Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Como mobilizar a sociedade, sr. ministro?

O ministro da Educação, Fernando Haddad, esteve no programa Roda Viva (TV Cultura) no dia 10 de julho. Sereno, respondeu às perguntas com o máximo de precisão, apresentando indicativos, cifras (milhões de reais) e os mais recentes dados estatísticos, em tom de otimismo prudente.

Em determinado momento, porém, surpreendeu com uma afirmação que deixou entrever algo mais do que a postura oficial de ministro. Referindo-se à questão da qualidade do ensino nas escolas do município de São Paulo, disse: ‘Mais do que lamentar, São Paulo pode se mobilizar e não aceitar esse resultado’.

De fato, como faz ver um editorial da Folha de S.Paulo (11/7/2006), se ‘foi muito ruim o desempenho das redes municipais de ensino do país na Prova Brasil, que avalia os alunos de 4ª e 8ª séries em português e matemática’, lamentável foi o péssimo desempenho da cidade de São Paulo, ‘ficando atrás de capitais bem mais pobres’. Estudantes com dificuldades para interpretar textos mais longos, ou que contenham informação científica, ou até mesmo histórias em quadrinhos! Estudantes de 15 anos perplexos diante de operações de multiplicação ou divisão que contenham números de dois algarismos…

Pedido de esclarecimento

O ministro Haddad propõe uma ‘mobilização social’, a exemplo do que teria acontecido no Brasil para superar a ditadura militar e, nos últimos anos, para combater a inflação.

Muito bem… mas as greves de professores em todo o país, reivindicando, reivindicando… não são mobilização social? Os livros, os estudos, os simpósios, os encontros na área educacional, que alertam… alertam para graves problemas na formação de professores, para a desvalorização da profissão docente, para as equivocadas políticas públicas não constituem mobilização social? As associações e sindicatos que protestam… protestam não são focos de mobilização? Os artigos em jornais e revistas, as manifestações em blogs, em dezenas de comunidades no Orkut não representam a opinião pública, não expressam a indignação dos cidadãos, das famílias cujos filhos/alunos não aprendem a ler e contar?

Pessoas mobilizadas deveriam mobilizar-se de outra maneira? Passeatas? Panelaços? Abaixo-assinados? Promover algum tipo de campanha de salvação da educação com ampla cobertura da mídia? Intelectuais, artistas, empresários (e até políticos!) levando a discussão para a praça pública?

Não são perguntas retóricas. São um pedido de esclarecimento. Se a saída para a educação brasileira depende de que nos mobilizemos, urge que a sociedade aprenda a fazê-lo.

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Doutor em Educação pela USP e escritor (www.perisse.com.br)