Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Dois estudantes pregam peça na Paris Match

Paris Match, que comemorou 60 anos em março deste ano, é dos mais tradicionais veículos da mídia francesa, criada nos moldes da americana Life. Os intelectuais desprezam a revista, um típico exemplo da presse people, na qual há espaço demasiado para celebridades (francesas e européias), grandes fotos e muita imagem, em detrimento de assuntos políticos ou culturais relevantes.

Neste ano, para a infelicidade dos organizadores, o Grand Prix Paris Match de foto-reportagem de 2009 para estudantes representou um duro golpe para a credibilidade da revista, reconhecida como uma incentivadora do fotojornalismo.

A reportagem fotográfica sobre as dificuldades da vida dos estudantes, que ganhou o Grand Prix 2009, era, na realidade, uma ficção realizada pelos estudantes Guillaume Chauvin e Rémi Hubert. O prêmio consiste num cheque de 5 mil euros e a publicação da reportagem fotográfica no final de junho.

A dupla se inscreveu no concurso com uma reportagem intitulada ‘Estudantes. Tendência precária’. Ela pretendia mostrar as dificuldades da vida dos estudantes universitários, constatada por diversas reportagens na imprensa cotidiana. O problema é que toda a reportagem foi produzida como fotos montadas, com amigos interpretando personagens: uma jovem que se prostitui para financiar seus estudos universitários, um jovem que vive num prédio ocupado por invasores (espécie de república de estudantes), e outro que dorme no seu carro por não ter onde morar. Pura cascata.

Sem comentários

Os estudantes não poderiam imaginar que a reportagem de araque iria ganhar o prêmio. Como fabricaram uma fraude, foram até o limite da provocação usando títulos para as fotos como ‘Para poder estudar de dia, vendo meu sexo à noite’.

Surpresa geral: o prêmio foi concedido à ‘reportagem’ totalmente inventada pelos dois estudantes do curso de Artes Decorativas de Strasburgo. Eles contaram que quiseram praticar um ‘gesto artístico’. Na cerimônia de entrega do prêmio na secular e tradicional Sorbonne, em Paris, eles leram um texto que desvendava a intenção da falsa reportagem: denunciar o ‘voyeurismo’ e a condescendência na representação do sofrimento.

O presidente do júri e diretor da redação da revista Paris Match não quis comentar o ‘gesto artístico’ dos dois estudantes, que receberam o cheque sabendo que marcaram a história do prêmio.

Provavelmente, a partir de agora a revista vai começar a checar cuidadosamente a autenticidade das reportagens.

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Jornalista