato PDF, pode ser encontrado aqui.

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Da USP Notícias