Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Laura Mattos e Diego Assis

‘No ‘reality show’ ‘Família MTV Supla’, com estréia marcada para 3 de maio, a prefeita de São Paulo -e candidata à reeleição- aparecerá conversando com o filho durante uma caminhada pelas arborizadas ruas do Jardim Europa, onde reside.

Nada de política. Com uma roupa esportiva preta e os cabelos presos, Marta perguntará ao primogênito sobre sua vida agitada.

A prefeita também ganha ares de ‘mãezona’ num desenho animado do humorístico ‘Casseta & Planeta, Urgente!’, na Globo.

Em ‘Os Suplicympsons’, paródia de ‘Os Simpsons’, será Marta Suplicympson -versão da supermãe Marge, do cartum norte-americano. A sátira vai ao ar no dia 13, quando estréia a nova temporada do programa.

Incluirá o senador Eduardo Suplicympson, o roqueiro Supla Simpson e o Argentino, alusão a Luis Favre, marido da prefeita.

Supla é o centro do ‘reality show’ e deverá ser do desenho, em fase de aprovação pela direção da rede.

Mais pop do que nunca, o cantor participará ainda do ‘Sítio do Picapau Amarelo’ (Globo). Fará o papel de Elvis, empresário doidão do grupo Dance, liderado por Diana (Wanessa Camargo). A história será exibida em maio, ainda sem data definida, e o cantor poderá ir ao ar simultaneamente na Globo e na MTV.

No canal musical, Supla estrela a quarta edição da série de ‘reality shows’ inspirados em ‘Os Osbournes’, sobre o lendário ex-líder da banda Black Sabbath, sucesso da MTV norte-americana.

A versão brasileira é hoje um dos principais investimentos da emissora, segundo o diretor de programação, Zico Goes.

Em 2003, as três primeiras edições, afirma, obtiveram bons resultados de audiência e mercado. A primeira, de João Gordo, foi a melhor, com médias de 2 a 3 pontos no Ibope, altas para a MTV. A segunda (Marcelo D2) e a terceira (Wanessa Camargo) registraram acima de um ponto, algo a comemorar no canal segmentado (cada ponto equivale a 48,5 mil domicílios na Grande SP).

Foram audiências superiores às de ‘Os Osbournes’ no Brasil. Animada, a MTV produziu o ‘Família Supla’ com seis capítulos de meia hora. São dois a mais do que os anteriores e serão transmitidos em duas semanas (de segunda a quarta). ‘Desta vez, o programa já está vendido [a patrocinadores] antes da estréia’, diz Goes.

O próximo, ainda neste semestre, será com a roqueira baiana Pitty. Já estão programados mais dois ‘Famílias’ até o fim do ano.

A idéia do ‘reality’ é mostrar o cotidiano das celebridades com tom próximo ao de um documentário. O artista é acompanhado apenas por um produtor, que faz papel de câmera e repórter.

‘Família’ deverá ir além do que o telespectador viu de Supla na ‘Casa dos Artistas’, o ‘Big Brother’ do SBT, exibido em 2001. Há dez dias, a Folha acompanhou o cantor em uma gravação do ‘reality’, na favela de Heliópolis.

Era a terceira vez que o celular tocava em menos de 20 minutos no trajeto. ‘Você ligou só para perguntar como eu estou?’, derretia-se ao ouvir a namorada. ‘You really love me, baby, don’t you love me?’ (Você realmente me ama, querida, não ama?).

O jeitão Nelito -personagem de Taumaturgo Ferreira na novela ‘Celebridade’, que adora bordões em inglês- vem da infância, quando viveu nos EUA. ‘Amo e odeio esse país. Eles têm coisas muito legais, inventaram o rock’n’roll!.’ Toca o telefone outra vez: era de uma loja, e aquele filme raro de David Bowie tinha acabado de chegar.

Diz que vai buscar depois, porque estava num compromisso com as meninas do Paquistão Social Laferr Bola Brasil, projeto da comunidade de Heliópolis para o qual o roqueiro ‘dá uma força sempre que pode’. ‘O esporte é importante para essas meninas não caírem na bandidagem.’

Ao contrário do que se poderia imaginar, Supla tem lá as suas regrinhas na vida: ‘Coloco o despertador para as 7h da manhã. Ultimamente minha vida tem sido muito burocrática. Acordo e já entro na internet. É chato’.

Acostumado às câmeras, o vice-campeão da ‘Casa dos Artistas’ adianta: ‘Na MTV vai ser diferente. Quando aceitei entrar na ‘Casa’, só queria divulgar o meu CD e ganhar aquela grana’, lembra. ‘Aquilo é uma prisão de luxo.’

Carro, celular, shows e até uma esticadinha ao Guarujá quando tem onda. É essa a rotina que o espectador vai acompanhar. Além de um almoço com a avó Filomena, 95. ‘Sou uma pessoa família. A nossa história merece um filme. Mãe prefeita, pai senador e um filho roqueiro. That’s great, man!’’

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Expor lado mãe ajuda Marta, diz marqueteiro’, copyright Folha de S. Paulo, 4/04/04

‘Depois de terminar um casamento de 36 anos com o senador Eduardo Suplicy e de se casar com o argentino Luis Favre, a prefeita Marta Suplicy terá, em pleno ano eleitoral, a chance de mostrar na TV seu lado ‘mãe’ e ‘família’.

A exposição do clã no ‘reality show’ ‘Família MTV Supla’ e no quadro ‘Os Suplicympsons’, do ‘Casseta & Planeta’, é benéfica à petista candidata à reeleição.

Essa é a opinião do marqueteiro político Nelson Biondi, responsável pela campanha do tucano José Serra à Presidência, em 2002, e parceiro de Duda Mendonça (publicitário de Lula) no marketing de Paulo Maluf (PP), em 1996, quando ele venceu o pleito pela Prefeitura de SP. Os dois políticos são cotados à disputa com Marta.

‘Essa história de mostrá-la como mãe do Supla e de inseri-la na família acrescenta positivamente para a imagem dela. Se isso renderá diretamente votos, é difícil dizer. Mas pode gerar simpatia do eleitor’, afirma Biondi à Folha.

‘O quadro do ‘Casseta’, mesmo sendo uma sátira, ajuda o público a se lembrar da família, que é popular e tem muitos personagens.’

O ar familiar de ‘Os Suplicympsons’ será reforçado pelo fato de a apresentadora do programa, Maria Paula, estar grávida de João Suplicy, outro filho de Marta.

Biondi não acredita que essa vitrine televisiva irá ferir a legislação eleitoral. ‘Seria complicado se os programas fossem exibidos a partir de julho. Mas em maio não deverá haver problemas. A Marta ainda nem é candidata oficial.’

Jesse Ribeiro, assessor político de Maluf e ex-presidente do PP, afirma que os advogados do partido ficarão atentos aos programas. Mas não pretende encrencar com esse lado ‘artístico’ da petista. ‘Não costumamos entrar na Justiça contra ninguém, a não ser que sejamos diretamente atingidos.’

Ribeiro declara não crer que essa exibição favoreça Marta eleitoralmente. ‘A população tem um discernimento muito grande. Confio no julgamento do eleitor.’

Para ele, o ‘reality show’ e o quadro do ‘Casseta’ ampliam o ‘espaço de Marta na mídia, que já é maior do que o dos outros’.

‘No ‘Casseta’, no entanto, não sei se será bom. Eles satirizam as pessoas. Eu não iria concordar com um desenho sobre o Maluf.’

O assessor faz mistério sobre a eleição deste ano. ‘O PP terá um candidato, e sempre escolhemos aquele que está melhor na avaliação do público.’ No domingo passado, dia 28, pesquisa Datafolha apontou Maluf com 24% das intenções de voto, José Serra com 22% e a prefeita com 17%.

O deputado estadual Edson Aparecido, presidente do diretório paulistano do PSDB, foi procurado pela Folha para dar a sua opinião sobre os programas de TV com Marta. Sua assessoria de imprensa informou que ele preferia não comentar o assunto.

Filho do Maluf

Zico Goes, diretor de programação da MTV, disse que nem pensou se ‘Família’ será bom para a campanha de Marta. ‘Pensei que será ótimo ela estar no programa porque é muito conhecida e trará mais audiência. Fora isso, sua participação seria obrigatória, pelo fato de ser a mãe do Supla.’

Goes está tranqüilo em relação à legislação eleitoral. ‘As regras só valem a partir de julho. Além disso, não vamos nem detonar nem fazer propaganda da Marta, mas mostrá-la no habitat natural.’

O diretor nega que a prefeita tenha tentado usar politicamente o programa, mostrando sua atuação na prefeitura. ‘E nós também não cederíamos a possíveis exigências dela’, afirma.

Sobre um eventual ‘ciúme’ por parte de outros potenciais candidatos à prefeitura de São Paulo, Goes brinca: ‘Quem mandou eles não fazerem filhos como o Supla? Não tenho interesse de exibir um programa com um filho do Maluf. Não me parece tão interessante e ‘MTV’ como o Supla’.

O roqueiro afirma que não quis misturar política com o ‘reality’ da MTV. Ele se assume, porém, como cabo eleitoral. ‘Converso com taxistas, motoboys, ouço as reclamações deles e sempre que posso dou uns toques para a minha mãe’, disse à Folha.

E flerta com uma eventual carreira política própria. ‘A muitos lugares que vou, as pessoas pensam que sou prefeito!’ Diz já ter recebido convites para seguir o rumo dos pais. ‘Tenho até uma música que diz: ‘Nunca diga desta água não beberei’. Mas é preciso tempo, e tenho minha vida.’’



BAIXARIA NA TV
Christiane Balbys

Santa Catarina lança cartilha contra a baixaria na TV’, copyright Meio & Mensagem, 29/03/04

‘A campanha ‘Quem financia a baixaria é contra a cidadania’ ganhou um reforço importante de Santa Catarina.

A campanha ‘Quem financia a baixaria é contra a cidadania’ ganhou um reforço importante de Santa Catarina. O Fórum Catarinense de Acompanhamento da Mídia, instituído em agosto de 2003, lançou uma cartilha que deverá chegar à rede pública de ensino até o dia 30 de abril e, depois, ampliará sua distribuição para a rede privada de educação, associações, sindicatos, entidades comunitárias entre outros canais de informação da sociedade em todo o Estado. Na publicação há uma argumentação de toda a campanha, conceitos a respeito da influência da mídia sobre o comportamento da sociedade global, dados sobre a exposição a que crianças, jovens e adultos estão submetidos e a legislação em vigor (artigo nº 221 da Constituição brasileira) que ancora toda a atividade da campanha nacional deflagrada pelo projeto de lei nº 1.660/2003 do deputado Orlando Fantazini (PT/SP) sobre ética para a programação da televisão aberta no País.

‘Somos um braço regional da campanha nacional e nosso papel é disseminar as informações para que a sociedade catarinense esteja atenta à influência da mídia em sua vida e seus efeitos’, explica o deputado Paulo Eccel (PT/SC) que coordena os trabalhos do Fórum Catarinense de Acompanhamento da Mídia. Segundo Eccel, a tiragem inicial da cartilha, de 20 mil exemplares, deve atender às primeiras ações previstas pelo movimento no Estado catarinense, mas o fórum deverá buscar parceiros para novas edições e distribuição do material.

A cartilha já está disponível em PDF no site www.eticanatv. org.br . Uma campanha de rádio e TV, com jingles e vinhetas, deverá ser produzida e veiculada pelas emissoras de Santa Catarina para ‘massificar seu conteúdo’. A capa da cartilha é assinada por Pedro Paulo Delpino, com ilustração de Frank Maia. As escolas serão parceiras estratégicas da campanha no Estado por meio de projetos de educomunicação, que abrem espaço na sala de aula para discussão e análise de programas de TV, produtos de mídia em geral e propaganda.

O desafio do fórum está na conscientização, visto que o disque-denúncia (0800-619-619) bem como o site da campanha nacional são instrumentos facilitadores do exercício da cidadania. ‘As pessoas precisam reconhecer o seu direito a uma programação de boa qualidade, se habituar a recorrer aos órgãos de reclamação, como fazem com o Procon, quando têm problemas com produtos, empresas e serviços’, diz o deputado. As denúncias originárias de Santa Catarina, apesar de serem recebidas pelo telefone nacional da campanha, serão acompanhadas pelo fórum local. Segundo Paulo Eccel, esta é uma forma de observar o ‘nível de conscientização da população no Estado’, saber a quais programas da grade nacional assistem e o que os agride nesta programação. Isto porque a programação local não oferece tantas opções, nem boas, nem ruins.’



Keila Jimenez

Psicólogos fiscalizam baixaria na TV’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/04/04

‘A campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, que pretende melhorar a qualidade dos programas de TV, ganhou uma forcinha extra. Anteontem, a Comissão dos Direitos Humanos da Câmara, que encabeça a campanha, assinou uma parceria com o Conselho Federal de Psicologia para ajudar a fiscalizar os programas que promovem a baixaria na TV.

Pelo acordo, psicólogos de todo o País trabalharão voluntariamente acompanhando programas de TV. Eles vão analisar as atrações e denunciar, por meio de pareceres, as que forem apelativas ou contra os direitos humanos.

Os psicólogos vão elaborar relatórios periódicos descrevendo o conteúdo dos programas denunciados e explicar suas falhas.

Esses relatórios vão ajudar a compor o ranking da baixaria, que denuncia, a cada dois meses, os programas que cometem abusos. A idéia do ranking, pilotada pelo deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), é expor os anunciantes que apóiam programas apelativos.

O ranking, que terá divulgada sua 6.ª edição no próximo dia 14, reúne os dez programas com o maior número de reclamações do público.

Nas listas divulgadas até aqui, os líderes foram Domingo Legal, do SBT, Canal Aberto, da RedeTV! e Kubanacan. A trama da Globo liderou o último ranking, com queixas sobre o exagero de cenas de apelo sexual e de violência. O folhetim, por sinal, quase teve seu horário indicativo reclassificado por causa das denúncias.

Seminário – Além da parceria com o Conselho de Psicologia, a luta contra a baixaria na TV virou tema de seminário internacional.

Em um requerimento aprovado pela Câmara esta semana, fica estabelecida a organização de um seminário sobre Ética na TV ainda este ano. Entre os temas que serão debatidos está a criação de código de ética para as emissoras, um instrumento que já foi esboçado mais de uma vez, sem nunca ter funcionado na prática.’



TV DIGITAL
Jamil Chade

EUA e Europa disputam TV digital na AL’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/04/04

‘Estados Unidos e Europa estão se valendo das negociações em fóruns internacionais para tentar ‘seduzir’ a América Latina, e em especial o Brasil, a aceitar seus modelos de tecnologias de TV Digital.

Técnicos do Mercosul, que fazem parte da delegação de negociadores nos debates internacionais, revelam que a introdução da nova tecnologia está cada vez mais presente nas estratégias ‘não-declaradas’ das grandes potências em fóruns como o da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), no acordo Mercosul-União Européia (UE), na Organização das Nações Unidas (ONU) e na Organização dos Estados Americanos (OEA).

O Ministério das Comunicações criou o Comitê de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de TV Digital, que estudará a implantação do novo sistema no País e elaborar um relatório em 12 meses sobre o modelo de referência. Há quatro opções: o modelo americano, o europeu, o japonês e um eventualmente desenvolvido no Brasil.

Até o comitê decidir, a disputa pelo mercado brasileiro, avaliado em milhões de dólares, deve ser intensa. Uma das estratégias dos europeus é incluir o tema nas negociações sobre ‘harmonização’ no Subgrupo de Trabalho 3 do acordo Mercosul-UE. Para os negociadores latino-americanos, a ‘harmonização’ pode significar no futuro a necessidade de ter as mesmas tecnologias nos dois blocos.

A assessoria de imprensa de Bruxelas afirma que, de fato, a UE quer um acordo com o Mercosul que não se limite à redução de tarifas para o comércio, mas envolva ‘cooperação em áreas de pesquisa e de tecnologia’.

Em 2003, o comissário europeu para o Comércio, Pascal Lamy, chegou a falar sobre a TV digital com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Lamy apresentou as vantagens de seu modelo e disse que o Brasil poderia ter ‘outras vantagens’ se adotasse a tecnologia européia.

‘Um Hemisfério’ – A estratégia dos EUA tem duas frentes. A mais evidente é a política ‘Um Hemisfério’, que visa ‘promover normas comuns na região para a próxima onda de inovações tecnológicas’.

Washington admite que, ao propor uma Iniciativa de Televisão Digital Hemisférica, suas indústrias poderiam exportar US$ 7,8 bilhões para a América Latina e criar 156 mil empregos em dez anos.

Em dezembro, a Corporação de Investimentos Privados no Exterior, braço da política americana de investimentos, anunciou que estava estabelecendo um fundo de US$ 400 milhões para empresas americanas que quisessem atuar nos mercados emergentes, em telecomunicações. O presidente da corporação, Peter Watson, disse que só para o Brasil US$ 150 milhões.

A outra estratégia é mais sutil. Para os negociadores do Mercosul, a Casa Branca está usando a Comissão Interamericana de Telecomunicações para promover uma harmonização das tecnologias de informação nas Américas. Não por acaso, os americanos foram os primeiros a apoiar a idéia de que a OEA prestasse assistência em assuntos técnicos aos grupos negociadores da Alca.

Para diplomatas brasileiros em Bruxelas e em Brasília, a ofensiva das grandes potências deve ser encarada como parte do jogo. ‘Caberá ao País tomar uma decisão soberana sobre que modelo usará’, disse um deles.

Coincidentemente, a negociação para a criação da Alca e a do acordo Mercosul-UE devem terminar em 2005, ano em que o Brasil deve definir seu padrão de TV digital.’



ENTREVISTA / MARIA LYDIA
Etienne Jacintho

Acredite, ela é quase tímida e foge de um flash’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/04/04

‘Incisiva como âncora do ‘Jornal da Gazeta’, Maria Lydia não teme noticiar ou comentar qualquer tipo de assunto, mas não gosta de fotos e, modesta, atribui à tradição da Gazeta o mérito de atrair grandes personalidades ao seu estúdio

Quem só a conhece pela TV pode fazer outra idéia de sua figura. A jornalista Maria Lydia, sempre muito séria e incisiva ao comentar assuntos de política, economia e do cenário internacional, recebeu a equipe do Telejornal com alguma timidez. ‘Tenho trauma de fotografia’, justificou a simpática âncora do Jornal da Gazeta. Há 12 anos na mesma emissora, Maria Lydia divide seu tempo entre a TV e o rádio – comanda um programa na Rádio Bandeirantes.

Mesmo ancorando um noticiário num canal sem tanta audiência, Maria Lydia tem crédito para receber personalidades de peso no seu Jornal da Gazeta. O governador Geraldo Alckmin enfrentou até congestionamento na Av. Paulista, endereço da emissora, e saiu debaixo de chuva para chegar em tempo de ser entrevistado pela âncora no estúdio. ‘O paletó dele estava molhado’, conta.

Modesta, Maria Lydia credita somente à tradição da Gazeta sua boa fama. ‘Em um noticiário, audiência não pesa.’

Apesar de não gostar de posar para fotos, Maria Lydia não se intimida com as câmeras de TV. ‘Acho que é porque faz parte do trabalho’, fala a âncora, que vive informada 24 horas por dia e não teme assunto algum. Nem mesmo quando o teleprompter a deixa na mão, ela se atrapalha. ‘Vim do rádio.’ E o rádio, além da agilidade, lhe deu desenvoltura. Em episódio recente, ela recebeu no Jornal da Gazeta o secretário de governo Arnaldo Madeira, que queria falar sobre a informatização do serviço público. Ela disse ‘não, vamos falar de política’. Quem se habilita a contrariá-la?

Estado – O ‘Jornal da Gazeta’, diferentemente do Jornal Nacional, recebe convidados e abre espaço para debates com comentaristas. É esse o diferencial?

Maria Lydia – A concepção do Jornal da Gazeta é trabalhar a informação não só com a opinião do âncora, como o Boris (Casoy) faz. Também não é um jornal que veicula volume de informação, como os jornais da Globo ou o do Hermano (Hening), no SBT. Além disso há a interlocução com os comentaristas. Ele prioriza a reflexão.

Estado – O público tem a imagem da Maria Lydia séria, que comenta assuntos complexos de economia…

Maria Lydia – Como temos uma parte conversada no jornal, com convidados e comentaristas, talvez apareça isso. É a decodificação da notícia, que pode parecer muito fácil, mas não é.

Estado – O que está faltando no telejornalismo hoje?

Maria Lydia – Acho difícil falar disso. Seria até prepotência. Temos uma variedade de enfoques, uma liberdade. Há busca de informação, de ilustração.

O nível é muito bom e você vê isso, se comparado a outros países. A TV brasileira oferece muita coisa que não vale a pena, como a exploração do ser humano, mas existe um lado bom.

Estado – Você veio para a Gazeta para comandar o Gazeta Meio-Dia?

Maria Lydia – Fui convidada para fazer um programa de debates ao meio-dia, porque havia sido constatada uma audiência disponível para ver TV no horário. A idéia era de que havia pessoas mais velhas em frente à TV, mas,com o tempo, vimos que não era assim. Havia rotatividade: estudantes, aposentados, empregados em hora de almoço… E o mais interessante é que essa audiência queria ver política.

Estado – Você costuma pautar o jornal com fatos que vê nas ruas da cidade?

Maria Lydia – Pauto direto o jornal com coisas que vejo na rua, no trânsito… Mas não coloco isso para ser reportagem, mas sim para reflexão.

E converso muito com as pessoas: o motorista, o garçom, o taxista, gente no cinema… É muito interessante porque são depoimentos espontâneos, diferentemente de quem manda e-mail para o programa.

Estado – A Gazeta não é uma emissora com grande audiência, mas, mesmo assim, o Jornal da Gazeta é muito prestigiado por personalidades de diferentes áreas. A que você atribui esse fato?

Maria Lydia – Entendo o que você quer dizer, mas a TV Gazeta tem uma característica no jornalismo que as pessoas às vezes não se dão conta. Ela começou com Cásper Líbero e tem compromisso com o jornalismo. A sua posição é de prestígio e isso não se mede em volume de audiência. É qualidade e não quantidade. E eu acredito que minha própria imagem profissional, mesmo antes da Gazeta, é de credibilidade.

Estado – Você tem vontade de ir para uma emissora de maior visibilidade?

Maria Lydia – Eu já pensei muito nessa questão da grife, porque Globo é uma grife. Mas grife pela grife não me seduz. O que seduz é a condição de trabalho e a liberdade que ele dá.

Estado – Você citou os noticiários internacionais e, no exterior, muitas apresentadoras e âncoras são mais maduras. Aqui no Brasil ainda é raro ver esse fenômeno…

Maria Lydia – Aqui ainda não deu tempo de saber se dá para envelhecer no ar. Eu estava lendo no jornal do Sindicato dos Jornalistas que pouco mais de 50% dos profissionais da área são do sexo feminino. Isso é um crescimento progressivo. Em 2002, esse número era de 46%. No mercado em geral, as mulheres conquistaram mais espaço depois da década de 60 e, no jornalismo, isso não é diferente. Primeiro, trabalhavam nas redações, depois como apresentadoras e agora estão chegando à posição de âncora. Isso é comparável à trajetória da mulher no mercado de trabalho. E a cobrança da beleza e da juventude não é mas um critério que prevaleça, como já prevaleceu. Você vê hoje mulheres maduras com grande destaque no jornalismo.’