Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Conselho discute mudanças na Voz do Brasil

Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 2 de abril de 2008


VOZ DO BRASIL
Luciana Nunes Leal


Conselho vai discutir mudanças na ‘Voz do Brasil’


‘O Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que controla a TV Brasil, vai discutir, na próxima reunião, no dia 13 de maio, modificações na Voz do Brasil, programa de veiculação obrigatória nas emissoras de rádio, das 19h às 20h, que divulga notícias sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.


A proposta de alterações no programa foi feita na reunião de ontem pelo advogado e conselheiro José Paulo Cavalcanti Filho. ‘Houve uma sugestão sobre o destino e não a extinção do programa’, disse o presidente do conselho, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.


Cavalcanti classificou o programa, criado em 1932, como ‘resto do entulho autoritário’ e disse que, se já representou um mecanismo para integração do País por meio do noticiário, hoje não há mais motivos para a Voz do Brasil ter a transmissão diária obrigatória e com horário determinado. ‘Os critérios que determinavam a obrigatoriedade envelheceram. É difícil acreditar que seja o único instrumento para o cidadão se informar sobre o Judiciário, o Legislativo e o Executivo. Penso que o conselho devia começar a discutir alteração na legislação, não sei ainda em que sentido. Como ouvinte, me sinto constrangido e gostaria de não ser obrigado a ouvir o programa das sete às oito da noite’, disse o conselheiro.


A presidente da EBC, Tereza Cruvinel, disse que o assunto ‘transborda muito’ o âmbito do conselho curador e que o tema já está em discussão no Congresso. Ela esclareceu que a Radiobrás, empresa incorporada à EBC, apenas veicula a Voz do Brasil como prestação de serviço, mas que o programa é produzido por cada um dos três Poderes.


Tereza Cruvinel confirmou que a EBC terá um ouvidor-geral, a ser escolhido até o meio do ano. Ele fará uma crítica semanal da programação da TV, do rádio e da Agência Brasil de notícias. O ouvidor terá 15 minutos semanais no rádio e na nova TV pública. Além do ouvidor-geral, haverá três ouvidores-adjuntos, para TV, rádio e agência. Os nomes ainda não foram escolhidos.


O conselho curador da EBC tem 15 pessoas e faz reuniões periódicas com a direção da empresa. No encontro de ontem, faltaram o ex-deputado Delfim Netto, o rapper MV Bill, a artista plástica Rosa Magalhães e o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, foi representado pelo secretário-executivo, Juca Ferreira. Participaram ainda os ministros da Comunicação Social, Franklin Martins; da Educação, Fernando Haddad, e da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende.’


 


ORIENTE MÉDIO
O Estado de S. Paulo


TV do Hamas encena assassinato de Bush


‘A emissora de TV do Hamas, na Faixa de Gaza, encenou no domingo a morte do presidente dos EUA, George W. Bush, por uma criança. Com uma espada na mão, o boneco de um menino palestino vai à Casa Branca e culpa Bush pela morte dos pais. ‘Você é um criminoso. Você me deixou órfão’, disse o boneco, antes de executar o presidente.’


 


DITADURA
O Estado de S. Paulo


Indenizações serão julgadas na ABI


‘A partir desta semana, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça julgará pedidos de indenização por grupos específicos, informou a Agência Brasil. A primeira sessão será sexta-feira, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio. Segundo as informações, serão julgados ao menos 15 processos relativos a jornalistas e viúvas de vítimas da repressão. Os julgamentos integram as Caravanas da Anistia.’


 


TELES
Gerusa Marques


Anatel e governo afinam discurso na fusão Oi-BrT


‘O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ronaldo Sardenberg, disse ontem ter sido informado de que a negociação para a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi está para ser concluída. O conselho-diretor da Anatel, no entanto, só deverá discutir a proposta de novo marco regulatório para a telefonia fixa depois do dia 9 deste mês.


Sardenberg se reuniu ontem com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, para tratar das mudanças no Plano Geral de Outorgas (PGO), que viabilizariam a compra da BrT pela Oi. A reunião serviu para afinar o discurso entre os dois órgãos. ‘Nós discutimos longamente os dois procedimentos’, disse o ministro, referindo-se ao novo PGO e à proposta de novas políticas públicas que o ministério está preparando para orientar o setor de telecomunicações nos próximos 10 anos


Sardenberg disse que não foi informado oficialmente sobre o andamento do negócio, mas que teve uma conversa ‘puramente ocasional’ com o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco. ‘Ele (Falco) confirmou que o assunto está a ponto de ser decidido em caráter final’, relatou Sardenberg. Na sexta-feira, os controladores das duas empresas chegaram a um acordo para eliminar pendências judiciais existentes entre ambas. A expectativa do mercado é de que a confirmação do negócio saia ainda nesta semana.


A apreciação da proposta pelo conselho-diretor A Anatel deve ocorrer na terceira semana de abril. Segundo Sardenberg, não haverá tempo para se concluir a elaboração da proposta até a próxima reunião, marcada para o dia 9. Nesta semana, o conselho da Anatel não se reúne, porque dois dos quatro conselheiros estarão fora do País.


Além do PGO, ‘há um grande número de regulamentos que precisam ser revisados’, disse Sardenberg. No dia 13 de fevereiro, o ministério encaminhou à Anatel uma recomendação de modificação no PGO, eliminando as restrições às compras e fusões entre empresas concessionárias de telefonia fixa.


‘Além do PGO, eles (Ministério das Comunicações) abordaram a necessidade de que nós considerássemos outras propostas’, disse Sardenberg, referindo-se à recomendação de mudança de regras na telefonia celular e no setor de TV por assinatura. ‘Estamos fazendo isso. Esses processos estão se aproximando do seu auge.’


O ministro Hélio Costa voltou a dizer que acredita que a união da Oi com a BrT poderá trazer ‘um ganho muito grande’ para o consumidor. Segundo ele, há estudos internacionais que mostram que a consolidação entre empresas gera ganhos de escala e de operação, que podem ser revertidos para o usuário.


O ministro citou uma oferta de uma empresa de telecomunicações que estaria vendendo, por R$ 39, um pacote de serviços com telefonia fixa, internet banda larga e TV por assinatura. ‘Acho que isso é um bom caminho do que vai acontecer na medida em que você começa a diminuir custos e colocar operações em conjunto.’’


 


PACOTE
Monica Ciarelli


Triple play pode ter vida curta, diz IDC


‘As operadoras de telefonia e as empresas de TV a cabo brigam pelo mercado brasileiro do chamado triple play, pacote de serviços que reúne telefone, banda larga e TV por assinatura. Mas será que vale a pena? Um estudo da consultoria IDC mostra que o sucesso do triple play pode ter vida curta no Brasil.


Em seu último boletim sobre o mercado de telecomunicações, a consultoria lembrou que a experiência em mercados mais maduros, como o Canadá, ficou abaixo das expectativas. O trabalho mostra que a oferta de triple play não foi um diferencial para as operadoras de telefonia fixa e empresas de TV a cabo.


Além disso, as vendas não resultaram em aumentos de receitas. Segundo a consultoria, passada a onda do lançamento, ficou nítido para as empresas que um incremento das receitas só seria possível com a inclusão de novos serviços. A constatação deu origem ao quadruple play, que também coloca à disposição dos consumidores os serviços de celular e mobilidade, como banda larga móvel.


Para Vinicius Caetano, analista de telefonia do IDC, o Triple Play muito em breve vai deixar de ser um diferencial para virar commodity no mercado brasileiro. ‘O triple play será visto simplesmente como uma plataforma para agregar novos serviços. E, da mesma forma que no Canadá, as empresas que aqui ofertam os pacotes terão de se valer do quadruple play e de novos serviços para angariar mais receita’, disse.


Caetano acrescenta que há sinergia para isso no mercado brasileiro. Ele lembra que importantes empresas de telefonia fixa e de cabo têm como matrizes companhias que possuem participação em operadoras celulares. Segundo ele, outro fator que reforça o interesse pelo quadruple play é a tendência para a interatividade via TV, já que os pacotes contemplam TV digital e banda larga.


O triple play tem incentivado as vendas da Net. Sua base de clientes de televisão cresceu 15,5% no ano passado, para 2,475 milhões. Os assinantes de banda larga aumentaram 64,7%, para 1,423 milhão, e os de telefonia subiram 211,5%, para 567 mil. A Telefônica passou a oferecer TV paga como uma reação à Net.’


 


FUSÕES E AQUISIÇÕES
O Estado de S. Paulo


Microsoft não elevará oferta pelo Yahoo


‘Dois meses depois de ter feito uma oferta de US$ 44,6 bilhões para comprar o Yahoo, a fabricante de softwares Microsoft não tem planos de elevar sua proposta, de acordo com pessoas próximas à companhia. Esse tipo de pronunciamento é padrão em negociações, mas fontes próximas à Microsoft insistem que a atitude não é falsa – embora tenham circulado especulações de que a empresa faria uma nova oferta. A informação é do Wall Street Journal.’


 


LIVROS
Valéria França


Paulistanos contam suas memórias em livro


‘Eles são paulistanos que nunca pensaram um dia posar de escritores. Mario Lopomo, de 68 anos, tinha uma oficina de estofar móveis, mas está aposentado; Neuza Guerreiro de Carvalho, de 77, é bióloga; e Doris Day, de 58, professora primária – além de fã da atriz americana de mesmo nome. Os três estão entre os 370 paulistanos que contam suas memórias em 343 páginas de São Paulo Minha Cidade.com, livro que será lançado hoje à noite, num coquetel com a presença do prefeito Gilberto Kassab (DEM).


Organizado pela São Paulo Turismo (SPTuris), o livro nasceu no site da empresa, que há 5 anos abriu um espaço para os paulistanos contarem um pouco de suas experiências na cidade. ‘O livro começou com uma idéia simples de reunir histórias e acabou surpreendendo pela intensa participação. Por isso, decidi fazer um livro’, diz Caio Luiz de Carvalho, presidente da SPTuris. Foram deixados no site 6.500 textos, entre comentários e histórias. O livro não será vendido, mas em 15 dias estará disponível para download no site www.saopaulominhacidade.com.br.


Tratam-se de relatos curtos, que juntos formam o retrato de uma metrópole mais charmosa, calma e até mesmo poética, muito diferente do que se vê hoje por aí. O publicitário Luiz Saidenberg descreve, por exemplo, um tempo em que as agências de publicidade paulistanas tinham um ambiente tranqüilo e que as pessoas podiam até interromper o expediente para ver a bandinha passar na rua. ‘Todas as agências eram no centro, próximas à Rua 7 de Abril. A região era bem melhor do que hoje. Depois, elas foram para a Avenida Paulista e, em seguida, para a região do Brooklin. ‘Há pouco fiz um frila numa grande agência. Hoje todos trabalham silenciosamente numa grande sala . A comunicação é só via e-mail.’


Apesar da faixa etária dos autores variar entre 20 e 80 anos, a maioria está para lá dos 50 anos. E muitos dos relatos têm como cenário o centro da cidade numa época em que a região ainda concentrava as melhores lojas, bons restaurantes e grandes salas de cinemas.


NOSTALGIA


Viúva, a bióloga Elza lembra com nostalgia dos passeios que fazia com seu marido às sextas-feiras à noite, no centro, na década de 1950. Era seu dia de namorar. ‘Cinema, jantar romântico, olhos nos olhos para repetir o que já estava incorporado às nossas vidas… Arremate da noite com flores da Praça da República em românticos buquês de violetas.’


O mesmo centro também deu espaço para a descrição de personagens que marcaram época. É o caso do guarda Luiz Gonzaga Leite, que fez história entre a Rua Coronel Xavier de Toledo e a Barão de Itapetininga, na frente do Mappin – atual Casas Bahia. Ele era conhecido por não dar multas, mas verdadeiras lições de trânsito e cidadania. Ivan Castelo Branco escreve que, quando os carros avançavam na faixa de segurança, ‘ele abria as portas dos veículos e solicitava que todos os transeuntes passassem por dentro do carro.’


‘Nem tudo mudou no centro’ , diz Lopomo, que escreveu 150 textos para o site. ‘As pessoas continuam com pressa e os ônibus, lotados. Lembro bem do papa-fila (1944), ônibus enorme, com cavalo mecânico. Tinha capacidade para 300 pessoas. O papa-fila saía lotado. O centro nunca foi tranqüilo. Tinha batedores de carteira e suicidas que se jogavam do Viaduto do Chá. Na cidade em geral, no lugar de crimes passionais, hoje, temos crimes horrendos, como o da menina que caiu da janela do sexto andar no domingo.’


TRECHOS DA OBRA POR ESCRITOR


Ivan Castelo Branco


‘… o guarda Luizinho se tornou uma das personalidades mais queridas nas décadas de 1970 e 1980 por usar métodos inusitados… Quando isso acontecia (um carro parava em cima da faixa), ele abria as portas dos veículos e solicitava que todos os transeuntes passassem por dentro do carro.’


Paulo Antonio Ferraz Simardi


‘Quanta coisa mudou no bairro de Pinheiros, onde nasci. A rua se chamava Borba Gato, hoje se chama Virgílio de Carvalho Pinto. Era de terra e, na década de 1950, acreditem, se tomava leite de cabra na porta de casa; era uma festa quando ouvíamos as sinetas do rebanho e saíamos à rua.’


Doris Day


‘Na década de 1970, eu costumava ir ao teatro com meu irmão… Algumas peças ficaram gravadas na minha memória.


A primeira foi Hair. Sonia Braga era ainda uma garota e trabalhou com Aracy Balabanian… Era a primeira vez que via nus no palco.’’


 


Flávia Guerra


Confissões de Maitê


‘‘A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer’, dizia Mario Quintana. Na vida, e nas letras, de Maitê Proença, todas as mentiras aconteceram. E com requintes de realidade. Ou foram inventadas por um deus caprichoso que, num belo dia (ou nem tão belo assim, pois começou a escrever para espantar a morte de um amor), descobriu que havia ganhado para sempre a vontade de despejar o mundo no papel. Esse deus é Maitê. Seguindo a máxima de que a melhor maneira de se prever um futuro é construindo, ela reconstrói seu passado em Uma Vida Inventada, livro que autografa hoje na Livraria da Vila, com leitura de Irene Ravache.


Maitê já havia lançado Entre os Ossos e a Escrita, compilação das crônicas que escreveu para a revista Época. Desta vez, deixa de falar da ?vida dos outros? para falar da sua. Mas não nos espelhamos nas entrelinhas de cada bilhete que escrevemos? ‘Claro! Uma mulher falando de futebol americano será sempre uma mulher. Já falava de tudo, mas sempre com meu olhar’, responde a atriz, comentarista do Saia Justa, do GNT, e também diretora de teatro.


Desta vez é a sua biografia que ela despeja, sem poupar as entrelinhas mais dolorosas, como o assassinato da mãe pelo pai quando ela tinha 12 anos, em um livro que faz correr paralelamente o relato histórico e a ficção. Não esquecer: as paralelas se encontram no infinito.


E é esse olhar de Maitê, que se lança agora em nossa direção – olhos de menina-moça com pés de sátiro, que se embrenhava pelas Campinas da cidade onde passou a morar depois que o pai foi transferido de Ubatuba (onde ela cresceu tendo como luxos o mar e quase roupa nenhuma). Esse olhar nos convida a deixar os preconceitos e ler o que uma atriz tem para dizer diante de um mundo que existe, mas parece imaginação.


Imaginação, divagação, empenho e, por que não?, estilo e prosa não faltam a Maitê. Ouse passar pela primeira porta do preconceito e descobrir que a narrativa dupla que Maitê escolheu para seu primeiro, e inclassificável, livro, contém a realidade da biografia. E também o lirismo que todo romance traz, sem deixar de ter a observação de um diário de bordo – viagens que vão do Ceará à China, passando pela Birmânia e Afeganistão.


Deixemos as velhas, e óbvias, questões sobre os segredos de beleza de Maitê, o seu lado aquariano que surfa nas ondas de uma dose de Santo Daime, de quanto gostaria de ter mais tempo para deitar na rede, de como engravidou aos 16 anos em sua primeira vez (e praticou um aborto e o admitiu), entre outros grandes pormenores de Uma Vida Inventada, e falemos do medo de se lançar em uma vida literária. Como diz a autora, corajoso não é quem não tem medo, mas quem tem medo e pula. Então, pulemos:


Soube que seu pai havia assassinado sua mãe em um especial da TV. Era chocante descobrir, mas, ao mesmo tempo, você falou do assunto com sobriedade. Como decidiu contar agora essa e outras passagens tão difíceis de sua história em Uma Vida Inventada ? Houve um critério técnico para criar a narrativa?


Critério nenhum. Tentei escrever. E quando tinha umas 60 páginas, liguei para meu editor e disse: ‘Não sei o que é isso. Se presta. Se estou perdendo tempo. Vou te mandar.’ Ele respondeu: ‘Não vou te dizer nada. Não tenho a menor idéia de que gênero é. Mas segue nisso.’


De fato. Não é uma biografia clássica, nem tampouco um romance.


Exatamente. Há duas histórias que correm lado a lado. Isso também não foi pensado. Precisava da história paralela. Minha idéia não é contar o fato. O que me interessa é o que nos toca. O livro é contado na primeira e na terceira pessoa. Uma está dentro da outra. A ponto de não se saber o que é verdade. O que as pessoas sabem de mim? Da minha vida adulta? Constroem um recorte do que vêem na tela, do que falo e do que falam na imprensa. No fundo, sou outra. E até muito normal. Mas, em geral, a imprensa não fala das pessoas normais. A personagem também não sou eu. A única coisa que eu sempre quis fazer neste livro era este jogo de pistas falsas. Você pode criar sua verdade.


Daí o passado voltar de forma factual e também lírica?


Sim. Porque não se consegue se livrar do passado. Ele volta, infiltra-se. Uma das formas de lidar com ele é escrever um livro. Durante 27 anos jamais toquei nos assuntos mais dramáticos da minha biografia. Achava que uma carreira não se faz com a piedade de ninguém. Mas, num programa de auditório, o apresentador achou que podia contar minha história para o Brasil. E todos acharam que também podiam.


Mas, apesar de conhecido, continuou um assunto um tanto velado.


Sim. Me recuperei do choque. Tentei explicar, em uma crônica, por que não ia falar disso. Não deu certo. Depois de dois anos, pensei: Se esta história é minha, posso contá-la. E não saberia falar certas coisas. Não por trauma, mas porque não acho adequado. A maneira que escolhi é através da literatura, sem autopiedade, que execro.


Em tempos em que pessoas são catalogadas, você teme as críticas?


Não. Porque eu falo de um universo que me é legítimo. Este livro brota do profundo do meu ser. Todos temos mecanismos de defesa. Cada vez mais, tento me livrar dessas camadas protetoras. A Maitê pode tê-las, mas a pessoa que escreve, não. Senão, não há verdade.


Serviço


Uma Vida Inventada. De Maitê Proença. Editora Agir. R$ 29,90. 224 págs. Livraria da Vila. Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, 3814-5811. Hoje, 19 h’


 


TELEVISÃO
Alline Dauroiz


SBT faz Ídolos B


‘Na corrida para competir com o Ídolos, que agora é da Record, o SBT largou na frente e lançou ontem seu programa de calouros. Com estréia na próxima quarta-feira, às 22h30, o novosídolos irá explorar o que dava mais audiência no antigo Ídolos: os candidatos sem-talento – e sem-noção – que apresentavam números bizarros nas seleções e garantiam o riso do público.


‘O foco será 80% nos participantes engraçados. Teremos os TOP 10, com os mais desafinados, por exemplo. E é o público quem escolherá pelo site do programa’, explica o diretor Ricardo Mantoanelli.


Apesar do nome parecido, e dos jurados e apresentadores permanecerem os mesmos, o diretor garante que a atração será diferente do formato da Freemantle, que foi para Record. ‘Agora vale tudo: cantores, duplas, bandas, instrumentistas… Só precisa ser maior de idade.’


Não haverá temporadas. Serão quatro programas mensais – três para audição e uma final. Para decepção de quem sonha em gravar um CD, o prêmio será um carro 0 Km. Mas Mantoanelli justifica: ‘Do jeito que anda a indústria fonográfica, contrato com gravadora está mais para castigo.’’


 


Ubiratan Brasil


Simpsons brincam com a TV


‘Depois de 19 temporadas seguidas na televisão americana (recorde absoluto), a expectativa era grande para a chegada da série Os Simpsons ao cinema. Os números (US$ 500 milhões arrecadados desde agosto) comprovam o sucesso, que deverá crescer com a chegada agora de Os Simpsons – O Filme em DVD (Fox, R$ 39,90).


A história segue o padrão da série televisiva, ou seja, Homer apronta inúmeras peripécias (chega a levar a família para o Alasca baseado no velho sonho americano de conquistar novas terras) até chegar ao ponto de Springfield ser considerada um grave problema para o governo americano, que simplesmente isola a cidade com uma enorme cuba de vidro. Claro que a população se volta contra os Simpsons, obrigando Homer a, mesmo sem querer, buscar a solução.


O sucesso da sátira mais ácida da classe média americana está justamente em utilizar o humor negro como combustível. E o filme traz a mesma visão irreverente e crua que provocou torrentes de comentários sobre o declínio da cultura dos EUA.


Como o humor não tem fronteiras (tornou-se célebre a visão cáustica apresentada do Rio de Janeiro em um episódio da série, com a cidade repleta de cobras e trombadinhas), os produtores mexeram em um vespeiro quando, durante a divulgação do filme, inventaram a descoberta de um desenho de Homer Simpson ao lado da pintura do Gigante de Cerne Abbas, símbolo do paganismo, em Dorset, interior da Inglaterra, irritando alguns seguidores da crença.


Para a divulgação do DVD, a solução foi mais amena, como a inventada entrevista com Marge, a matriarca dos Simpsons. O DVD traz comentários dos roteiristas e do diretor, Matt Groening. Também chamadas promocionais, incluindo O Júri Simpsons no American Idol e O Monólogo do Homer no Tonight Show, que brincam com atrações da TV americana.’


 


JOÃO SALDANHA
Luiz Zanin Oricchio


As histórias de um João sem medo


‘Quem deu a João Saldanha (1917-1990) o apelido de João sem Medo foi seu amigo e colega Nelson Rodrigues. Nelson, como sempre, sabia do que estava falando. João, como aquele personagem de Caymmi, era valentão e brigão, apesar de magrinho. Comprava encrenca com todo mundo. Do dono de farmácia que lhe vendera pilhas vencidas aos ditadores do período militar. Foi durante a vida adulta toda militante do Partido Comunista Brasileiro e chegou à sua cúpula. Preparou a mitológica seleção de 1970 – aquela que conquistaria o tricampeonato para o Brasil, mas não sob o comando de João, demitido antes da Copa do México, numa história enrolada, até hoje não de todo esclarecida. João morreu, talvez, como queria. Na cobertura de outra Copa do Mundo, a da Itália, em 1990. Essa, em alguns traços, a vida de João Saldanha, contada no cinema por seu biógrafo André Iki Siqueira e por Beto Macedo.


O filme João, na programação do Festival de Documentários É Tudo Verdade, conta com depoimentos e imagens de arquivo do próprio João, para relembrar a história do menino gaúcho, filho de pai rico, que cresceu entre armas e conflitos, nas intermináveis disputas entre maragatos e chimangos. João foi forjado no combate e essa característica bélica o acompanharia ao longo da vida. Quando a família se mudou para o Rio, ele logo se adaptou à vida da praia. Aprendeu a curtir futebol de areia e jogou, com Heleno de Freitas, no time do não menos mitológico Neném Prancha. O filme avança com Saldanha tornando-se treinador do Botafogo, campeão carioca de 1957.


Saldanha é um personagem tão rico que excede as pretensões de um documentarista. Tanto assim que Iki Siqueira, um dos dois que assinam o filme, escreveu uma sólida biografia intitulada João Saldanha – Uma Vida em Jogo (Companhia Editora Nacional) com nada menos que 552 páginas. Mas há um dado a mais, que aumenta o interesse do documentário. João é todo o tempo visto contra o pano de fundo do momento histórico que lhe foi dado viver. Nem poderia ser de outra forma, se quisesse ser fiel ao personagem, pois Saldanha foi sempre, integralmente, homem do seu tempo. Militante político, atuante e desassombrado, encarnou todas as contradições do período histórico em que viveu. E levou-as ao seu campo de atuação profissional – o futebol.


Mas, apesar da rigidez ideológica, era modernizador, pois atento à dialética (e, portanto, à mudança) inevitável da história. Percebeu que o tempo do futebol era outro e montou um time taticamente mais plástico para enfrentar a Copa do Mundo de 1970. Ao mesmo tempo, era inevitável que se chocasse com a estrutura militarizada da Comissão Técnica e que os conflitos se agravassem, impedindo-o de acompanhar a equipe que montara à conquista do tri. Há muitas versões para essa história e, como não existem certezas, o filme se limita a apresentá-las. Do desconforto de uma ditadura de direita com um técnico membro do PC à suposta imposição de Médici para a convocação do atacante Dario – tudo foi fermentando numa situação de fritura. Tostão resume: ‘O clima foi ficando tenso e nós (jogadores) sabíamos que não iria terminar bem.’ E não terminou mesmo. João foi demitido na véspera da Copa e voltou à função de comentarista esportivo.


Desse ir-e-vir entre a história pessoal e a do País, o documentário tira sua força. Mas não menos atrativas são as pequenas histórias desse homem que era escritor despojado, mitômano militante que dizia ter participado do desembarque da Normandia e da Grande Marcha de Mao, do briguento capaz de atos de extrema generosidade, do frasista genial. De alguém que amou seu país acima de tudo. Quando lhe perguntaram se era otimista, respondeu: ‘Claro; se não fosse otimista já teria me naturalizado dinamarquês; acredito no Brasil e em seu povo.’ Esse era o João sem Medo, figura que talvez não tivesse vez neste ambiente mesquinho e burocratizado que é o nosso, um país de futricas e dossiês. E num futebol de mercadores e almofadinhas. João era de outra época. Pior para nós. Se estivesse vivo, estaria brigando por coisas em que acreditava.


Veja Também


Considerado um clássico político do cinema brasileiro, o filme Linha de Montagem, de Renato Tapajós, sobre as greves de 1979/80 no ABC, quando surgiu a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, teve problemas com a censura do regime militar. Restaurado, o documentário passa hoje às 19h30 na Sala Cinemateca, seguindo-se um debate com o diretor.


Serviço


João. De André Iki Siqueira e Beto Macedo. CineSesc. R. Augusta, 2.075, 4087-0500. Hoje, 21h; amanhã, 13h. Grátis. Cotação: Bom’


 


 


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 2 de abril de 2008


ESCÂNDALOS
Clóvis Rossi


Leviandade é crime


‘SÃO PAULO – Se o poder público brasileiro (no caso, o paulista) adotasse o devido rigor, puniria o delegado responsável pelo caso da menina Isabella Oliveira Nardoni, 5 anos, morta no sábado, por colocar o pai como suspeito.


No fundo, estamos diante de uma gênese idêntica ao escândalo da Escola Base, no qual a mídia foi crucificada, com toda a justiça. Mas faltou mais alguém na cruz: o delegado responsável pela investigação do caso.


Vamos rebobinar um pouco a fita e analisar as circunstâncias em que se deu a desumana crucificação dos responsáveis pela escola, apontados como abusadores de crianças.


Quem detinha, com exclusividade, todas as informações? O delegado.


Ninguém mais. Quem repassou as informações aos jornalistas, coletivamente? O delegado. Aos jornalistas, restava um de dois caminhos: duvidar ou acreditar (claro que me refiro aos jornalistas de boa-fé; os que têm índole sensacionalista não precisam acreditar ou duvidar de nada para dar vazão à índole).


Mais: se duvidassem e decidissem não publicar, seria preciso que todos tivessem idêntico comportamento. Um só que publicasse já estaria provocando o dano à reputação dos donos da escola.


Agora é um pouco a mesma coisa.


O delegado deu entrevista que a Rede Globo, pelo menos, pôs no ar (não vi outros telejornais, mas suspeito que todos o tenham feito).


Adiantaria alguma coisa se a Folha, digamos, não publicasse a acusação ao pai da menina?


Salvaria a face do jornal, mas não salvaria o principal, que é a reputação do pai.


Nem importa, no caso, se vier a se comprovar que o pai é mesmo culpado. Não cabe ao delegado, ao menos nesta fase da investigação, dizer quem é ou não suspeito.


Se o pai for de fato culpado, será punido ao fim da investigação. Se for inocente, já está punido.’


 


CAMPANHA
Kennedy Alencar


Marketing de petista vai focar em ações sociais para garantir sucessor em 2010


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já colocou em prática uma estratégia para tentar minar a oposição na sucessão de 2010. Principal ponto: vender para a população o risco de ‘retrocesso’, expressão usada por Lula anteontem, sobretudo em relação às conquistas sociais.


Articulada pelo jornalista João Santana, essa estratégia tem as funções de ressaltar feitos da gestão Lula, vendendo assim uma imagem para reforçar a já alta popularidade do presidente, e ser ampla o suficiente para que um ou mais candidatos do campo lulista a abracem em 2010.


Reservadamente, Santana avalia que a economia é uma área na qual o PSDB tem realizações (o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal). Mais: a inflação baixa já não seria mais um ativo político, pois estaria incorporada como conquista desde 1994.


Pesquisas de Santana mostram que a paternidade política da ampliação dos programas sociais é incontestavelmente de Lula. Outro dado do levantamento, segundo apurou a Folha, mostra o impacto da expansão do crédito (crédito consignado, juros mais baixos, etc) sobre o consumo popular.


Ao fechar seu mandato, um auxiliar de Lula diz que ele poderá falar que cumpriu a principal promessa que fez ao subir a rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2003 de governar para os mais pobres.


Essa marca de ‘pai dos pobres’ tem sido explorada pelo presidente nas viagens para falar do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).


O presidente nega que essa estratégia é uma forma de semear um ‘queremismo’, o terceiro mandato seguido do petista. Em privado, Lula repete que não deseja concorrer em 2010 e acrescenta que pagaria um preço político alto.


O jogo de Lula é se fortalecer politicamente para fazer o sucessor. O presidente já discutiu com aliados casos em que a criatura se voltou contra o criador. A observação que mais marcou Lula, conta um cacique petista, foi feita pelo ex-ministro Waldir Pires.


Segundo Pires, Juscelino Kubitschek errou ao lançar um ‘candidato para perder’ em 1960 -o marechal Henrique Lott. JK contava com essa derrota para voltar em 1965, mas o golpe de 1964 dinamitou seus planos. Para Pires, Lula poderá ter a mesma sina se usar recurso semelhante para tentar retornar nas eleições de 2014.’


 


Daniela Arrais


TSE vai controlar campanha eleitoral municipal na internet


‘Sem Facebook, MySpace e YouTube, provavelmente a campanha de Barack Obama à Presidência dos EUA não teria alcançado tanta repercussão. O ‘candidato 2.0’, que tem perfil em redes sociais e trava debates on-line, conseguiu arrecadar US$ 135 milhões, até janeiro, via doações de internautas.


A força da rede em campanha eleitoral, no entanto, deve passar longe das terras brasileiras. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgou as condutas vetadas para a campanha municipal de 2008.


De acordo com o artigo 18 da Resolução 22.718, ‘a propaganda eleitoral na internet somente será permitida na página do candidato destinada exclusivamente à campanha eleitoral’.


Isso significa que apenas os candidatos poderão promover suas propostas quando começar o período eleitoral, em 6 de julho. Se um eleitor quiser fazer propaganda em seu blog ou no Orkut, poderá ser impedido -também há risco de multa para ambos.


‘Ao proibir a utilização dos recursos gratuitos que estão disponíveis na rede, o TSE beneficia quem controla os canais da ‘mass media’ e prejudica quem tem maior articulação na rede’, analisa o doutor em ciência política Sérgio Amadeu.


De acordo com o presidente do TSE e ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio Mello, o objetivo é equilibrar a campanha. ‘Se não, quanto maior o poder de penetração do candidato e seu poder econômico de arregimentar gente para ter blog, ele terá maior propaganda, desequilibrando a disputa’, afirmou em entrevista por telefone à Folha.


Espera


Consulta ao TSE feita pelo deputado federal José Aparecido (PV-MG) questiona se será possível usar ferramentas da internet para angariar votos -como marketing por e-mail, blogs, perfis em redes sociais etc. A consulta 1.477 ainda precisa entrar na pauta do TSE e ser avaliada pelos ministros -isso deve ocorrer até julho.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O pior já passou?


‘Alta em Wall Street e Bovespa, por ‘WSJ’ e UOL, e ‘a sensação de que o pior já passou’, diz ‘o mercado’.


Mas Lula, em manchetes no Terra e outros, ‘admite que a crise prolongada nos EUA pode afetar o Brasil’. Também Guido Mantega, na Folha Online, ‘admitiu que os emergentes podem ser afetados pela crise dos EUA’. Estavam, parece, sob choque de nova queda no superávit comercial, recebida aqui e ali com ‘medo’.


Por coincidência, ontem o ‘Financial Times’ deu artigo em que o investidor Mark Mobius contou de sua turnê de um mês por Brasil, Argentina e outros, para concluir no título que a ‘Recessão dos EUA não vai atrapalhar as bolsas nos mercados emergentes’.


O FIM DO…


A exemplo da BBC Brasil, Richard Lapper, editor no ‘FT’, conta em dois textos que agora ‘os migrantes estão preferindo se mudar para a Europa, Austrália ou Canadá e não EUA, para proteger o poder de compra do dinheiro’ ganho. Vale para nepaleses, filipinos -e para, destaca o ‘FT’, Governador Valadares.


SONHO AMERICANO


Uma das reportagens tem por título ‘Sonho americano é atingido pelo declínio do dólar’. A segunda, intitulada ‘Norte começa a perder seu atrativo para os brasileiros’, se estende sobre a história de um trabalhador brasileiro em construção que demorou ano e meio para pagar sua entrada ilegal nos EUA e já voltou.


BIOCOMBUSTÍVEL E O CLIMA


Pela segunda vez em uma semana, ontem o britânico ‘Guardian’ deu manchete contra biocombustíveis -desta vez contra a importação pela Europa, dos EUA, onde um esquema ‘explora subsídios’ e ‘mina a luta contra o aquecimento’. Longo texto paralelo defende a indústria britânica de biocombustíveis. E outro, recuperado, deu o etanol de cana do Brasil como de ‘melhor performance’.


O ‘Guardian’ não está só. Ontem o francês ‘Le Monde’ deu reportagens destacando que os ‘agrocombustíveis’ dividem agricultura. E o espanhol ‘El País’ bradou que os biocombustíveis perderam ‘o selo ecológico’ na Europa.


NOVA FONTE


Se a mídia de Europa e EUA abre campanha antibiocombustíveis, a agência estatal da China destaca, com série de fotos tiradas em usinas, a ‘nova fonte de energia do Brasil, o biodiesel’. Na imagem, mamona


BIOCOMBUSTÍVEL E A FOME


Ontem, também o ‘Los Angeles Times’ abriu manchete contra ‘o uso de colheitas para biocombustíveis’, o que, junto com a alta do dólar, leva ao aumento no custo dos programas de alimentação da ONU. Estaria ‘frustrando os esforços para combater a fome’. Os enviados estão na África, de onde descrevem revoltas populares por comida.


Em texto paralelo, o jornal conta como a ‘Demanda por comida abastece de lucros a América do Sul’, demanda que, da soja à cana, vem principalmente de China e Índia.


‘WSJ’ VS. ‘NYT’


Como previsto quando o conservador Rupert Murdoch comprou o ‘Wall Street Journal’, a concorrência passou a ser o liberal ‘New York Times’ e não outros financeiros.


O ‘Washington Post’ destaca que o ‘WSJ’ quer ‘tornar a política seu negócio’. Em ‘quatro meses, a capa ganhou tensão política, estabelecendo o jornal como protagonista na campanha’. E em resposta, afirmam HuffPost e Slate, o ‘NYT’ deu uma série de ‘furos’ de economia no ‘WSJ’.


GOVERNOS, GOVERNOS


A Microsoft conseguiu: fez do Open Office XML ‘padrão global’ junto a organização multilateral, noticiou o ‘FT’. Agora tem ‘mais chance de obter contratos de governos’.


TSE E OS BLOGUEIROS


A reação blogueira ao TSE, por ‘proibir campanha’, foi parar no Global Voices Online de Harvard. ‘Desde quando pode mandar no meu blog?’, revolta-se Gica Trierweiler.’


 


DIA DA MENTIRA
Folha de S. Paulo


Sarkozy é alvo de notícia falsa no 1º de Abril


‘O tablóide britânico ‘The Sun’ informou ontem que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, ia passar por uma operação nos ossos para ficar 12 centímetros mais alto do que sua mulher e ex-modelo Carla Bruni. Já o tradicional jornal ‘Guardian’ publicou que Bruni tinha recebido uma oferta de emprego do premiê britânico Gordon Brown para embelezar o Reino Unido.


Tudo mentira, que virou notícia como é costume da mídia internacional no 1º de Abril, o ‘Fool’s Day’ deles. O casal Sarkozy, que fez uma visita oficial de grande sucesso ao Reino Unido na semana passada, foi um dos alvos das brincadeiras, mas não o único.


Na Austrália, a rádio 2UE disse que o papa Bento 16 ia realizar uma missa para homossexuais em sua primeira visita ao país, em julho. E o empresário Richard Branson, em complô com o site Google, anunciou uma joint venture para colonizar Marte.


Com agências internacionais.’


 


ORIENTE MÉDIO
Folha de S. Paulo


Órfão ‘mata’ boneco de Bush em programa do Hamas


‘Um menino palestino de papelão matou ontem a marionete do presidente americano, George W. Bush, em um programa infantil transmitido na faixa de Gaza pela TV al Aqsa, do Hamas. Brandindo a ‘espada do Islã’, o boneco-menino ignorou os pedidos de clemência e os convites para uma Casa Branca cheia de brinquedos.


‘Você é um criminoso, Bush, um homem desprezível. Você fez de mim um órfão’, disse a marionete, que culpou o americano pela morte do pai na Guerra do Iraque, da mãe no Líbano e dos irmãos no ‘holocausto da Palestina’. De uniforme militar e luvas de boxe, o boneco Bush pediu ajuda aos amigos, mas foi derrotado pelo jovem oponente.


Sucesso de audiência em Gaza, a TV freqüentemente recorre a personagens carismáticos para a ilustrar a resistência do grupo islâmico e convocar as crianças a lutarem contra Israel.


No ano passado, Farfur -sósia do ratinho americano Mickey- foi ‘assassinado’ no ar, por agentes israelenses, após protestos da Disney pela semelhança com sua personagem clássica. Ele foi substituído pela abelhinha Nahoul, que ‘morreu’ por falta de medicamentos, devido ao bloqueio israelense. Ainda está vivo o coelhinho Assud, aspirante a mártir que a sucedeu.


Com agências internacionais’


 


INTERNET
Camila Rodrigues


Embratel inicia WiMax em SP e mais 11 cidades


‘A partir de amanhã, a Embratel passa a utilizar WiMax (tecnologia de banda larga sem fio) para oferecer conexão à internet para pequenas empresas de 12 cidades do Brasil. O lançamento oficial será na sede da empresa, em Brasília.


O serviço será oferecido em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e São Paulo.


O WiMax é uma tecnologia que utiliza comunicação via ondas de rádio que permite levar banda larga a lugares onde não há infra-estrutura cabeada por motivos geográficos, por exemplo. Segundo Huber Bernal Filho, da consultoria Teleco, ela é concorrente da recém-lançada 3G (banda larga via rede celular, cujo leilão de freqüências aconteceu em dezembro último). ‘O custo de implantação é bem menor. Por isso, o grande uso de banda larga via WiMax será em países emergentes.’


Anteontem, o WiMax Forum, que regulamenta os padrões da tecnologia, publicou um estudo que estima que, em 2012, haverá mais de 133 milhões de usuários no mundo.


De acordo com Maurício Vergani, diretor-executivo da Embratel Empresas, a nova rede servirá somente para ampliar a cobertura atual, ou seja o usuário não poderá escolher entre o serviço com e sem fio, cuja velocidade é de 2 Mbps.


‘Nós oferecemos banda larga usando o cabo coaxial da Net Virtua e estamos usando o Wimax para complementar a cobertura em algumas cidades. A tecnologia vai depender do endereço do usuário’, afirma. Ou seja, a empresa não está oferecendo um serviço 100% WiMax porque, de acordo com Vergani, ‘seria um desperdício da estrutura atual’.


A Embratel só conseguiu construir sua rede porque adquiriu, em 2003, freqüências em 3,5 GHz para todas as localidades do território nacional.


Na época, outras quatro empresas também adquiriram licenças para a freqüência: a Neovia -que oferece conexão de 34 Mbps para pequenas empresas em 50 cidades no Estado de São Paulo-, a Brasil Telecom, o Grupo Sinos e a WKVE.


Em 2006, a Anatel abriu um edital para o leilão de novas licenças de banda larga sem fio pelo padrão WiMax, mas foi cancelado em decorrência de questionamentos do TCU. Na época, cem empresas entregaram propostas ao órgão. Em fevereiro deste ano, a Anatel decidiu revogar o edital.


Até o final do ano, a rede WiMax da Embratel deverá abranger 61 cidades no país. Nessa primeira fase, a empresa investiu R$ 175 milhões e, até o final do projeto, deverá gastar cerca de R$ 600 milhões, segundo comunicado oficial.’


 


TELES
Humberto Medina


Oi comunica à Anatel acordo para compra da Brasil Telecom


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) foi informada extraoficialmente pela Oi de que a operação de compra da Brasil Telecom deve ser concluída em breve.


‘Tive notícia não-oficial, nada além disso’, afirmou Ronaldo Sardenberg, presidente da agência reguladora.


‘Tive uma conversa com o Falco [Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi], mas foi puramente ocasional e era sobre outra coisa. Ele confirmou que o assunto [compra da BrT] está pronto a ser decidido em caráter final’, disse.


Ontem, Sardenberg e o conselheiro Antônio Bedran estiveram reunidos com o ministro Hélio Costa (Comunicações) para tratar das alterações que serão feitas na legislação do setor para permitir a operação.’


 


FUTEBOL
Tostão


Fatos, rumores, boatos e fofocas


‘O que tem acontecido com Ronaldinho? Ninguém sabe. A única certeza é que ele não é o mesmo craque desde a Copa


É ENORME o número de notícias negativas que têm surgido todos os dias sobre Ronaldinho. A imprensa da Espanha publica, e a do Brasil destaca. Até as críticas feitas em um livro pelo medíocre treinador Luiz Fernández, que dirigia o Paris Saint-Germain na época em que atuava Ronaldinho, tiveram exagerada repercussão.


De atleta bonzinho, bem comportado e que só pensava no futebol, Ronaldinho passou a ser farrista, desleixado e que inventa contusões. Não sei, em tudo isso, separar o que é fato, rumor, boato e fofoca. Deve haver também em muitas pessoas um prazer, um desejo consciente ou não, de presenciar a queda de um ídolo.


Pela importância de Ronaldinho, a imprensa brasileira e mundial deveria apurar mais o que realmente tem acontecido. A única certeza é a de que ele não é o mesmo craque desde a Copa de 2006.


Mesmo que não recupere seu espetacular futebol, Ronaldinho ficará na minha memória como um dos grandes jogadores da história. Nenhum dos craques em atividade tem o esplendor técnico que teve Ronaldinho durante os dois anos seguidos em que foi o melhor do mundo.’


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Silvio Santos dá ultimato ao ‘Aqui Agora’


‘No ar há um mês, o ‘Aqui Agora’ terá que dar média de oito pontos em abril. Caso contrário, mudará de horário ou sairá do ar. O ultimato foi dado anteontem por Silvio Santos, dono do SBT, ao jornalista Albino Castro, diretor do programa.


A missão é quase impossível. Em março, o telejornal popular deu média de 4,6 pontos. Teria de crescer 74% para atingir a meta. Nem programas do próprio Silvio Santos, como o ‘Tentação’, têm esse ibope.


Com o ‘Aqui Agora’, o SBT, em vez de disputar a vice-liderança com a Record, como pretendia, caiu para o quarto lugar no Ibope. O telejornal só ganhou do ‘Brasil Urgente’, da Band, na primeira semana de exibição. Depois, perdeu todas.


Silvio Santos também fez alterações no conteúdo do ‘Aqui Agora’. Mudou o time de apresentadores, afastou o comentarista James Akel e determinou prioridade a reportagens policiais. Em uma canetada, eliminou tudo o que havia de tentativa de modernização no telejornal, sucesso nos anos 90.


Desde ontem, o ‘Aqui Agora’ está sendo apresentado por César Filho, Analice Nicolau e Christina Rocha. Luís Bacci e Joyce Ribeiro saíram. As mudanças foram tomadas por Silvio Santos sem o conhecimento prévio de Albino Castro. Setores do SBT souberam das novidades antes do próprio diretor do programa, que defendia o veterano repórter João Leite Neto como apresentador.


SEM PEGADINHA Angélica se recusou a gravar pegadinhas com artistas para o ‘Estrelas’. Durante sua licença-maternidade, o programa teve suas maiores audiências com esse tipo de atração. Devido à desaprovação da apresentadora, a Globo desenvolve agora um game com famosos.


DOSE DUPLA Não foi só Milton Neves que ficou na mão com a desistência do publicitário Roberto Justus de investir na produção de programas. Gilberto Barros também. O apresentador da Band já tinha acertado com Justus um programa na Rede TV!, aos domingos à tarde, no segundo semestre. O acerto não vale mais. A diferença é que a Band quer Milton Neves, e o contratou para uma mesa-redonda. Já Gilberto Barros não terá seu contrato renovado.


BALANÇO A Record fechou março com média diária (7h/24h) de 8,8 pontos na Grande São Paulo, 24% a mais do que no mesmo mês de 2007. A Globo marcou 18,3 (um ponto a menos do que um ano atrás). O SBT caiu de 6,3 para 5,8 e a Rede TV!, de 1,7 para 1,6. A Band também cresceu: de 2,0 para 2,4. Cada ponto equivale a 56 mil domicílios.


RETORNO Ex-apresentadora da Band, Márcia Peltier voltará à TV. Comprou uma hora na grade da Rede TV!, aos domingos, das 16h às 17h, para um jornalístico voltado para a mulher.


AGENDA Marcelo Serrado não irá mais fazer a segunda fase de ‘Caminhos do Coração’. O ator tirou licença da Record para se dedicar ao cinema e ao teatro.’


 


MAITÊ PROENÇA
Laura Mattos


A vida como ela é


‘Nenhuma novela de televisão daria conta da vida de Maitê Proença, 48, que está muito mais para Nelson Rodrigues. Resumir seus dramas neste texto parece injusto, mas obrigatório para escrever sobre seu livro ‘Uma Vida Inventada’ -uma mistura de ficção à sua surpreendente biografia-, que ela lança hoje em São Paulo.


Aos 12, Maitê tem a mãe assassinada pelo pai por adultério. Enfrenta a condenação da família por atuar como testemunha de defesa dele. Aos 16, faz um aborto. Presencia a morte de um irmão por problemas com bebida. Prestes a ganhar seu primeiro papel de destaque, sofre um acidente e fica um ano sem trabalhar. No auge do sucesso, ouve do pai, internado com câncer no cérebro, o pedido para que desligue os aparelhos. Recusa-se e, dias depois, ele se mata. Tudo isso, e histórias do uso de drogas e outras viagens, está no livro.


À Folha Maitê conta que não falava publicamente do passado até ‘um programa de auditório’ resolver, ao vivo e sem sua prévia autorização, abrir sua vida ‘ao Brasil inteiro numa tarde de domingo’, o que a deixou ‘chocada’. Foi o ‘Domingão do Faustão’, em 2005.


A atriz diz ainda que a história que se sabe sobre seu envolvimento com Lima Duarte é fruto ‘da versão dele, que gosta de florear a realidade’. Confira.


FOLHA – Você mesclou biografia à ficção. Mas, mesmo quando faz ficção, cria uma relação com sua vida [a protagonista teve a mãe assassinada pelo pai, como Maitê].


MAITÊ PROENÇA – Você acha, mas essa mulher vai para a África, tem um hospital. Minha vida adulta se conhece. Então não sou eu. É lógico que há fatos ali, e estão sempre sendo tocados pela ficção, essa é a brincadeira do livro. Tem um jogo de pistas falsas para que nunca se saiba o que é real e o que não é.


FOLHA – Uma das razões para ter criado o jogo entre ficção e realidade foi ter concluído que seria difícil inventar uma história tão surpreendente quanto à da sua vida real?


MAITÊ – Não sei. Você quer dizer que minha carreira literária acabou aqui [risos]? Mário Quintana disse que em toda obra dele não há uma só palavra que não seja sobre ele. A gente pode se utilizar da nossa vida para fazer literatura. Não há demérito nisso. Há assuntos de que trato no livro dos quais nunca falaria publicamente.


FOLHA – Na ‘ficção’, a menina, como você, tem a mãe assassinada pelo pai, e há detalhes do dia do crime. Foi um modo de tratar de um fato tão dolorido na terceira pessoa?


MAITÊ – Esse é um tipo de resposta que não posso dar, porque não vou falar disso em entrevistas. Escrevi um livro que trata desses assuntos. Fui o mais genuína que pude. Falar sobre isso é vulgarizante. Não sou o tipo que sofre a perda do namorado na capa da ‘Caras’, da ‘Quem’. Não é para ser falado. Mas posso usar esse material que conheço profundamente para fazer literatura.


FOLHA – Apesar de deixar para a menina ficcional a morte de sua mãe, você não se poupou de falar de outros dramas na primeira pessoa, como o aborto aos 16 anos…


FOLHA – [interrompendo] Mas falo sobre isso [o assassinato, na primeira pessoa].


FOLHA – Mas na primeira pessoa fala mais sobre a condenação que sofreu por ter ficado ao lado de seu pai após o assassinato, o pedido para que fizesse nele a eutanásia e seu suicídio. O assassinato é mencionado, mas na terceira pessoa é aprofundado. Isso quer dizer que os outros dramas estão mais bem resolvidos do que a morte de sua mãe?


MAITÊ – O leitor vai ter que deduzir. O que queria dizer está no livro, não posso falar sobre isso, não desejo. Se for minha amiga íntima, falo longamente se quiser. Não publicamente.


FOLHA – Você diz que o trabalho de atriz funcionou como terapia, para que conseguisse se emocionar.


MAITÊ – Achava que estava de passagem pela carreira. Um belo dia vi que era uma pessoa embrutecida, com dificuldade para me sensibilizar. De repente, a atriz me passou uma rasteira, tinha a desculpa do personagem, que podia estar triste, magoado. A Maitê não, o personagem podia.


FOLHA – Você está fora das novelas desde 2005. Escrever se tornou mais terapêutico do que atuar?


MAITÊ – Vou fazer a próxima das sete, mas realmente esse trabalho está mais espaçado. Não gosto muito da palavra ‘terapêutico’, há muitos anos não faço análise. Mas não sei te responder. Talvez não tivesse feito o livro se um dia… Vou dizer uma coisa, veja bem como vai usar para não ficar mal para mim… Não, não vou contar.


FOLHA – Ah, Maitê, não se faz isso com um jornalista [risos]…


MAITÊ – [risos] Vou deixar você roendo todas as suas unhas.


FOLHA – Vai sair aquilo que contar.


MAITÊ – Um belo dia [em 2005], fui a um programa de auditório [‘Domingão do Faustão’] para divulgar algo. Mas o programa não era para divulgar, era uma surpresa para mim [o quadro ‘Arquivo Confidencial’]. Lá pelas tantas, estou lá surpreendida, e o apresentador resolveu abrir a minha história, elementos íntimos, para o Brasil numa tarde de domingo. Fiquei muito chocada. Jamais, em 27 anos de carreira, havia revelado certos assuntos, porque uma carreira não se faz com a piedade de ninguém. Sou uma pessoa reservada, tenho pudores, acho que determinados assuntos são para a intimidade. Essa pessoa não fez isso por mal, fez porque não pensou nas conseqüências que teria para a vida. O que ocorreu foi que toda a imprensa, com todas as suas matizes de cor, resolveu que podia meter a colher, e ficou difícil. Você escuta as pessoas falando nas suas costas, suposições, invenções, não é agradável. Uma vez que isso aconteceu, passaram-se três anos, e achei que estava na hora de tratar desses assuntos. Foi por meio da literatura. E continuarei não falando.’


 


***


‘Lima Duarte gosta de florear a realidade’


‘Leia a continuação da entrevista com Maitê Proença.


FOLHA – Você conta ter feito aborto aos 16. É a favor da legalização?


MAITÊ – Sim. Sou a favor de que pessoas de baixa renda, em vez de espetar agulha de tricô, tenham acesso à saúde pública e acompanhamento psicológico, porque é sempre um trauma.


FOLHA – Após ter recusado o pedido de seu pai para fazer nele a eutanásia, defende sua legalização?


MAITÊ – Sim. A gente deve dispor do próprio corpo da forma que bem entende. As pessoas sabem mais das suas dores do quem quem vê de fora. É muito arrogante [sobe a voz] um juiz do Supremo Tribunal Federal dizer o que deve ser feito em um contexto tão íntimo, onde há um médico, uma família sofrendo e alguém implorando para interromper sua dor.


FOLHA – Você diz não ter sido aceita por colegas quando entrou na Globo. Hoje ‘mocinhas bonitas que ganham fortunas’ são bem vistas?


MAITÊ – O Rio é a terra dos superlativos. Você tem que falar ‘queriiida!’, ‘meu amooor!’, ‘sua bolsa é chiquééérrima!’. Tira o superlativo, você tem um carioca mudo. Não entendia que no camarim havia um figurinista que precisava que babasse o ovo dele minimamente. Quando entendi, ficou fácil. Hoje estou tranqüila, dá trabalho ter um personagem para as câmeras e outro nos bastidores.


FOLHA – Quando se tornou escritora, mudou sua relação com colegas?


MAITÊ – Algo mudou sim, para melhor. Tanto por parte do público, quanto da classe artística.


FOLHA – É como se tivesse passado a ser considerada inteligente?


MAITÊ – É, talvez achassem que eu era muito burra. Ficam tão surpresos, já perguntaram se era eu mesmo que escrevia minhas crônicas. Descobriram que não era tão burra assim.


FOLHA – Apesar de temas duros no livro, não falou sobre algo já público, sua relação com Lima Duarte.


MAITÊ – Imagina se fosse contar todos os amores, seria outro livro, do tipo que abomino. E, apesar de o Lima contar a história do jeito dele, é um homem brilhante que vive no mundo da fantasia. Gosta de florear a realidade. A versão do Lima é uma, e a minha é a história de uma amizade muito importante.


Enquanto meu pai morria, fiz uma novela [‘O Salvador da Pátria’, 89] em que a gente tinha uma relação de amor. A única pessoa para quem contei sobre o processo da morte do meu pai, fora meu marido, foi o Lima. Criamos esse elo. Gosto muito dele, o resto é fantasia de sua cabeça. Mas deixo, o que vou fazer? Qual é a importância? Deixa ele sonhar, colorir a vida, não me ofende, pode contar como quiser.’


 


JOÃO SALDANHA
José Geraldo Couto


Filme busca complexidade de Saldanha


‘Sob o singelo título ‘João’, o documentário dirigido por André Iki Siqueira e Beto Macedo, que passa hoje no festival É Tudo Verdade, procura desvendar as múltiplas facetas de um personagem complexo: o técnico de futebol, comentarista esportivo e militante comunista João Saldanha (1917-90).


‘A trajetória dele conta boa parte da história do Brasil no século 20’, resume o cineasta e ex-publicitário Macedo, gaúcho de Porto Alegre radicado no Rio e profundamente ligado ao Botafogo -do qual chegou a ser vice-presidente durante seis meses, em 2004.


Macedo já sonhava com um documentário sobre Saldanha quando, em 2004, foi convidado pelo jornalista carioca (e vascaíno) André Iki Siqueira, que planejava fazer uma biografia e um filme em torno do personagem.


‘Eu cuidei da pesquisa, das pautas e das entrevistas, e o Beto [se encarregou] mais da parte de vídeo’, resume Siqueira. ‘No livro [publicado no final do ano passado], você tem o meu João. No filme, há um pedaço do meu João; outro do Beto; e outro ainda do Pedro Bronz, o editor, que foi fundamental para o documentário.’


De acordo com Macedo, ‘a pesquisa foi feita em todos os arquivos conhecidos, no Rio, São Paulo e Porto Alegre: Cinemateca Brasileira, MAM, TV Globo, TV Cultura, TVE, RBS, Museu da Imagem e do Som, Canal 100, inúmeros jornais, arquivos particulares, material da família, arquivos do extinto Dops…’


O material mais precioso, na avaliação de Macedo, é o oriundo das mesas-redondas e dos programas de entrevistas, atrações em que ‘o Saldanha brilhava intensamente’.


‘Optamos por deixar ao máximo, dentro do possível, que o próprio Saldanha contasse sua história e suas histórias’, diz o cineasta.


Política


Siqueira destaca a colaboração dos parentes do biografado: ‘A família nunca me pediu nada, autorizou a minha pesquisa em todos os documentos dos arquivos dos órgãos de repressão, me forneceu fotos, passaportes etc. Foram ótimos. Nem quiseram ver o filme antes da primeira exibição. Tivemos liberdade total’.


Os dois co-diretores só divergem quando se trata de imaginar o que Saldanha faria no contexto político atual.


‘O João estaria de saco cheio. A esquerda perdida, os paradigmas arruinados, as alianças estranhas. Para convencer o João de um voto, seria um trabalho gigantesco’, diz Siqueira.


Já para Macedo, ‘ele votaria num candidato do PCB [Partido Comunista Brasileiro]. Se não houvesse, votaria em alguém mais à esquerda. Até no Lula, creio’. E conclui: ‘Ele, na verdade, era muito conciliador dentro do Partidão, era uma voz sensata sempre contemporizando conflitos. Aquele lado maluquinho dele jamais aparecia’.’


 


Juca Kfouri


Personagem está mais vivo do que nunca


‘Ao ver ‘João’, o documentário sobre João Saldanha, é impossível não lembrar a piada das cabras que pastavam em Hollywood: uma vê um rolo de filme no pasto e o engole, a outra pergunta sobre o que achou, e ela responde que gostou mais do livro…


É que o documentário gerou um grande livro, ‘João Saldanha, uma Vida em Jogo’, de um dos dois diretores do filme, André Iki Siqueira.


Era tanto material colhido para o documentário que ele teve pena de simplesmente jogar fora aquilo que não cabia na edição. E escreveu uma biografia exemplar, lançada pela Companhia Editora Nacional.


Mas, felizmente, o filme, dirigido também por Beto Macedo, está longe de frustrar quem gostou do livro. E seu grande mérito é não ter economizado em Saldanha, como é comum neste tipo de documentário, que usa e abusa dos depoimentos sobre o personagem central e muitas vezes o esconde. Aqui, não. Tem João para todos os gostos, porque tem João Saldanha como ele era. Tem o João sem medo, antes de mais nada, sua característica principal. Mas tem, também, o João dissimulado, o João provocador, o João conservador, o João reacionário, o João revolucionário, o João fantasioso, o João fantástico, o João fabuloso.


E não faltam bons depoimentos, como os de suas viúvas, desde a que o perdeu para o Partido Comunista Brasileiro até a mãe de uma de suas filhas, que o deixa nu em seu machismo -indignado com o fato de ela usar um maiô de duas peças, que mostrava um tiquinho de nada de sua barriga.


Para brincar de objetivos, os diretores ouvem até o também já morto Caixa D’Água, um cartola pernicioso e metido a intelectual que odiava Saldanha. Seu depoimento é um tal bestialógico que até uma criança que não conheça nada de nenhum dos personagens tomará o partido de Saldanha.


Siqueira e Macedo alimentaram o projeto do filme convencidos de que o mocinho em questão não era suficientemente reverenciado e que estava sendo esquecido desde sua morte, em 1990, durante a Copa da Itália, que ele foi cobrir sabendo que dificilmente voltaria vivo.


Pois, se estava, não está mais. Está lá por inteiro o filho do latifundiário maragato que cresceu entre armas e conflitos sangrentos, o que explica quase tudo de sua personalidade e destemor, seja como rato de praia, técnico de futebol, jornalista ou militante político.


Livro e documentário fazem um par perfeito para se entender uma figura que não é apenas parte importante da história do futebol ou do jornalismo brasileiro, mas, sim, da história do Brasil, um autêntico gênio da raça, com todas as suas contradições, manias, bons e maus humores e uma incrível capacidade de ser corajoso e solidário.


O documentário mostra isso tudo e de maneira tão viva, tão natural e sem intervenções arbitrárias ou maniqueístas que, depois de vê-lo, fica a impressão de que aquele João está vivo, mais vivo do que nunca.


E, se não está, sem dúvida deveria. Vá ver. E o abrace por mim.


JOÃO


Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 13h


Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 0/xx/11/3087-0500)


Quanto: grátis


Avaliação: bom’


 


IMAGEM
Camila Rodrigues


Photoshop gratuito não corrige espinhas


‘O Photoshop, o mais conhecido programa de edição de imagens, foi para a rede gratuitamente. A notícia resultou em tantas visitações ao site do Photoshop Express (www.photoshop.com/express), na última quinta-feira, que ele travou.


O serviço, anunciado pela Adobe há uma semana, permite editar, armazenar e compartilhar até 2 Gbytes de fotos sem ter de baixar nenhum software.


O programa é bem fácil de usar, mas a alta expectativa pode gerar certa frustração no usuário, principalmente para quem está acostumado com a versão tradicional do software. Na área de edição, são oferecidos 17 recursos de edição simples, voltados para ajustes de cor, sombra e nitidez.


Por enquanto, o programa não conta com a ferramenta carimbo, recurso de retoque que permite disfarçar com certa facilidade espinhas e manchas do rosto, por exemplo.


Outro ponto a ser melhorado é a ausência de um botão de Salvar como. Para compensar, é exibido um histórico de modificações na imagem, que permanece na página mesmo depois de se desconectar do serviço. As imagens com cada alteração são exibidas na parte inferior da tela.


Porém o programa ainda está em fase de testes, e a empresa declarou que está aberta a sugestões dos usuários.


Sobre a versão atual, há algumas qualidades a serem consideradas, como os recursos para compartilhamento das fotos por e-mail e sua interface de cor cinza escura, que não cansa os olhos e é organizada.


Para usar o Photoshop Express, basta se cadastrar no site. Há uma mensagem que diz que o serviço é restrito aos EUA, mas usuários brasileiros não foram impedidos de usar.


Seu modelo, apesar de inovador, não é inédito. Outros programas semelhantes já são oferecidos na rede, e alguns nem precisam de cadastro.


Outro destaque do software são seus links laterais para acessar os serviços de armazenamento Picasa e Photobucket e o álbum de fotos do Facebook. Durante os testes, porém, só foi possível visualizar e editar essas fotos externas pelo navegador Internet Explorer; no Firefox, não funcionou.


Para quem gosta de exibir suas fotos em apresentação de slides, o serviço tem um recurso sofisticado, com efeitos em 3D e sobreposição de imagens.


Estratégia


A Adobe disse à Associated Press que oferecer o Photoshop Express gratuitamente é parte de sua estratégia de marketing e vendas. A empresa afirma que alguns consumidores vão migrar para outros softwares, como o Photoshop Elements.’


 


REDE SOCIAL
Daniela Arrais


Siga on-line a vida dos seus amigos


‘Dá para saber tudo o que seus amigos e contatos publicam em blogs, no Orkut, no Flickr, sem ter que clicar em inúmeros links. Com o FriendFeed (www.friendfeed.com), todas as atualizações de conteúdo chegam a você por um único endereço.


Isso é possível por conta dos feeds, que distribuem atualizações de sites, blogs e podcasts em um formato que é lido por um agregador.


O FriedFeed lê conteúdo de cerca de 30 sites, como Digg, Twitter e MySpace. A cada vez que um contato publica uma foto ou manda uma mensagem, as informações chegam ao FriendFeed. Basta acessar seu perfil para conferir o conteúdo.


Por fazer uma mistura de rede social e feed, a ferramenta criada por Paul Buchheit, um dos desenvolvedores do Gmail, tem sido bastante comentada -fala-se até que o FriendFeed é um passo para a web semântica, pois o usuário recebe apenas o que acha relevante e ainda comenta e faz buscas.


Fontes


Os feeds são formatos -entre os mais conhecidos estão o RSS e o Atom- que reúnem atualizações de sites. Funciona assim: no arquivo, são incluídas informações como título, endereço da página, data e autor.


A cada vez que o dono do endereço publica uma nova informação, o feed é atualizado. Em seguida, um agregador, que pode ser on-line ou por desktop, lê as informações e as disponibiliza para o usuário.


A principal vantagem do recurso é que, em vez de digitar e visitar vários endereços, você junta todas as informações em um só lugar -é como se você assinasse jornais e revistas e os recebesse em sua casa.


‘É um recurso prático, que aumenta a visibilidade de um site e economiza tempo do usuário’, diz Eduardo Favaretto, consultor em internet.


Para quem escreve, o principal atrativo das fontes é fidelizar o leitor. ‘Quem assina seu feed gosta do conteúdo que você produz’, diz Alexandre Fugita, 31, blogueiro do Techbits (www.techbits.com.br).


O perigo dos feeds é: tamanha facilidade faz com que você assine muitos sites, o que torna a leitura sistemática de todos uma tarefa quase impossível.


‘O indicado é acompanhar alguns feeds para ver quais têm conteúdo relevante. Só depois você escolhe aqueles que valem a pena’, indica Fugita.’


 


 


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