Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalista analisa o histórico da notícia trágica

Após publicar o livro Os sofrimentos do jovem Werther, em 1774, o alemão Wolfgang Goethe teve uma triste surpresa: uma onda de suicídios atingiu a Alemanha e vários jovens se mataram como o protagonista do livro, atirando com uma pistola na própria cabeça. Em muitos dos casos, um exemplar da obra de Goethe era encontrado ao lado do corpo. A imitação foi apelidada, posteriormente, de efeito Werther.

Esse é um dos exemplos mais utilizados para explicar o chamado contágio que o suicídio pode causar – tema explorado por Arthur Dapieve, colunista do jornal O Globo e professor da PUC-Rio, no livro Morreu na contramão: o suicídio como notícia. ‘Cópias de tais notícias [sobre suicídios] são freqüentemente encontradas ao lado de corpos de outros suicidas’, explica o autor, ‘do mesmo modo como, no século 18, acontecia com os exemplares de Werther‘. Escrito como tese de mestrado do jornalista, foi adaptado e lançado pela editora Jorge Zahar em 2007. Apesar de ser um texto acadêmico, o livro é acessível, mesmo para pessoas que não têm intimidade com o jornalismo. As questões são elaboradas a partir de acontecimentos, tratando com realismo um tema delicado como o suicídio.

Imprensa e morte

Dapieve procura relacionar a filosofia e a sociologia. A partir de Émile Durkheim, Karl Marx e Albert Camus, o autor mostra que, apesar de ser uma pauta evitada pelo jornalismo, o suicídio sempre foi visto com curiosidade por aquelas duas áreas. O suicídio (1897), de Durkheim, é considerado um estudo pioneiro da então desprezada área da sociologia, a suicidologia. Até a publicação da obra, grande parte das abordagens sobre a morte voluntária baseava-se em preconceitos medievais ou relatos feitos por médicos.

O suicídio de um casal em 1732, em Londres, foi amplamente explorado pela imprensa inglesa. Após matar o filho de dois anos, marido e mulher se enforcaram lado a lado – não sem antes deixar dinheiro reservado para os cuidados com um cão e um gato, como explicitado num bilhete. A frieza do ato é considerada por muitos estudiosos do assunto, e também por Dapieve, um marco na relação entre a imprensa e o tema: deve-se tratar os suicidas como pessoas racionais?

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Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina