Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Interação pelo progresso dos cidadãos

O papel do educador está em constante transformação na sociedade, principalmente com os avanços tecnológicos. Antes tínhamos falta de informação. Hoje, com o crescimento da mídia – principalmente a eletrônica – há excesso de informações.

A escola, portanto, deve acompanhar esse processo não apenas para se atualizar, mas para que o conhecimento de mundo se aproxime mais do aprendizado dos futuros cidadãos em desenvolvimento. Mas será que basta debater os principais assuntos da semana veiculados pelos principais jornais do país para que o educador sinta cumprida sua missão?

Quando eu estava em um curso preparatório para o vestibular, lembro de um professor de História que afirmava, em suas aulas, que era importante que lêssemos, no mínimo, dois jornais diários e uma revista semanal a fim de que nos mantivéssemos atualizados e participantes do mundo em que vivemos.

A partir disso, penso que ser um leitor assíduo de jornal nem sempre me leva a entrar em contato com a realidade. Os educadores parecem que querem mais informar seus alunos, e não realizar sua função, que é formar. Tudo bem que seja importante os estudantes saberem dos acontecimentos a sua volta. Nesse ponto a mídia é fundamental. Entretanto, os profissionais da educação devem ensinar aos jovens a leitura crítica da produção dos meios de comunicação.

Recordo-me de sempre ler e estar sempre bem-informado na adolescência. Porém, refletir e interpretar o que se está lendo é uma prática que a escola na qual estudei falhou: não me ensinou a pensar sobre a influência da mídia em minha vida. Estudei em escola pública com formação para técnicos. A finalidade era a formação de mão-de-obra especializada e barata. Não preparava para ingressar em curso superior nem para reflexão do mundo, preparava apenas para o trabalho automatizado.

Contudo, sabemos que o caso da minha ex-escola não é isolado. As escolas – tanto as públicas como as particulares – chamam a atenção de assuntos que estão na mídia em sala de aula, mas falta o pensamento crítico sobre o papel da mídia em suas vidas.

O site Observatório da Imprensa, que pretende ser observador do comportamento dos meios de comunicação, costuma confirmar que os jornais têm o dever de vigiar a conduta dos governos e da sociedade em geral, mas não há quem os controle. A conduta do mundo jornalístico deveria ser mais questionada nos bancos escolares de ensino médio e fundamental, não apenas nos cursos superiores. Veja bem o que dizem Guareschi e Biz, em Mídia, educação e cidadania, ed. Vozes, 2005:

(…) o educador que se detiver na interpretação dos acontecimentos está imediatamente superado. E isso ainda é mais importante no que se refere à mídia. Mas não se trata de saber o que passa, ou seja, a informação, mas de pensar, refletir, entender, saber, analisar aquilo que lhe é repassado. (…)

Guareschi e Biz, ambos grandes estudiosos dos meios de comunicação, no livro citado mostram como a relação entre educação e mídia é assunto atual, sério, urgente e inadiável. A mídia está presente em todos os lugares. Em todas as áreas do saber ela está inserida, metida, sempre falando sobre todos os assuntos. Dificilmente alguém deixa de comentar em seu meio social o que repercutiu no rádio, no jornal e principalmente na televisão. Como a mídia é onipresente em nossas vidas, conseqüentemente ela influencia também o processo educacional.

Ainda Guareschi e Biz: ‘Tudo passa pela indústria da imagem. Ciência, religião, guerra, tudo.’ Vendo o poder da mídia estabelecido e solidificado nas sociedades modernas e democráticas, percebo que o educador não deve apenas incentivar a leitura. Isso só não basta. Precisa ensinar os alunos a pensarem sobre o que lêem. Até que ponto o jornalista tem legitimidade de abordar um assunto de uma forma e não de outra? Por que alguns assuntos são mais importantes e ganham maior destaque que outros?

Os alunos devem saber refletir sobre o que os jornalistas escrevem, e não apenas aceitar numa via de mão única seus argumentos sobre os fatos do cotidiano. Outro fator importante é que não devemos só refletir e criticar os principais assuntos da semana. Há também que pensar na razão de alguns acontecimentos não ganharem tanta importância e outros, tamanho exagero. Enquanto o assunto da corrupção na política ocupa todos os jornais diários, o Congresso vota projetos cruciais para a vida de milhares de cidadãos sem a atenção da mídia.

Os cursos preparatórios para vestibular destacam assuntos midiáticos que costumam cair nas provas. Entretanto, os concursos vestibulares vêm pedindo a reflexão dos futuros universitários em diversos assuntos, pautados ou não pelos jornais.

Então, desde o ensino fundamental e médio é imprescindível que educação e comunicação interajam a favor do progresso dos cidadãos, para que tenham espírito crítico não apenas para enfrentar uma prova qualquer, mas para saber pensar sobre o mundo de forma autônoma.

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Jornalista e estudante de Letras, Porto Alegre