Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Colombianos ameaçados por todos os lados

Em uma tarde de maio, o jornalista colombiano Hollman Felipe Morris recebeu uma coroa de flores e condolências pela sua morte, embora estivesse bem vivo. Nos últimos seis meses, Morris vive 24 horas por dia sob a proteção de quatro guarda-costas para evitar se tornar mais um número nas preocupantes estatísticas do país com relação à imprensa: 54 jornalistas foram assassinados nos últimos dez anos, e a maioria dos crimes nunca foi investigada.

Morris é documentarista e apresenta o programa investigativo de televisão Contravia, que ganhou este ano o prêmio Hellman-Hammett da organização Human Rights Watch. O jornalista teria recebido as ameaças de morte mais recentes depois da exibição de um documentário sobre o massacre, supostamente ordenado por grupos paramilitares, de um líder do conselho interno da comunidade de Paz de San José do Apardató e toda sua família.

O que mais preocupa Morris, de 37 anos, é o fato dos jornalistas, preocupados com as ameaças de morte, cooperarem com o que ele chama de ‘oficialismo’, prejudicando a qualidade do jornalismo nacional. ‘Os jornalistas não ousam divergir da linha do governo em nenhum assunto; 95% deles usam estatísticas governamentais e informações de seus relatórios oficiais’, afirma, citando uma recente pesquisa realizada na Colômbia pela organização Network of Free Press.

Para a Federação Internacional de Jornalistas, a Colômbia é o país mais perigoso no mundo, depois do Iraque, para jornalistas independentes trabalharem. Em um país dividido por mais de 40 anos de conflito interno armado, a intimidação vem de várias fontes, entre elas traficantes, guerrilheiros e grupos paramilitares.

O presidente Álvaro Uribe, no poder desde 2002, fornece guarda-costas financiados pelo governo e carros blindados para jornalistas ameaçados. Mas, segundo Morris, Uribe coloca vidas em perigo ao fazer anúncios ‘irresponsáveis’ sobre a atuação da imprensa. Em junho, o presidente foi à televisão denunciar que uma equipe de TV havia feito um acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para filmar um ataque em uma base militar. ‘Qualquer proteção física é inútil se o governo começa a acusar você de ser um terrorista’, afirma o documentarista.

Apesar do índice de mortes entre jornalistas ter caído no mandato de Uribe, Morris insiste que isto ocorreu mais pela autocensura dos veículos de comunicação do que pelo fato do governo ser proativo. Informações de Hélène Mulholland [The Guardian, 3/11/05].