Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Festas de outubro ‘entorpecem’ jornais

As tradicionais festas de outubro mexeram com as cabeças dos jornais catarinenses. Acostumados a destinar generosos espaços aos festejos, os diários locais não alteraram muito as suas rotinas mesmo diante da ameaça nuclear concretizada nos testes promovidos pela Coréia do Norte. De 7 a 15 de outubro, este MONITOR DE MÍDIA acompanhou os jornais catarinenses, observando seus espaços privilegiados de opinião, os editoriais, e a cobertura noticiosa. E o que se viu, de um modo geral, é que a imprensa do estado demorou a se manifestar sobre o caso, demonstrando sonolência e falta de clareza nas prioridades. O planeta próximo de um conflito nuclear e os jornais mais preocupados com a quantidade de chopes vendida na Oktoberfest!!!

Chope demais no Santa

Como já era esperado, o Jornal de Santa Catarina virou praticamente um diário oficial da 23ª Oktoberfest, festa alemã de Blumenau. Apesar do suplemento Oktober Zeitung ser dedicado à festa, o jornal não deixou de falar dela no restante de suas páginas.

Conseqüentemente, as outras festas de outubro ficaram em segundo plano e ocuparam pouco espaço no Santa. Nos primeiros dias da semana passada, a Oktober foi tema para:

** Manchetes: ‘27.921 sorrisos’, 07 e 08/10 e ‘Preço na Oktober sobe na proporção da alegria’, 10/10;

** Fotos-destaque: ‘27.921 sorrisos’, 07 e 08/10 e ‘De cabelo em pé’, 09/10;

** Chamadas de capa: ‘Tudo sobre o fim de semana na Oktoberfest’, 07 e 08/10; ‘De cabelo em pé’ e ‘Abaixo as filas: Parque terá mais 26 banheiros’, 09/10;

** Editoriais: ‘Lições da festa’, 07 e 08/10 e ‘Preço salgado’ 10/10;

** Artigos: ‘Segundo turno e Oktoberfest’, 09/10;

** Informes econômicos: ‘Sede recorde, 07 e 08/10’ e ‘Comércio típico’, 09/10;

As demais festas, como a Marejada e a Fenarreco, foram apenas citadas na edição dos dias 7 e 8/10, onde foi publicada uma sucinta programação do sábado e do domingo. Fatos já percebidos há um ano por este Monitor de Mídia, no diagnóstico de 28/10/2006.

É de se entender a empolgação dos blumenauenses e a relevância da festa, mas, é importante cobrir os outros eventos da região. Santa Catarina é palco de diversas festas em outubro e, muitas delas, são cada vez menos valorizadas pela mídia que tende sempre a concentrar-se na Oktoberfest. Descentralizar a cobertura festiva é mais do que uma obrigação do jornal que diz cobrir a região do Vale do Itajaí; é uma questão de respeito aos leitores e suas respectivas tradições.

Tratamento formal no DC

O Diário Catarinense, durante o período analisado, publicou poucas matérias referentes às festas do mês em de Santa Catarina. O periódico se limitou a mostrar a Oktoberfest e a Marejada, esquecendo-se da Fenarreco, da Kengelfest, da Oktoberfeste de Itapiranga entre outras.

Com matérias superficiais, como ‘Público recorde no primeiro dia’, ‘Bonecos animam a Marejada’ e ‘Ação policial ganha reforço na Oktoberfest’, o jornal descreveu o que ocorreu nos primeiros dias da Marejada, em Itajaí, e sobre o aumento da segurança no Parque Vila Germânica, em Blumenau. O fato é que o jornal poderia ter contextualizado mais, ao tratar da movimentação econômica que as festas geram, em decorrência do grande número de turistas que costumam comparecer todos os anos.

Festas de menos no AN

No geral, A Notícia não destacou as festas de outubro na semana que passou. A maior festa catarinense da época, a 23ª Oktoberfest de Blumenau, apareceu como qualquer outro assunto cotidiano. As demais festas estiveram presentes em referências dentro de outros assuntos ou em pequenas notas. Nenhuma delas abordou aspectos culturais das comemorações.

Em 7 e 8 de outubro, não houve nenhuma matéria acerca das comemorações pelo Estado. Na segunda-feira, 09/10, o jornal fez uma sutil referência à Oktoberfest de Itapiranga, na legenda da foto que acompanhava ‘LHS só participa de um debate até dia 29’. No mesmo dia, na Editoria ‘Estado’, a matéria ‘135 mil visitantes em quatro dias de folia’, apesar de pequena, tratou com detalhe os bastidores da Oktoberfest. Junto com o texto, a sub-retranca ‘Evento açoriano tem até pagode’ apresentou de forma resumida a Marejada e suas atrações.

Em 10/10, na abertura da Editoria ‘Estado’, ‘Ocupação de 80% nos hotéis de Blumenau’ descreveu os fatos que marcaram o primeiro final de semana na Oktoberfest. Numa pequena nota, acompanhando a matéria, mostrou os preparativos para Kengelfest, na cidade de Rio do Sul.

Enquanto isso, no resto do mundo…

A Coréia do Norte anunciou seus testes nucleares no dia 9 de outubro e os jornais catarinenses deram o fato no dia seguinte. O Diário Catarinense, com a manchete ‘ONU condena teste nuclear da Coréia do Norte e avalia sanções’ (10/10), destacou a crise estabelecida no planeta. O jornal apresentou duas páginas na editoria ‘Reportagem Especial’, com o título ‘Ameaça Nuclear’. As matérias publicadas foram descritivas e bastante esclarecedoras, fornecendo aos leitores subsídios suficientes para entender o caso. Por outro lado, naquela mesma edição, o jornal não fez menção ao episódio em nenhum editorial, artigo ou texto que expresse opinião. O mesmo se deu no Jornal de Santa Catarina que deu o assunto numa matéria descritiva no dia 10: ‘Coréia do Norte desafia o mundo’. Mais uma vez, apesar da relevância do assunto, ele ficou em segundo plano em termos de editoriais. Na mesma edição, a ‘Opinião do Santa’ se queixava dos preços do chope e do salsichão na Oktoberfest! No dia 13, o editorial do Jornal de Santa Catarina comemorava os números positivos da festa, destacando a presença de turistas e o consumo de dezenas de milhares de litros de chope.

O leitor dos dois jornais só foi encontrar alguma coisa sobre a ameaça nuclear no editorial comum do dia 11, ‘Teste de insanidade’. No texto, a evidente preocupação: ‘O recrudescimento da ameaça nuclear, seja pelos testes norte-coreanos, seja pelas pretensões iranianas, seja pela situação nas fronteiras de Índia e Paquistão, seja pela distribuição dessas armas nos países da antiga União Soviética, seja pela presença de ogivas nucleares nos EUA, na Europa Ocidental e na China, é uma permanência do clima de insegurança e medo que dominou a Guerra Fria na segunda metade do século 20. Pior do que esta situação seria ver prosperar pretensões armamentistas em outros países do Extremo Oriente ou de qualquer outra região, ou ganhar força a tese de que à afronta da Coréia do Norte a resposta deveria ser militar. Em nome da paz, a humanidade deveria rejeitar todos esses resquícios de insanidade’.

A Notícia recorreu às agências noticiosas para informar sobre o impasse nuclear. Nos dois dias que sucederam o caso, o jornal trouxe matérias totalmente descritivas. No primeiro dia, em ‘China e Japão contra teste norte-coreano’, o assunto abriu o caderno ‘Mundo’. No dia seguinte, o tema foi manchete em ‘EUA pedem rigor contra teste nuclear de coreanos’. Dessa vez a matéria foi pauta em ‘Destaque’, com uma página inteira. Com grande aproveitamento de material de agência, o texto foi descritivo e apresentou o desdobramento pelo mundo, inclusive no Brasil. Apesar do cuidado em explicar com infográficos, não ouve uma contextualização e nem prognósticos, algo importante, devido à proporção do fato. Em editorial, o posicionamento do jornal de Joinville só veio mesmo no dia 11 com ‘O teste nuclear da Coréia’, título anódino como o restante do texto. Após uma extensa análise conjuntural, a opinião do jornal revela-se desalentadora: ‘A humanidade parece predestinada a percorrer um caminho de insensatez absoluta, com o domínio da energia nuclear em mãos de líderes tão radicais quanto Kim Jong. Agora, apesar das reações unânimes em quase todo o planeta, resta a dolorosa conclusão de que não há qualquer possibilidade de êxito da política de controle adotada pela ONU e pelos demais países já detentores de armas atômicas’.

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