Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Publicidade e opinião pública ativa

Garantindo-se um efetivo poder de decisão e de publicização de opiniões através da mídia e o controle para evitar fraudes, o abuso do poder econômico e o uso do aparelho de Estado, ficam minimizados os problemas decorrentes da publicidade demonstrativa e da ação estratégica, que não podem ser eliminados burocraticamente pois não parece possível definir claramente os limites entre uma argumentação puramente racional e uma sedução publicitária.

O mesmo vale para a dificuldade de separar totalmente ação comunicativa da ação estratégica. Porque garantindo-se o poder de decisão, o estímulo ao debate e seu exercício de modo mais democratizado através da mídia, do discurso argumentativo e da opinião racional, os efeitos da ação estratégica e do marketing serão menores.

Nestes termos, as mídias democratizadas devem ser vistos como um instrumento indispensável e insubstituível para viabilizar uma esfera pública democrática, ampla e de massas. E a ação estratégica, a publicidade e as sondagens de opinião, deste modo são inevitáveis e devem ser vistas, em princípio, como instrumentos legítimos para o conhecimento da realidade e o convencimento.

É evidente que existem pesquisas manipuladas, que existe a manipulação na divulgação das mesmas e que os dados colhidos são usados para elaboração de discursos demagógicos e para efeito de legitimação. É também importante questionar o caráter científico dos resultados (vistos isoladamente) de uma pesquisa de opinião (Bourdieu, 1980 e Champagne, 1998), mesmo se uma “opinião” colhida em determinada circunstância não é apenas um “clima de opinião” ou uma “opção” momentânea de uma parte do público (Matos, 1998). Está claro que o pensamento predominante entre marqueteiros eleitorais pode ser sintetizado no famoso “Voto é marketing… o resto é política” (Pacheco, 1994) e que isto atinja ou confunda até mesmo partidos que resistem e acabam tendo uma relação de amor e ódio pela mídia, as pesquisas de opinião e o marketing (Almeida, 1996 e 1997).

Uma opinião pública ativa

Esta é uma questão polêmica e difícil de ser aprofundada neste espaço. Podemos dizer então, rapidamente, que se, isoladamente, apenas pela leitura de seus dados, não se pode designar uma sondagem de “pesquisa científica”, uma (ou melhor, ainda, um conjunto ou ainda a combinação de pesquisas quantitativas e qualitativas) podem permitir um estudo científico “se sua leitura for feita com um bom embasamento da estrutura da sociedade, de sua história, da cultura do seu povo e de como estão de desenrolando as lutas sociais e políticas” (Almeida, 1996).

Mas, se mesmo hoje os seus efeitos são relativizados (Thiollent, 1989, e Venturi, 1995) com a ampliação e democratização dos canais de decisão e discussão da esfera pública, ou seja, com a constituição de uma esfera pública efetivamente pública e com espaços não simulados a todos os cidadãos, os aspectos mais negativos destes instrumentos poderão ser mais neutralizados e não serem impeditivos da construção de uma opinião pública ativa.

***

[Rodolpho Raphael Oliveira Santos é jornalista, Campina Grande, PB]