Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Diversão urgente!

Saber contar histórias (divertidas, de preferência) é a fórmula número um para o sucesso editorial de qualquer publicação voltada para o público adolescente. Quem fala é Brenda Fucuta, que antes de assumir a chefia de redação da revista Capricho, posto que atualmente ocupa, teve passagem pelo Caderno 2 do Estado de S.Paulo e pela editoria ‘Comportamento’ da Veja e da Claudia.

Nesta entrevista, Brenda revela os segredos de redação da Capricho, sem deixar de analisar o perfil dos nossos adolescentes, a quem ela conceitua como a geração que tem ‘urgência em se divertir’. Quanto às críticas feitas por educadores e intelectuais sobre a suposta ausência de matérias de cunho formativo e educativo, ela não hesita: ‘Não costumamos ter (e me desculpem algumas ONGs): matérias que elas não lêem’.

***

A Capricho é considerada a maior revista jovem do Brasil e a que conversa com o leitor como poucas conseguem. Qual é o segredo?

Brenda Fucuta – O segredo é não cair na fórmula fácil da revista adolescente: só testes, ídolos, conversa de amiga. Claro que esses assuntos ainda estão presentes, são clássicos. Mas, na visão da redação de Capricho, não refletem, sozinhos, a vida de uma jovem brasileira de 2005. A adolescente dos anos 80 era a ‘gatinha’ e sua revista tinha uma temperatura mais romântica, dócil, intimista. Nos anos 90, a aspiração era ser modelo: tivemos uma revista bem preocupada com moda e marcada pelo tom politicamente correto. Nos anos 2000, os ídolos e a vida real ganharam espaço: época em que gente comum também vive seu estrelato. Ou seja: o segredo do sucesso de Capricho é não ter medo de mudar com sua leitora.

Canal – O que o leitor adolescente espera encontrar em revistas que assumem para si a responsabilidade de falar a língua teen?

B. F. – Leitores jovens esperam histórias potentes, não necessariamente dramáticas. Eles querem, tanto num editorial de moda quanto numa seção de humor, conhecer a história de um outro adolescente. Por isso, as leitoras de Capricho exigem que a moda tenha meninas comuns, não só modelos. Por isso também, a seção ‘Micos’, em que as leitoras contam suas gafes, é uma das mais pedidas. Eles querem se divertir, se horrorizar, se surpreender. ‘Adoro histórias bizarras’, é o tipo de comentário de uma garota desta geração. O que nos devolve, nós jornalistas, ao lugar primordial da nossa profissão: saber contar histórias.

Muito se fala sobre a influência que as revistas jovens têm na formação e comportamento dos adolescentes. Como você descreveria a Capricho: a revista que apenas fala a língua da galera (oferecendo o que os adolescentes querem) ou a revista que dita a ‘atitude’ e a conduta do momento?

B. F. – Por mais poder que tenha uma marca – e Capricho é uma marca com poder –, ela, sozinha, não dita um comportamento. Ela pode reforçar, ajudar a divulgar, jamais impor uma atitude se não há eco entre os seus leitores para que este comportamento faça sentido. Por exemplo: a revista só deu uma matéria sobre beijos entre garotas quando a reportagem apurou que isso estava acontecendo muito nas baladas. Nós mostramos o que está acontecendo no mundo adolescente.

Entidades como a ONG Cala-Boca Já Morreu e o Midiativa (Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes) insistem na necessidade de mídias mais voltadas para a formação sociopolítica e cultural do adolescente. Que papel a Capricho assume nesse contexto de mídias como formadoras de opinião e comportamento?

B. F. – A missão de Capricho é formar e informar adolescentes de atitude e estilo. Ou seja, há uma preocupação em fornecer informação e reflexão de qualidade a nossas leitoras. Se formos ver esta questão de um jeito mais convencional, digo que fazemos a nossa parte quando insistimos num jornalismo com o padrão Abril, quando mantemos uma seção, chamada ‘Do Bem’, para falar de protagonismo juvenil, ou uma seção chamada ‘Tá ligada’, sobre acontecimentos da atualidade, ou uma seção chamada ‘Estive Pensando’, com reflexões bem provocadoras e inteligentes do colunista Antonio Prata… Se formos menos convencionais, digo que, antes de mais nada, uma revista precisa ser lida. E para ser lida ela precisa ser honesta com o desejo do seu leitor. Temos ídolos porque as meninas gostam de ídolos. Temos matéria sobre moda, porque a garota quer ser orientada e não pagar mico na hora de se vestir. Não costumamos ter (e me desculpem algumas ONGs): matérias que elas não lêem.

A presença de artistas é um dos pontos altos da revista. Como a Capricho trabalha com a influência das celebridades sobre a vida do leitor?

B. F. – Ao falar de celebridades, a gente quer duas coisas: atender o desejo da leitora de saber da vida de seu ídolo (e é um desejo legítimo, tão bom quanto qualquer outro) e mostrar, para ela, que uma celebridade jovem também é um ser humano jovem. Tentamos, sempre que possível (às vezes não dá mesmo!), humanizar o ídolo da garota.

Além do texto jornalístico voltado para o cotidiano adolescente, os testes parecem ser uma fórmula para o sucesso da revista. Eles traduzem com fidelidade a vida do leitor ou apenas divertem?

B. F. – Os testes são entretenimento antes de mais nada. Os que têm temas mais delicados, mais complexos, recebem até uma consultoria de psicólogos. Mas a pretensão da gente é divertir apenas.

As revistas para teens muitas vezes são acusadas de fazerem caricaturas da vida jovem, onde tudo giraria em torno de baladas, moda e azaração. Até que ponto as pautas da Capricho realmente traduzem o cotidiano do adolescente?

B. F. – Adolescentes, como crianças, jovens adultos, adultos, mulheres, homens ou qualquer outra categoria do ser humano social, são diversos. Tem adolescente em 2005 com comportamento dos anos 20, outros com comportamento da década de 70, outros, iguais aos dos anos 80. E a média, que tem valores parecidos, dos anos 2000. Para estes, ficada e balada são importantíssimos. Esta geração é ‘baladeira’ e ‘ficadeira’. Eles, de fato, têm urgência em se divertir. E liberdade para se divertir. Isso não é necessariamente ruim, é?

******

Secretário de redação da revista eletrônica Canal da Imprensa e professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp)