Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Formar não é envelopar

A noite de 8 de agosto foi de festa pela conquista alcançada por nove jovens que colaram grau de bacharel em Comunicação Social, habilitação Jornalismo, na Unifra, em Santa Maria (RS). Foi mais uma etapa vencida, após quatro anos de atividades teóricas e práticas nos bancos universitários.

As mutações havidas no ambiente midiático, com uso intensivo de tecnologias convertidas em meio, transformam os processos, as interações, o modo de ser da mídia e, principalmente, a identidade das profissões na área.

No momento em que esses nove jovens receberam, da Universidade, a autorização para ir em busca do mercado de trabalho, numa segunda aventura, as possibilidades de exercício da profissão de jornalista se encontram ameaçadas.

Tal fato ocorre na medida em que se discute, no Supremo Tribunal Federal (STF), a observância da exigência do diploma como condição para o exercício da profissão.

Este fenômeno é um retrocesso, pois o reconhecimento do diploma é um avanço. Especialmente numa sociedade que se especializa e, ao mesmo tempo, requer que certificados de reconhecimentos sejam dados àqueles que se capacitam para o exercício das diferentes profissões.

A serviço de uma missão social

Não se trata apenas de um reconhecimento cartorial, mas de um treinamento que foi ministrado àqueles que se candidatam ao Jornalismo e que, neste caso, receberam da universidade o ‘passe’ para fazerem novos rituais.

O jornalismo sempre se preocupou com a qualificação dos seus quadros, desde o momento dos autodidatas até o tempo atual, circunstância em que os jovens que egressam da Universidade são acolhidos pelo mercado para ocuparem as novas matrizes de funcionamento da mídia.

A formação universitária nunca vai repetir o que dela exige o mercado e se equivocam aqueles que julgam que a universidade deve ser um apêndice dos mercados profissionais. Seu status é o de perseguir outros tempos, produzir reflexões e ensinamentos acerca dos ofícios para os quais preparam ética, intelectual e humanisticamente futuros quadros a serviço da sociedade.

A formação que hoje os tempos da midiatização exigem pede um processo integrado entre mercado, entidades profissionais e universidade, cada um com a sua especificidade. Mas, da parte da Universidade, o que marca a sua ambição de diplomar não é a de expedir um papel, mas enfatizar que este papel tem uma função simbólica: pedir reconhecimento daquele lugar que forma o jornalista. Mas, também, anunciar publicamente que, graças aos seus processos formativos, a universidade credencia aqueles que dela querem fazer uso a serviço de uma missão social que, neste caso, é o jornalismo.

Interesse público e cidadania

Aos novos jornalistas, pedimos que não esmoreçam diante das dificuldades. Especialmente dos tempos sombrios das condições de trabalho impostas pelas mutações que a noticiabilidade sofre hoje, em decorrência de mudança nos processos produtivos. Tenham noção destes tempos para trilharem as possibilidades de fazer melhor os tempos de amanhã, onde neles os recém-formados vão estar nesta profissão.

Antes, porém, é preciso entender que, a despeito das dificuldades que serão enfrentadas, somente os novos profissionais poderão executar a tarefa de ‘analistas da jornada’ que serão convidados a exercer depois da formatura. Conforme o jornalista e escritor José Marques de Melo, ‘na medida em que o jornalista assume o papel de agente social, responsável pela observação da realidade, ele se torna mediador entre os fatos de interesse público e a cidadania’.

Confiança na caminhada

O diploma não é um controle de qualidade. É a expressão simbólica emitida por um lugar cuja vocação é formar. Formar não é envelopar, mas instituir referências, autorizar pessoas a fazer de suas normas e dos seus preceitos regras e fundamentos que estejam a serviço de um modo de agir, mas também a serviço da sociedade. Jornalistas para o mercado, sim, mas a serviço da sociedade e reconhecidos pela singularidade da formação universitária.

Outro conselho aos novos jornalistas: nunca percam a esperança. Acreditem que é possível fazer um jornalismo sério, responsável, justo, ético e plural. Tenham confiança na nova caminhada, que os impulsiona para outras oportunidades, esperamos, também exitosas. Observem, analisem, descrevam, relatem, enfim, coloquem em prática os ensinamentos adquiridos e as experiências compartilhadas com os colegas, professores e técnicos. Façam valer o diploma conquistado, respirem jornalismo e sejam felizes na profissão que escolheram.

[Este artigo é uma adaptação do discurso proferido na formatura da quarta turma de Jornalismo da Unifra, em 8/8/2008, em Santa Maria (RS)]

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Jornalistas e professores da Unifra, Santa Maria, RS