Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Emissora se despede aos gritos de ‘liberdade’

Rostos conhecidos da TV venezuelana se uniram diante das câmeras aos gritos de ‘liberdade!’ nos momentos finais do canal mais assistido do país, enquanto ele se preparava para sair de vez do ar, no domingo (27/5). A Rádio Caracas Television (RCTV) foi proibida de funcionar pelo presidente Hugo Chávez, que negou a renovação de sua licença. A justificativa: a emissora teria se tornado uma ameaça ao país.

Enquanto o presidente alega que está apenas ‘democratizando’ as ondas de transmissão ao abrir espaço para um canal público, opositores do governo classificam o fechamento da RCTV de um ‘ataque à liberdade de expressão’ na Venezuela. Marcel Granier, executivo da emissora, declarou que a ação de Chávez ‘marca um passo em direção ao totalitarismo’.

No domingo, centenas de manifestantes se reuniram próximo aos escritórios da RCTV para protestar contra o fechamento. Do mesmo modo, partidários do presidente foram às ruas para demonstrar apoio à medida. No fim, as manifestações pacíficas deram lugar a violentos confrontos.

Abertamente oposição

Chávez e seus defensores acusam a emissora de apoiar um golpe que o tirou brevemente do poder, em 2002, além de violar leis de transmissão e de exibir com freqüência programas com cenas excessivas de sexo e violência. A decisão de tirar a emissora de 54 anos do ar foi tomada logo após a reeleição de Chávez, no fim de 2006.

Durante a campanha presidencial, a RCTV defendeu abertamente a derrota do candidato e deu amplo espaço para a oposição. ‘Esta emissora de televisão se tornou uma ameaça ao país, então eu decidi não renovar sua licença, pois isto é minha responsabilidade’, afirmou o presidente.

A questão sobre o fechamento da RCTV parece ter mobilizado a população do país. Na semana passada, foram realizadas diversas manifestações populares em Caracas, contrárias e favoráveis à ação do presidente.

Preocupação internacional

Na quarta-feira (23/5), o Parlamento Europeu adotou uma resolução condenando a decisão do governo venezuelano. ‘Ao aprovar a resolução, o Parlamento Europeu ressaltou seu compromisso com os princípios de liberdade de imprensa e pluralismo editorial, acima e além de divisões ideológicas’, afirmou a organização Repórteres Sem Fronteiras [24/5/07], com sede em Paris. ‘Nós lamentamos apenas que o debate que precedeu a adoção da resolução não pôde incluir o diálogo com as autoridades venezuelanas, surdas com relação aos apelos vindos da comunidade internacional, incluindo governos latino americanos, e da própria população da Venezuela’, completou a RSF.

Na sexta-feira (25/5), o senado dos EUA também aprovou, por unanimidade, uma resolução expressando ‘profunda preocupação’ com a medida de Chávez. O documento, de autoria do democrata Christopher Dodd e do republicano Richard Lugar, classifica a ação do presidente venezuelano contra o canal de oposição como uma ‘transgressão contra a liberdade de pensamento e expressão’.

Segundo os senadores, é preciso encorajar a Organização dos Estados Americanos a responder a esta transgressão. Entre os nomes na resolução estão os dos pré-candidatos à presidência Hillary Clinton e Barack Obama, pelo partido Democrata, e John McCain, pelo partido Republicano. ‘Esta resolução bipartidária mostra que os EUA compartilham a preocupação sobre a deterioração da democracia na Venezuela’, afirmou Lugar.

Nova elite

Segundo artigo assinado por Simon Romero no New York Times [27/5/07], o fechamento da RCTV simboliza o surgimento de uma nova elite midiática. ‘Ela é formada por devotos ideológicos do senhor Chávez, funcionários do alto escalão do governo e magnatas’, afirma o texto, identificando um destes empresários: Arturo Sarmiento.

Educado em escola militar britânica, Sarmiento fez fortuna com a venda de petróleo e importação de uísque. No ano passado, comprou a emissora TeleCaribe. Com apenas 35 anos, o defensor de Hugo Chávez exemplifica o atual cenário do setor de TV venezuelano. ‘Com a polarização que ocorreu na Venezuela, as organizações de mídia se acostumaram a provocar mudanças políticas’, afirmou recentemente em uma entrevista. Suas ambições com a TeleCaribe são diferentes: ele quer fornecer programação feita sob medida para audiências regionais na Venezuela. ‘Veículos de mídia não deveriam se engajar em política’, conclui. Com informações da AFP [25/5/07] e de Ian James [AP, 27/5/07].