Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Coluna do NYPost faz fofoca de si mesma

A Page Six, seção de fofocas do New York Post, tomou uma atitude no mínimo surpreendente: publicou, na semana passada, uma longa nota com fofocas sobre membros do próprio jornal. O longo texto para o padrão de notinhas, com 675 palavras, revelava que o editor-chefe do diário, Col Allan, é freqüentador assíduo de um clube de striptease em Manhattan, e que o atual editor da coluna, Richard Johnson, aceitou US$ 1.000 de um dono de restaurante citado muitas vezes na seção. A coluna informava ainda que Rupert Murdoch, magnata proprietário do Post, teria pedido aos colunistas da Page Six que evitassem dar notícias críticas à China.

Mas o que leva um jornal a divulgar informações prejudiciais, ou pelo menos embaraçosas, para seus funcionários e seu dono? Segundo analistas, o objetivo era tentar evitar que as informações fossem dadas por algum jornal concorrente. ‘O Post está raciocinando pelo princípio de que ‘o que vai vir à tona eventualmente, deve vir imediatamente’’, resume o consultor de relações públicas Eric Dezenhal.

Caso Stern

Explica-se: a publicação das ‘auto-fofocas’ é apenas o capítulo mais recente envolvendo o caso de Jared Paul Stern, ex-freelancer da Page Six suspenso, em abril do ano passado, por acusação de extorsão. Stern foi flagrado em uma gravação de vídeo pedindo US$ 100 mil e gratificação mensal de US$ 10 mil ao bilionário Ronald W. Burkle para não escrever informações negativas sobre ele na coluna.

Em janeiro deste ano, quando o promotor declarou que o jornalista não seria processado, ele achou que voltaria a trabalhar no Post, o que não ocorreu. No mês passado, o advogado de Stern afirmou ter aberto uma queixa civil contra Burkle e contra o jornal Daily News, que teria divulgado o fato na época. Para reunir provas, o advogado procurou Ian Spielgelman, colaborador da Page Six demitido em 2004. O depoimento de Spielgelman – classificado por Col Allan como ‘uma coleção de mentiras’ de um ex-empregado ressentido – era para ter ficado em sigilo, mas, temendo que as informações vazassem para outros veículos e fizessem a festa dos rivais, o Post decidiu publicá-las na própria coluna.

No depoimento, o ex-colaborador contou que, em 2001, recebeu uma ordem para não colocar uma nota sobre um diplomata chinês em um clube de striptease, porque poderia ‘enfurecer o regime comunista e prejudicar os privilégios de Murdoch no país’. Ele também teria dito que a coluna deixou de publicar diversas notas sobre Hillary e Bill Clinton.