Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

‘Constituir redes é estratégico’

Rogério Christofoletti é jornalista e professor da Univali. Membro do Conselho Científico da SBPJor, ele é o coordenador da Renoi – Rede Nacional de Observatórios da Imprensa – criada em 2005. A rede acaba de lançar um livro – Observatórios de Mídia: Olhares da Cidadania – e está com duas mesas coordenadas no Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. Nesta entrevista, Christofoletti fala da iniciativa e dos projetos futuros da Renoi.


A Renoi foi criada em 2005. Qual a importância desta rede – e das redes de pesquisa, de um modo geral – para as pesquisas em jornalismo?


Rogério Christofoletti – A constituição de redes de pesquisa é fundamental hoje para o desenvolvimento científico em todas as áreas de conhecimento. Cada vez mais, as agências de fomento, os periódicos e a própria comunidade acadêmica têm valorizado esforços conjuntos, que não apenas evidenciem a interlocução interinstitucional, mas a pluralidade, a heterogeneidade e a inter ou transdisciplinaridade.


No caso do jornalismo, não é diferente. A formação de redes de pesquisa tende a incentivar a produção e a facilitar os diálogos entre os pesquisadores das diferentes regiões, afinal nosso país é continental. A SBPJor foi a primeira entidade a incentivar essa prática de pesquisa consorciada, mas a Intercom – que agora passa por reformulações internas – também vem motivando seus associados a formá-las. É um momento importante para a pesquisa em Comunicação e em Jornalismo no Brasil: temos formado cada vez mais mestres e doutores, os periódicos da área têm se proliferado, lançamos muitas obras na área – algumas tornando-se referenciais -, estamos ampliando as interlocuções internacionais, e as entidades acadêmicas e profissionais estão mais próximas. Tudo isso cria condições para um cenário muito propício para avanços.


Quais foram os maiores desafios que vocês enfrentaram neste caminho para a consolidação da rede?


R.C. – A primeira dificuldade foi a geográfica, pois temos membros de todas as regiões brasileiras, do Pará ao Rio Grande do Sul, do Espírito Santo a Roraima. Não é fácil reunir os membros, apesar das boas condições tecnológicas que nos permitem um diálogo mais freqüente.


Outra dificuldade é a definição de um desenho para a rede. Somos um coletivo que reúne não apenas instituições de ensino superior, mas também algumas organizações não-governamentais, como a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e o próprio Observatório da Imprensa. Esses atores realizam trabalhos indispensáveis de observação da mídia e não poderíamos formar uma rede que os ausentasse. Até porque se formos ver mesmo, a Renoi nasceu do Observatório da Imprensa quando, em meados dos anos 1990, esse media-watcher já batalhava pela criação de outros observatórios no país a partir da academia. Em 1998, já havia um chamamento para a formação de uma rede de observatórios, o que só veio a se concretizar anos depois. A Renoi, portanto, é uma rede de observatórios, que tem braços que se ocupam da pesquisa, da extensão e do ensino. Essa tripartição permite a aglutinação de participantes não-acadêmicos, mas essenciais para a disseminação de uma efetiva cultura de crítica de mídia, responsável e criteriosa.


Outra dificuldade na formação de qualquer rede é a definição de um programa de trabalho. Nos primeiros dois anos de Renoi, concentramos esforços na consolidação de alguns pólos que pudessem orientar os trabalhos que faríamos. Colocamos como estratégico a produção e lançamento de um livro que congregasse experiências, relatos e reflexões sobre a observação da mídia. O volume Observatórios de Mídia: Olhares da Cidadania (Ed. Paulus), que organizei junto com o professor Luiz Gonzaga Motta e que será lançado no encontro da SBPJor em novembro, é este primeiro resultado. Com ele, organizamos um pouco as nossas energias e definimos nossas prioridades. Desde 2007, temos focado reflexões e interlocuções em torno da qualidade da informação jornalística. Em nossas mesas coordenadas do 5º Encontro da SBPJor, sinalizamos a meta de perseguir este tema. No encontro deste ano, o 6º, teremos duas mesas que vão aprofundar o debate em torno da qualidade: uma sobre o ensino de jornalismo e outra sobre a qualidade da informação jornalística. A intenção, já iniciada, é produzir um segundo livro, agora com resultados mais concretos de nossas pesquisas.


Vocês conseguiram organizar duas mesas coordenadas para o encontro da SBPJor, em novembro. O que isto significa, em termos institucionais?


R.C. – Para a Renoi, é fundamental participar dos encontros da SBPJor. Alguns de nossos membros são fundadores da entidade, e acreditamos todos que a existência de uma entidade como esta é capital para o desenvolvimento científico na área.
A presença constante nos eventos da SBPJor têm permitido ainda a interlocução da Renoi com outras redes, e com pesquisadores nacionais e internacionais. Nesses diálogos, aprendemos muito e desembaçamos um pouco a viseira para buscar soluções para as nossas demandas.


A Renoi já lançou livro, organizou um encontro nacional e reúne pesquisadores do país inteiro. Como um dos líderes desta iniciativa, como você avalia a importância de redes de pesquisa para o campo do jornalismo ?


R.C. – Penso que – cada vez mais – será necessário pensar e agir em rede. Arrisco em dizer que, em poucos anos, as redes de pesquisa vão ser os mais importantes vetores da pesquisa científica nacional, direcionando debates, redimensionando epistemologicamente alguns de nossos desafios e propondo alternativas para os problemas nacionais. Constituir redes já é estratégico.


Quais são as próximas metas do grupo?


R.C. – Ainda não concluímos nosso planejamento estratégico para 2009 e 2010, porque teremos mais uma reunião em novembro. No entanto, posso adiantar que a Renoi já tem, ao menos, quatro prioridades: a) produzir e lançar um livro sobre qualidade da informação jornalística; b) propor mesas coordenadas nos encontros da Intercom e SBPJor, de modo a difundir suas pesquisas e buscar mais diálogo com outros pesquisadores; c) consolidar os pólos da rede que ainda estão em fase de implantação de seus observatórios de mídia; d) iniciar uma interlocução saudável com pesquisadores e atores internacionais.