Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Lula reduz imposto de 4.000 rádios no interior


Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas. 
 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 5 de outubro de 2009 


 


ELEIÇÕES


Fernando Rodrigues


Lula dá redução de imposto para 4.000 rádios no interior


‘Depois de aumentar de 499 para 5.297 o número de veículos de comunicação que recebem verbas de publicidade estatal federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agora resolveu conceder uma redução de imposto para cerca de 4.000 emissoras de rádio no interior.


A decisão faz parte da lei eleitoral sancionada por Lula na última terça-feira. O benefício fiscal será dado na forma de ressarcimento a essas pequenas rádios como compensação pelo tempo que cada uma cede para propagandas partidárias e eleitorais. Hoje, esse tipo de dispositivo só é facultado a empresas de radiodifusão -rádio e TV- de grande porte.


Embora a lei tenha sido elaborada no Congresso, Lula autorizou explicitamente essa iniciativa. Participaram das negociações equipes da Receita Federal e do Ministério da Fazenda. Ajudaram no processo os ministros Hélio Costa (Comunicações), Paulo Bernardo (Planejamento) e Dilma Rousseff (Casa Civil). O próprio Lula recebeu representantes da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) para tratar do assunto.


Para o presidente da Abert, Daniel Slaviero, ‘havia uma injustiça histórica’ contra as pequenas rádios. ‘Todas as emissoras tinham o mesmo ônus ao cederem seus horários para os programas dos partidos e dos políticos. Mas só as de maior porte tinham autorização legal para receberem algum ressarcimento’, afirma.


A nova regra está em linha com uma prioridade antiga do governo: aumentar a viabilidade econômica da mídia regional. Desde o início do seu primeiro mandato, Lula tem sistematicamente procurado dar mais oxigênio para pequenos jornais, rádios e revistas.


A pulverização da publicidade estatal é a face mais visível dessa estratégia. O bolo de mais de R$ 1 bilhão por ano gasto em propaganda pelo governo federal já foi distribuído por meios de comunicação em 1.358 cidades. Quando Lula assumiu, em janeiro de 2003, eram apenas 182 municípios.


Vantagens


O benefício tributário concedido agora às pequenas emissoras tem um custo-benefício favorável ao governo sob dois pontos de vista: financeiro e político. A renúncia fiscal representará, segundo a Folha apurou, um valor pequeno para o Orçamento Geral da União.


Em 2006, apenas com as grandes emissoras de TV e rádio recebendo o ressarcimento, a Receita estimou em R$ 191 milhões a renúncia fiscal por conta da propaganda eleitoral. Agora, com a inclusão dessas 4.000 rádios, não foram divulgadas cifras oficiais. Mas essas emissoras têm um faturamento médio mensal na faixa de R$ 18 mil -ou seja, não terão como abater grandes quantias por causa da nova isenção.


Já do ponto de vista político, Lula poderá argumentar que seu governo democratizou um benefício antes usufruído apenas por emissoras de grande porte. As cerca de 4.000 rádios exercem uma função importante na comunicação para a população em pequenas cidades -e todas estão sendo atendidas por essa benemerência da gestão federal petista na véspera de um ano eleitoral.


A Folha indagou ao presidente da Abert se esse tipo de agrado de Lula não poderia ser interpretado como uma forma de cooptação política das rádios. ‘Eu rechaço essa interpretação. O gesto do presidente foi no sentido de corrigir uma distorção. E se fosse verdade esse raciocínio do uso político, a decisão do governo de reduzir o IPI para os carros seria também enquadrada da mesma forma’, diz Daniel Slaviero.


Regra do benefício


Até a aprovação e a sanção da atual lei eleitoral, havia uma distinção clara na regra porque as empresas grandes de rádio e TV pagam mais impostos que as pequenas. Por essa razão, entendia-se historicamente que teriam direito a algum ressarcimento por veicularem as propagandas políticas -apesar de serem concessões públicas.


Já as cerca de 4.000 emissoras de rádio agora beneficiadas por Lula pagam menos impostos que empresas de maior porte, pois são em sua maioria optantes do sistema Simples.


O Simples é uma modalidade tributária que permite a empresas com faturamento anual de até R$ 2,4 milhões se submeterem a um sistema unificado e reduzido de cobrança de impostos. Por essa razão, rádios incluídas no Simples não podiam desidratar seus débitos fiscais por terem cedido tempo para partidos e políticos.


Com a unificação das regras, todas as emissoras de rádio e de TV comerciais poderão usar o dispositivo. Não se trata, entretanto, de um corte direto do imposto. O benefício incide na base de cálculo do tributo.


As rádios e as TVs precisam comprovar, por meio de nota fiscal emitida na véspera do horário eleitoral, o valor cobrado pelos comerciais. Essa nota não pode ser discrepante de outras operações com a iniciativa privada nos 30 dias anteriores e 30 dias posteriores a essa data.


Com base no montante encontrado, estima-se quanto a emissora perdeu por ter cedido o tempo. O valor é subtraído do faturamento da emissora antes de ser calculado o imposto.’


 


 


Ranier Bragon


Nova regra eleitoral amplia restrições de cobertura


‘As novas regras eleitorais que entraram em vigor na semana passada incluíram na legislação uma importante restrição à cobertura jornalística de TVs e rádios: já obrigadas a dar espaço idêntico a todos os candidatos -incluindo os nanicos- no noticiário veiculado nos três meses anteriores às eleições, agora a lei define que essa obrigação se estende a qualquer período.


Antes das mudanças, TVs e rádios estavam proibidas de dar ‘tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação’ nos programas, noticiosos ou de entrevistas, a partir de 1º de julho do ano eleitoral. Isso explica o fato de esses programas incluírem nanicos, a despeito de critérios jornalísticos.


Com as regras aprovadas pelo Congresso e sancionadas pelo presidente Lula, agora está na lei o ‘tratamento isonômico’ também na pré-campanha.


A redação do novo artigo da lei 9.504/97 diz: ‘Não será considerada propaganda antecipada a participação de filiados a partidos ou de pré-candidatos em entrevistas, programas, encontros ou debates no rádio, na televisão e na internet, inclusive com a exposição de plataformas e projetos políticos, desde que não haja pedido de votos, observado pelas emissoras de rádio e televisão o dever de conferir tratamento isonômico’.


Ou seja, se determinado programa de TV hoje entrevistar por uma hora pré-candidatos à Presidência como os governadores José Serra (PSDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG) ou a ministra Dilma Rousseff (PT), e for discutida a eleição de 2010, esse programa estará sujeito a ter de entrevistar por uma hora qualquer um que se declare pré-candidato à Presidência entre os 27 atuais partidos, sendo 15 deles nanicos.


Pela redação do artigo, jornais impressos, revistas e a internet ficam de fora da amarra.


A restrição a rádios e TVs já vinha sendo observada em resoluções do Tribunal Superior Eleitoral. A inclusão agora na lei se deu devido a decisões da Justiça Eleitoral de primeira instância que aplicou multa em jornais e revistas sob o argumento de que houve propaganda antecipada em entrevistas com pré-candidatos de 2008.


As multas foram derrubadas em instância superior já que, na ocasião, o TSE alterou a resolução que não permitia a exposição de propostas de campanha antes da convenção partidária.


‘A ideia foi trazer para a pré-campanha a lógica da campanha. Se eu for entrevistado como pré-candidato, isso levará outros pré-candidatos a reivindicarem o mesmo tratamento’, disse o deputado Flávio Dino (PC do B-MA), relator do projeto. Procurada, a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) não falou.’


 


 


RIO 2016


Ruy Castro


De olho nos cariocas


‘RIO DE JANEIRO – Neste fim de semana, os jornais explodiram de anúncios de página inteira saudando a escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016, vindos da área dos bancos, cartões de crédito, energia, eletroeletrônicos, incorporadoras, carros, hotéis, shoppings, supermercados, alimentos, bebidas, seguros, planos de saúde, laboratórios médicos, estabelecimentos de ensino, construção civil, telefonia, comunicação e marketing, empresas aéreas etc, etc.


A maioria dessas empresas tem sede em São Paulo, opera em São Paulo, emprega milhões de paulistas e paulistanos e investe seus lucros na própria São Paulo. Como os empresários são pessoas práticas e costumam enxergar maior e mais longe do que nós -ou não seriam empresários-, a vitória do Rio foi uma vitória do Brasil, do qual fazem parte. E como fazem. Espírito de porco não é com eles.


Será uma sacudida na economia e, de um jeito ou de outro, todos ganharão, do vendedor de amendoim na praia ao empregado de loja e aos tubarões que construirão os hotéis. Indiretamente, a saúde, a educação, a segurança pública e a habitação serão beneficiadas. Dirão vocês que não é nada disso, que a roubalheira vai campear e os recursos públicos irão para os bolsos privados, porque o carioca, vou te contar.


A turma tem razão. É preciso fiscalizar de perto os cariocas, e não faltará gente para isto. O problema é que, segundo pesquisa Datafolha em todo o país, veiculada ontem no Mais!, 83% dos brasileiros admitem já ter ‘cometido alguma prática ilegítima’, de sonegar impostos e subornar o fiscal a estacionar em fila dupla e piratear programas de computador.


Como já roubei livro em Paris e às vezes compro pente Flamengo no camelô, considero-me parte desses 83% e, por isso, não tenho moral para vigiar ninguém.’


 


 


INTERNET


Johanna Nublat


Governo prepara estatuto para internet


‘O governo federal planeja criar um marco regulatório civil para a internet, diante da atual ausência de uma regulação da rede no país. A proposta trará questões como a responsabilidade civil de provedores e usuários, a privacidade dos dados, a neutralidade da rede (vedação de discriminação ou filtragem de conteúdo, seja política, seja econômica, seja jurídica) e os direitos fundamentais do internauta, como a liberdade de expressão.


O plano, trabalhado pelo Ministério da Justiça, é lançar um blog adaptado com esses temas no fim do mês, abrindo 45 dias para que pessoas interessadas se manifestem e troquem argumentos sobre o que deveria ser regulado e como.


Após o prazo, a pasta vai recolher as contribuições e redigir um projeto de lei, que será, então, levado ao blog para mais 45 dias de comentários. A previsão é que a proposta chegue fechada ao Congresso Nacional no início do ano que vem.


O texto que será entregue aos deputados trará um conjunto de regras mínimas, segundo o Ministério da Justiça. A intenção é manter a dinâmica da rede, como prevê um dos princípios estabelecidos pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil.


Não fazer a regulação seria ‘deixar do jeito que está, e do jeito que está é complicado’, afirma Pedro Abramovay, secretário de assuntos legislativos do ministério.


Além disso, a iniciativa quer barrar tentativas de colocar regras de maneira ‘casuística’, como na recente reforma eleitoral, afirma Ronaldo Lemos, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio, que está desenvolvendo a proposta em conjunto com o Ministério da Justiça.


Tópicos


Uma das questões levantadas pelo ministério e por especialistas como de regulação necessária é a polêmica dos logs (registros de acesso), até aqui discutida como algo a ser definido sob uma lei criminal.


O que será preciso definir: as informações sobre quais sites os usuários acessaram, quando e o que fizeram devem ser armazenadas? Por quanto tempo: três anos, como querem alguns? Esses dados podem ser vendidos? Passados à polícia? Em que situação? Podem ser requisitados pela Justiça? Com base em quais critérios?


Estabelecer isso em lei terá ‘impacto imediato para o usuário’, diz Lemos. ‘Ele vai saber que, ao entrar num site, não vai ter o dado exposto de forma diferente como está na lei. Hoje, juízes tendem a conceder a abertura dos dados, a intimidade é facilmente devassável.’


A proteção à privacidade dos dados incluirá a discussão sobre o spam, afirma Lemos. Outro ponto será a responsabilidade civil dos diversos provedores e suas garantias. Em que momento o provedor passa a responder pelo conteúdo?


Nos Estados Unidos, os provedores não são responsáveis pelo conteúdo disponibilizado pelos usuários, a não ser que sejam alertados de alguma ilegalidade e não tomem providências imediatas, explica Lemos. Também não há guarda prévia de logs. Na Europa, segundo diretiva do Parlamento Europeu, os registros são armazenados por dois anos.


No Brasil, a lei deveria garantir que os dados do usuário não sejam vendidos e que fiquem guardados por pouco tempo, diz Sérgio Amadeu da Silveira, sociólogo, ativista da liberdade na rede e professor da Faculdade Cásper Líbero. ‘O rastro digital plenamente identificado é inaceitável, a navegação sem identificação é que garante a liberdade na rede’, afirma.


Para Marcelo Branco, coordenador da Associação Software Livre, será ‘necessário estabelecer mecanismos para evitar que, quando a gente estiver navegando, não possa ser investigado no Brasil’, o que não é claro hoje. Questões pontuais, como e-mail corporativo e tributação do comércio on-line, deverão ficar de fora do marco regulatório.’


 


 


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Plano para a rede inclui ainda projeto criminal mais enxuto


‘Enquanto tenta estabelecer o marco civil para a internet, o governo trabalha para desidratar a Lei Azeredo, como ficou conhecido um projeto que criminaliza certas práticas na rede, e construir uma proposta criminal mais ‘enxuta’.


O projeto que leva o nome do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) é, na verdade, do deputado Luiz Piauhylino (PDT-PE). Quando chegou ao Senado, foi alterado por Azeredo e acusado de ferir a liberdade e a privacidade dos usuários.


Uma das principais polêmicas era que o texto abriria brechas que poderiam levar à prisão quem baixasse músicas ou desbloqueasse um celular.


A intenção é que um novo projeto seja apresentado, tipificando poucos crimes diretamente envolvidos com a rede, como acesso indevido a sistemas informatizados e inserção ou difusão de código malicioso.


Os deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Julio Semeghini (PSDB-SP) fecharão a proposta, com apoio do Ministério da Justiça. Semeghini diz ainda não saber se o projeto de Piauhylino será mantido com alguns artigos ou se estes serão incorporados à nova proposta. Na segunda opção, a Lei Azeredo seria abandonada.


Para Semeghini, há pontos no texto do Senado que devem ser aproveitados, como a criminalização da falsificação de documentos eletrônicos.


Toda essa discussão criminal deveria ter sido feita depois da definição de um marco regulatório civil, diz Ronaldo Lemos, do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio. A inversão dessa ordem prejudica a inovação, diz. ‘Quem vai inventar um serviço de internet se o risco é criminal?’’


 


 


OBITUÁRIO


Estêvão Bertoni


Arapuã, jornalista, ora bolas, e publicitário


‘Era comum que na hora do almoço, no restaurante do trabalho, uma roda se formasse em torno de Sérgio de Andrade, o Arapuã, para ouvir suas histórias e suas considerações sobre cinema, uma de suas paixões.


Desde 2006, o jornalista era funcionário da Imprensa Oficial do Estado de SP. Foi seu último de muitos empregos. Formado em direito pela USP, Arapuã tornou-se jornalista nos anos 50, quando começou como repórter de ‘O Mundo Esportivo’.


No ‘Diário da Noite’, escrevia a coluna ‘Ora, bolas!’, que lhe deu prestígio. Muitos comparavam seu estilo ácido e bem-humorado ao de Millôr Fernandes. Ao ir para o ‘Última Hora’, sua seção virou a mais lida do jornal.


Frasista dos bons, também trabalhou com publicidade, o que lhe rendeu prêmios. Especializado em marketing político, colaborou em campanhas como as de Franco Montoro, Mário Covas e José Serra. É autor de ‘Como Vencer Eleições Usando TV e Rádio’.


Hubert Alquéres, diretor-presidente da Imprensa Oficial, conta que ele dava conselhos sempre que alguém o procurava com problemas.


Dizia que sua maior realização era o único filho, Sérgio Augusto, o Arapinha. Ultimamente, estava afastado do trabalho devido a um câncer. Morreu na madrugada de quinta para sexta, aos 81.’


 


 


TELEVISÃO


Rodrigo Russo


Bebidas produzem conteúdo como forma legal de anúncio


‘Proibido pela lei nº 9.294/96 de efetuar publicidade de seus produtos no horário entre 6h e 21h, o setor de bebidas alcoólicas encontrou uma resposta para este problema: o patrocínio de conteúdo. Nos últimos dois meses, dois programas foram lançados nesse formato.


No rádio, a Mitsubishi FM estreou na semana passada o ‘Johnnie Walker com Gigantes’, semanal apresentado por Lorena Calábria, às 21h. Nesta semana, será transmitido ao vivo do Buddha Bar, como piloto Mika Hakkinen como convidado.


Ao fim, haverá degustação do uísque Black Label.


Na TV, o GNT exibe ‘Harmonize’, patrocinado pelo grupo AmBev, em que a cada episódio um chef prepara um prato que combine com cerveja da linha Bohemia, fabricada pelo grupo.


Inédito às terças-feiras, às 23h30, o programa tem reprises dentro da faixa horária vetada.


Isso porque, em mais uma brecha legal, cervejas têm teor alcoólico menor que 13%, e não são definidas como bebidas alcoólicas por essa lei.


Eduardo Bendzius, gerente de marketing da Diageo, empresa dona da marca ‘Johnnie Walker’, diz que a produção de conteúdo é mais interessante para o público do que anúncios: ‘Não precisamos forçar nossas marcas, podemos apresentá-las de forma legal e sutil’.


Procurado, o Ministério Público Federal-que geralmente fiscaliza emissoras de rádio e televisão, por serem concessões públicas- diz que não há ilegalidade com relação a este modo de patrocínio, mas ressalta que não pode existir qualquer tipo de anúncio das marcas no decorrer do programa, caso transmitido durante o horário vetado.


GUGU, NÃO


Presente em todas as 11 edições anteriores do Teleton (iniciativa do SBT para arrecadar recursos para a AACD-Associação de Assistência à Criança Deficiente), Gugu não foi autorizado pela Record -emissora que o tirou do SBT- a participar do evento neste ano, que será em 23 e 24 de outubro.


EMPATE


‘Aline’, novo programa da Globo para as quintas-feiras estrelado por Maria Flor, teve 21 pontos no Ibope em sua estreia – o que foi considerado bom pela emissora. O penúltimo capítulo do reality show’ No Limite’, que ocupava o horário, teve a mesma audiência.


IDEIA DE MAGO


O escritor Paulo Coelho,em seu perfil no Twitter, lançou uma inusitada campanha :pediu uma estátua para o humorista Bussunda, que adorava futebol, a ser inaugurada na Copa de 2014, no Brasil. A turma do ‘Casseta & Planeta’ gostou.


MARMELADA


Os humoristas não gostaram do resultado do VMB (Vídeo Music Brasil).Claudio Manoel, via Twitter, questionou a entrega dos prêmios de melhor filme/documentário musical (Titãs) e Twitter do ano(Marcos Mion) para produção e apresentador da própria MTV. O VMB, disse ele-que concorria com’ Simonal’-significaria’ Very Marmelade Brazil’.’


 


 


Barbara Gancia


Americana comanda bom programa de entrevistas


‘É difícil acreditar, mas existe vida inteligente no canal de TV paga E! Entertainment. A coelhinha da ‘Playboy’, ‘Kendra’, o médico trelelé de ‘Dr. 90210’ e os reality shows sem pé nem cabeça do canal estão desculpados.


É que Chelsea Handler, do talk-show ‘Chelsea Lately’, chegou para ficar. O programa, que nos EUA é diário, é apresentado pela E! nas noites de sexta-feira, mas, dependendo da aceitação, poderá ser estendido a outros dias da semana.


Sou capaz de ir a são Judas de joelhos pagar promessa se isso acontecer. Chelsea Handler é uma delícia. Lembra quando Ellen DeGeneres fazia a gente rir? Pois, Chelsea é uma Ellen para maiores.


Ela fala das Lindsays e Parises e Lilys e Amys com a naturalidade daquela amiga que vem em casa fazer brigadeiro e assistir à novela. E tem o que os americanos chamam de ‘pizzazz’, ou seja, um combo de estilo, charme e muito humor.


Fui ao Rio conhecer Chelsea a convite do E! e a encontrei no Copacabana Palace num alto astral que poucos artistas tapuias dispensam a jornalistas.


Ao sermos apresentadas, disse-lhe que havia lido seu Twitter. Chelsea mandou ver, sem a mínima preocupação: ‘Ah, não sou eu que escrevo, é meu pessoal em Los Angeles’.


Com a mesma franqueza, ela respondeu a todas as perguntas sem dar aquela pausa típica de entrevistado com oito pés atrás. Com Chelsea é tudo na lata. Contou-me que acha Jeremy Piven (o Ari Gold de ‘Entourage’) uma besta quadrada e que não acredita nem um minuto na desculpa esfarrapada de que ele sofreu intoxicação por mercúrio por ter ingerido sushi em excesso. ‘Piven quase levou a peça de David Mamet à falência’, afirmou.


Disse-me também que o cantor John Mayer é uma ‘tássia’: ‘Ele acha que entende de tudo, mas só deveria falar da música dele’. E ainda contou que não está nem aí se a revista ‘Maxim’ a escolhe ou não como uma das mais sexies da TV.


Esse mesma marca despachada, que é tudo o que está faltando na TV e fora dela hoje, especialmente na norte-americana, Chelsea Handler imprime ao seu programa.


Em ‘Chelsea Lately’, é capaz de soltar livremente que Kanye West pode não estar interessado em mulheres ou que o anticlímax do VMA deveria tomar uma surra do jogador de futebol americano Reggie Bush.


Dá até impressão de que Chelsea não sabe que há câmeras ligadas no estúdio. Completam a festa um time de humoristas rotativos que se juntam à apresentadora numa mesa redonda na primeira parte do programa e a entrevista com o convidado que compõe o segundo bloco. Uma lufada de ar fresco para quem está habituado à rígida estrutura do ‘Late Show with David Letterman’.


CHELSEA LATELY


Quando: sextas, às 22h30


Onde: no E! Entertainment


Classificação: não informada


Avaliação: ótimo’


 


 


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Luiz Felipe Pondé


A vovó das Havaianas


‘CARA LEITORA , você fala de sexo com sua avó? Se ela falasse com você sobre que tipo de cara é bom pra você ir para a cama, você ficaria à vontade? Ou do alto de seus 20 anos e do blábláblá sobre sua geração ser ‘sexualmente mais emancipada’, você ficaria vermelha e, num reflexo ancestral, fecharia as pernas de vergonha?


Pesquisas consideram as mulheres como índice significativo em termos de ‘progresso’ nos comportamentos. Mulheres que transam fácil e falam disso com desenvoltura, isso seria indicação de ‘sociedades mais avançadas’. Ainda que eu, como a cara leitora já sabe, não acredite muito nesse blábláblá de sociedade mais avançada. Africanas transam muito e a África está longe de ser avançada.


Por que faço esta pergunta indiscreta? Perguntas sobre sexo são difíceis porque se mente muito nesse assunto. Não acredito que hoje se faça mais e melhor sexo do que se fazia antes. A dita revolução sexual é puro marketing de comportamento. Serve pra produzir comportamentos superficiais que vendem coisas relacionadas ao sonho de consumo sexual. No íntimo, a maioria continua insegura, solitária e mal resolvida, só que agora sabe falar bonito sobre a tal liberação sexual.


Em setembro, estreou um comercial de um modelo de Havaianas onde uma jovem conversa com sua avó em um restaurante. Sua avó reclama de suas sandálias num local chique como o que elas estavam. Ela responde algo do tipo ‘deixe de ser antiga vovó’. Entra um cara famoso e bonito no restaurante e elas olham.


A vovó diz pra neta que aquele é o tipo de cara que ela deveria arranjar. A neta responde que casar com gente famosa não é bom. Aí vem o tiro da vovó, quando ela diz mais ou menos assim: ‘Estou falando de sexo e não de casamento menina!’.


Após reclamações do ‘público sensível’, a agência de publicidade criadora do comercial colocou outro filme no ar, em que a atriz que faz a vovó, com um laptop no colo, faz referência explícita às reclamações e diz que a agência decidiu fazer esta segunda versão (que não encobre, e mais do que isso, assume o mal-estar causado pela primeira) em respeito aos ofendidos, mas que, ao mesmo tempo, mantém a primeira na internet em respeito aos que gostaram da ‘versão maldita’. E ainda dá um olé: ‘Depois digam que não sou moderninha’, e acrescenta ‘isso não é muito democrático?’


Palmas para a agência e para o produto. Um baile nos chatos que não reconhecem a importância da autorregulação em publicidade e querem legislar sobre como as pessoas lidam cotidianamente com a banalidade e a falta de sentido da vida miúda. O problema da repressão à publicidade é que ela pode facilmente criar uma propaganda ‘frouxa’ que só diz o que os chatos acham que pode ser dito. Um chato é uma pessoa que normalmente não tem muita criatividade e atrapalha quem tem. Não há como ser criativo sem correr riscos na vida.


Entretanto, ainda que os envolvidos na criação do comercial tenham se saído muito bem dando uma lição de autorregulação e de como se deve agir numa sociedade difícil como a nossa, sem desistir da ideia ‘reprimida’ pela hipocrisia do público ofendido, esse fato revela mais do que a vitória da criatividade sobre a repressão burra. O fato revela como somos todos reféns do que pessoas banais pensam, em seus apartamentos de classe média.


A ideia de que o público seja mera vítima na sociedade de consumo conta apenas parte da história desta sociedade de consumo. E a fala da vovó, ‘isso não é muito democrático?’, revela exatamente uma das agruras da democracia, sistema necessariamente aberto a estupidez pública. O consumo pode ser de fato uma ferramenta de enorme poder nas mãos do cidadão-consumidor.


Esse ‘case’ Havaianas revela a inteligência adaptativa da propaganda e como ela é uma fronteira na sociologia contemporânea. Uma personagem vovó brinca com o senso comum de que jovens ‘estão adiante de seu tempo’ -uma bobagem que só tem valor quando utilizada pra vender alguma coisa. Jovens são ‘conservadores’ com tudo o que dão valor e ‘progressistas’ com tudo o que não dão valor, assim como todos os mortais. O personagem jovem como agente de mudança é um mito.


Fora o mito, são repetidores de (novos) preconceitos, (novas) fofocas e (novas) repressões em meio às (velhas) baladas. Vou sair e comprar uma Havaianas dessas pra minha filha de 17 anos. Mesmo se for tudo uma grande criação de marketing, ainda assim, um show de bola.’


 


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 5 de outubro de 2009 


 


LIBERDADE DE IMPRENSA


Roberto Almeida


Repórteres Sem Fronteiras vê ‘bagunça jurídica’


‘De Paris, Benoît Hervieu exerce, no escritório da Repórteres Sem Fronteiras para as Américas, um dos principais cargos na mais respeitada organização não-governamental de proteção ao jornalismo mundial. Filósofo, sociólogo e jornalista, Hervieu acompanha de perto o périplo judicial que envolve a censura ao Estado. ‘A fronteira perfeita entre a Justiça e o poder político não existe em todos os países. Mas o problema é que esse caso é realmente uma grave caricatura da situação brasileira’, resumiu.


Os 66 dias de mordaça e o vaivém do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), que na última quarta-feira se declarou sem competência no caso e decidiu enviar o processo à Justiça maranhense, levaram o chefe da Repórteres Sem Fronteiras a classificar o caso como ‘bagunça jurídica’. ‘Uma censura prévia é injusta, mas uma incompetência jurídica que decide mantê-la é incrível. É juridicamente nonsense’, observou.


O termo mais usado por Hervieu, na entrevista por telefone ao Estado, foi ‘incompreensível’. Ele lembrou, passo a passo, como se tivesse com a cronologia da mordaça em mãos, as ‘incoerências’ da atuação da Justiça. Segundo ele, do exterior é ‘muito difícil’ entender o que está acontecendo.


De maneira sucinta, o especialista francês foi à essência do caso. ‘Existe uma investigação judicial e podem existir erros de parte da mídia, é verdade, mas é uma informação de interesse público, uma investigação sobre uma pessoa importante, Fernando Sarney, filho de um ex-presidente do País e agora presidente do Senado, José Sarney. Então por que proibir um jornal de falar disso?’, questionou o chefe da ONG.


Para responder à sua própria pergunta, ele comparou a censura ao Estado com casos semelhantes ocorridos em todo o País. ‘Isso que é caricatural. No Brasil, o filho do governador é o neto do delegado, que é o filho do juiz. Isso explica tantas medidas de censura prévia contra a imprensa.’


‘É normal que nesse contexto a Justiça se pronuncie a favor de políticos que estão muito próximos de instituições jurídicas ou policiais’, afirmou o especialista. ‘Ouvimos muito sobre isso sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.’


O País estaria privado, portanto, de uma Justiça imparcial, na opinião de Hervieu. ‘A regra é a imparcialidade, mas Dácio Vieira, o desembargador que acolheu a liminar que censurou o Estado, era ou ainda é uma pessoa próxima do senador José Sarney. Nós já havíamos mencionado esse conflito de interesses’, anotou.


Para o francês, o envio do caso ao Maranhão, berço da família Sarney, é uma ‘contradição flagrante’ e só agrava a situação. ‘Temos um problema de lugar’, disse.


‘Todos os brasileiros sabem perfeitamente que a família Sarney tem bastante presença lá. O prédio do Fórum em São Luís chama-se Desembargador Sarney Costa! É o pai de Sarney! Vai ser difícil ter garantia de imparcialidade, de Justiça neutra’, opinou.


‘SÍMBOLO RUIM’


Mais do que um caso de censura prévia, a mordaça ao Estado no caso dos Sarney é um ‘símbolo muito ruim’, na opinião de Hervieu. A palavra-chave, segundo ele, é ‘jurisprudência’.


O diretor da ONG ressaltou que há poucos meses, precisamente no dia 30 de abril deste ano, a Lei de Imprensa, do tempo da ditadura, foi enfim revogada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e a queda da liminar poderia criar a base para decisões em contenciosos semelhantes. Ele sublinhou casos de jornalistas que respondem a até 33 processos por denunciar o desmatamento no Pará.


‘O que podemos esperar agora é que o caso do Estadão seja julgado, retomado, em níveis superiores, como no Superior Tribunal de Justiça. Assim poderá fazer jurisprudência para acabar com esse método de censura prévia que lembra o período da ditadura’, explicou.


FISCALIZAÇÃO


De acordo com Hervieu, a Repórteres Sem Fronteiras, além de acompanhar de perto a situação de censura ao jornal, acredita que o caso é impactante e merece atenção redobrada, porque aponta um problema básico da liberdade de expressão brasileira. O objetivo, destaca, é sensibilizar a opinião internacional. ‘Não pode haver censura quando existe uma Constituição que proíbe obstáculos ao dever de informar.’


O Estado aguarda a publicação da decisão judicial para tomar providências. Pode apelar ao STJ ou ao STF ou ainda tentar barrar o envio do processo para o Maranhão. ‘


 


 


BOLÍVIA


O Estado de S. Paulo


Evo distribuirá cópias do Diário de Che


‘O governo da Bolívia publicará o diário que o famoso guerrilheiro Che Guevara escreveu durante sua campanha de 12 meses na selva boliviana. O manuscrito foi confiscado pelo Exército da Bolívia quando Che foi capturado e fuzilado em outubro de 1967. O texto foi digitalizado e será apresentado durante cúpula da Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA) que começa no dia 16. O diário não será comercializado, mas o presidente Evo Morales distribuirá mil cópias.’


 


 


MARKETING


Renato Cruz


‘Os consumidores estão se tornando uma mídia’


‘A tecnologia digital vem mudando as relações entre marcas e consumidores. ‘Hoje, com as novas capacidades tecnológicas, os consumidores estão se tornando uma mídia’, afirmou John Dooner, presidente mundial da McCann Worldgroup, em visita ao País, semana passada. ‘Quando os consumidores se tornam uma mídia, é preciso armá-los com informação e é preciso estar disponível para dialogar com eles. Não é uma ameaça. É divertido e é uma oportunidade para inovar.’


Nesse ambiente, um pequeno grupo de consumidores descontentes pode fazer um barulho grande. Como enfrentar isso? ‘Como parte do ambiente de recessão mundial, existem clientes incansáveis, que podem criar uma pressão grande’, respondeu o executivo. ‘Isso cria algum nível de instabilidade no relacionamento. O contato com eles precisa ser mais constante e em tempo real. É parte da estratégia.’


Dooner se reuniu com os 500 funcionários do grupo no Brasil na quarta-feira e, no dia seguinte, participou de um encontro regional com 50 pessoas para discutir os resultados e estratégias da McCann Worldgroup na América Latina. Com faturamento mundial de US$ 2,8 bilhões em 2008, o grupo está presente em 125 países. A McCann Worldgroup é formada pelas empresas McCann Erickson (publicidade), MRM Worldwide (gerenciamento de consumidor), Momentum (eventos e promoções), McCann Healthcare (comunicações de saúde), Universal McCann (serviços de comunicação), Weber Shandwick (relações públicas) e FutureBrand (consultoria e design).


‘O Brasil está indo melhor que a maioria dos países’, afirmou Dooner, acrescentando que o País está entre os 13 maiores mercados para a empresa. ‘O Brasil é parte dos Brics (grupo que também inclui Rússia, Índia e China), e está conseguindo algum crescimento, enquanto nos Estados Unidos, na Europa e em outros mercados, a ausência de crescimento é o novo crescimento. Não estou dizendo que o Brasil não recebeu impacto desta grande recessão, mas acredito que está tendo um crescimento sustentado.’


A crise tem acelerado a migração de investimentos da publicidade para outras atividades de comunicação. Luca Lindner, presidente regional da McCann Latin America, afirmou que o mercado publicitário brasileiro vai bem. ‘Não diria que está ótimo, mas está melhor que outros mercados latino-americanos, como o Chile e o México’, explicou. ‘Isso depende da categoria de produtos. Algumas vão muito bem, enquanto outras nem tanto. Mas hoje não olhamos somente para o lado da publicidade, porque a publicidade não é mais que 50% de nossos negócios. Metade de nossas atividades são ativação de marca, relações públicas e comunicação digital. Vemos grandes clientes, como a Nestlé, investindo mais e mais em atividades que não estão relacionadas à publicidade tradicional.’


Linder citou automóveis e informática como exemplos de setores que reduziram o investimento em publicidade e cosméticos e telecomunicações como exemplos de setores que aumentaram. ‘Somos a agência da Chevrolet e o investimento foi claramente menor no primeiro semestre. Outro exemplo foi a HP’, disse. ‘Por outro lado, um dos nossos mais importantes clientes globais, a L’Oréal, e um dos nossos mais importantes clientes locais, a TIM, aumentaram seus investimentos. O comportamento é bastante diferente, dependendo da categoria de produto.’


O crescimento de outras atividades de comunicação reflete a fragmentação dos meios de comunicação, trazida pela internet. ‘Em 1997, quando criamos o Worldgroup, havia um reconhecimento de que precisávamos de mais ferramentas para criar um relacionamento entre a marca e o consumidor, e essas outras ferramentas estão crescendo mais que a publicidade’, afirmou Dooner. ‘A fragmentação da mídia começou há 15 anos, com o surgimento do mercado digital. Mas não se tornou realmente presente até há quatro anos. Está crescendo, no Brasil, cerca 50% ao ano. Acredito que temos tendências emergentes em comunicação que ainda não estão plenamente desenvolvidas.’


Os investimentos em comunicação na internet também refletem essa necessidade de diversificar. ‘Alguns de nossos grandes clientes destinam mais de 60% de seus investimentos à comunicação online’, explicou Donner. ‘Mas não somente publicidade. O investimento também inclui mídias sociais, websites e até ações que impactam diretamente as vendas online. Atualmente, todo o mundo precisa ter uma estratégia digital, porque isso faz parte da vida.’’


 


 


REVISTA


Gustavo Chacra


Com a crise, até a Vogue aperta o cinto


‘A Vogue é uma revista diferente. Poucos, mesmo dentro do jornalismo, saberiam dizer o nome dos editores das revistas The Economist e New Yorker, duas das mais influentes publicações do planeta. Já Anna Wintour, a ‘rainha’ da Vogue, se tornou estrela de documentário em cartaz nos EUA, além de ter sido alvo de uma caricatura interpretada por Meryl Streep em um filme há três anos. Mulheres e muitos homens de todo o planeta são capazes de descrever décor a sua biografia.


Mas a Condé Nast, que publica a Vogue, também integra a economia mundial, e a crise chegou até o reinado de Wintour. Cortes foram anunciados depois de um estudo da consultoria McKinsey, que viu enormes desperdícios na editora. A Condé Nast decidiu levar adiante as reduções, mas, conforme diz a imprensa especializada americana, tomando cuidado para não afetar o glamour de publicações como a Vogue. Segundo escreveu o The New York Times desta semana, ‘não dá para imaginar a Anna Wintour usando o cartão de metrô e descendo na estação do Times Square’. O jornal cita, entre as reduções, a exigência para que os funcionários de Nova York consumam no máximo US$ 1 mil em uma festa em Washington. Antes, não havia limites.


Wintor, considerada a mais poderosa figura da bilionária indústria da moda, sinaliza bem os novos tempos. Em 2007, gravou um documentário chamado The September Issue, sobre a edição com o maior número de páginas da história da revista – 840 ao todo, sendo 727 de publicidade. Todos os anos, o exemplar de setembro é o que tem o maior número de anunciantes. Na época, a Bolsa de Valores de Nova York estava no seu ponto mais elevado em toda a história.


No filme, Wintour é apresentada como uma profissional séria, com as tradicionais características de uma dama da aristocracia americana e do Reino Unido, onde nasceu e cresceu. Algumas cenas passam em sua casa nos Hamptons, o balneário da elite próximo a Nova York.


A imagem difere um pouco do extremismo a que chega a falta de educação da personagem de Meryl Streep em O Diabo Veste Prada, de 2006. A filha de Wintour, Bee Shaffer, uma menina que sonha em estudar direito, nada tem a ver com os mimados de Meryl Streep, que queriam ler uma cópia inédita de Harry Potter. Em comum, as duas tomam café da Starbucks o tempo todo.


A presença de Wintour, com todos os gastos, seu salário e viagens, sempre foi considerada fundamental pela Condé Nast. Seu visual, de cabelo chanel e óculos escuros, passou a ser copiado por jornalistas de moda de todo o mundo.


Mas publicações já especulam que os dias de Wintour podem estar contados, mesmo com ela achando que o seu único defeito é o ‘backhand’ no tênis. Não pela crise econômica ou por causa da internet – afinal, é difícil de imaginar ler as 700 páginas da Vogue em um computador. Mas pelo surgimento de uma nova estrela.


Segundo recente artigo de Peter Aspden no Financial Times, Carine Roitfeld, editora da Vogue francesa, já está sendo preparada para substituir Wintour. Seria o fim de um dos maiores reinados no jornalismo e na moda mundial.’


 


 


ESPORTE


Jamil Chade e Andrei Netto


TV pagará US$ 3 bi por olimpíada carioca


‘Depois de tomar uma decisão política e esportiva de dar os Jogos de 2016 ao Rio, o Comitê Olímpico Internacional se debruça sobre um novo desafio: lucrar com o evento. Ontem, um dia depois da escolha, redes de televisão já iniciaram os contatos com a entidade e com o Rio para definir como será a distribuição dos direitos de transmissão. Fontes do COI revelaram ao Estado que esperam negociar acordos que chegarão a US$ 3 bilhões até 2016 apenas para os organizadores da Rio-2016. Outros US$ 300 milhões ainda iriam para o COI.


Hoje, mais de 80% do orçamento do COI vem da venda de direitos de imagem dos Jogos para redes de TV. Pela nova regra do organismo, ele ficará com apenas 8% dos lucros. O restante irá para a sede dos Jogos. Nos últimos 20 anos, o valor dos direitos de cada olimpíada se multiplicou por 30, tirou o COI da ameaça de falência e transformou o evento no mais rentável do mundo.


Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, disse que se reuniu durante duas horas, ontem pela manhã, com o diretor-presidente da NBC Sports, Dick Ebelson, pedindo conselhos no que diz respeito à cobertura televisiva de 2016. O Rio sabe que terá de promover uma aproximação com a rede.


Mario Pesconto, integrante do COI, admite que esse será ‘um dos principais desafios’ para a entidade e para o Brasil durante os sete anos. O Duque de Luxemburgo, membro também da entidade, sinalizou que esse seria um problema.


Os ataques da derrotada Chicago já começaram. ‘Todos os membros do COI sabem que Chicago seria a Olimpíada mais lucrativa’, afirmou Doug Logan, CEO da federação de atletismo dos Estados Unidos. ‘O COI pagou muitos dólares para dizer não aos EUA’, disse.


Mas, para o órgão, o Rio tem dois pontos positivos: o primeiro é a população jovem sul-americana. Hoje, a média de idade do público que assiste os Jogos pela TV é de 47 anos. O evento no Rio pode ajudar a atrair os jovens. O segundo trunfo é o fato de a capital fluminense estar quase no mesmo fuso horário dos Estados Unidos, o que permitirá a transmissões em horário nobre para os americanos.


RECESSÃO


Mas a crise financeira fez o COI mudar sua estratégia para os Jogos de 2016. A entidade rompeu acordo de mais de 50 anos com a rede de emissoras que transmitia a disputa para os países europeus. Agora, quer negociar individualmente com cada um dos países do continente para multiplicar seus lucros.


O rompimento do contrato teria ocorrido diante da crise e da proposta considerada como insuficiente por parte das emissoras. A EBU (União de Emissoras Europeias) havia pago 348 milhões pelos direitos dos Jogos de Pequim. Para 2012 em Londres, o pagamento será de 614 milhões. Os valores oferecidos para 2016 não foram anunciados. Mas o COI não aceitou.


Para o presidente eleito da EBU, Jean-Paul Philippot, a crise financeira fez com que a oferta fosse menor. ‘A oferta da EBU reflete o preço máximo que serviços públicos podem pagar pelos direitos’, afirmou. Com 75 membros em 56 países, entre eles a BBC, a EBU era a tradicional parceira do COI para fazer os jogos chegarem a 650 milhões de pessoas. O evento era repassado principalmente à emissoras públicas de países europeus. Mas com a crise, recessão e pacotes dos estados para salvar bancos e indústrias, pouco sobrou para pagar mais pelos Jogos Olímpicos.


A opção da entidade, por isso, foi de acabar com o contrato e abrir a possibilidade para canais privados e ainda canais fechados. Cada país da Europa terá agora de negociar um pacote separado, o que deve fazer o rendimento do COI aumentar. Na Itália, a Sky ganhou o contrato para 2016, acabando com o controle da RAI. A FOX Turquia bateu a estatal TRT.


O Comitê também está com dificuldades para conseguir atingir sua meta de US$ 1 bilhão em patrocínios para os próximos quatro anos. A Johnson & Johnson está retirando seu contrato com os Jogos. Kodak e Lenovo também estão de saída. A entidade alega que está em negociações com outros patrocinadores, mas admite que o momento não é o mais fácil para fechar acordos. Até agora, os patrocinadores do COI até 2013 são a Acer, Atos Origin, Coca-Cola, GE, McDonald’s, Omega, Panasonic, Samsung e Visa.’


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


De volta às festanças Otávio Mesquita quer filão de Amaury


‘Otávio Mesquita vai voltar a apostar nas festanças jabás. De olho em um filão bem explorado por Amaury Jr., na RedeTV!, a Band reformulará o A Noite É Uma Criança, que terá agora seu foco em coberturas de eventos, boa parte deles, sob bem paga encomenda.


A mudança, que afetará até o nome do programa, promete trazer um formato inovador – inspirado em um programa canadense -, mas não menos lucrativo, de se cobrir eventos, fazer viagens/permutas e informerciais durante a atração.


Com isso, estima-se que o A Noite É Uma Criança possa aumentar seu faturamento anual de R$ 10 milhões para R$ 15 milhões.


Segundo fontes do mercado, Amaury Jr. chega a cobrar cerca de R$ 150 mil para cobrir um evento pessoalmente – com 15 minutos de imagem no ar – na Rede TV!. Esse valor cai para R$ 30 mil se for só um registro da festa, sem Amaury e, pena, sem videoclipe Keep It Coming Love. Vale o custo se comparados a 30 segundos no intervalo da atração, que saem, pela tabela, por R$ 44 mil.


A Band, por meio de sua assessoria, diz que ainda não bateu o martelo sobre as mudanças na atração.’


 


 


Patrícia Villalba


Uma dupla do barulho ataca agora às 6 horas


‘Foi o autor Walcyr Carrasco, hoje em dia no ar com Caras & Bocas, novela das 7 da Globo, que juntou a dupla Thelma Guedes e Duca Rachid, que estreia hoje no comando da nova novela das 6, Cama de Gato. ‘Quando ele foi fazer a supervisão do remake de O Profeta, em 2006, sugeriu à emissora que nos juntasse para escrever. A gente se conhecia superficialmente apenas, mas a intuição dele disse que trabalharíamos muito bem juntas’, conta Thelma.


A parceria deu tão certo que as duas se tornaram grandes amigas. E terminaram também vitoriosas, tendo alcançado com a trama, uma adaptação do original escrito por Ivani Ribeiro em 1977, uma média de 32 pontos no ibope. ‘Poderia não ter sido, mas foi um encontro muito feliz’, observa Duca. ‘A ideia do Walcyr foi certeira, nossa visão de mundo é muito parecida. Temos maridos parecidos, mães parecidas, traumas e felicidades semelhantes’, completa Thelma.


O sucesso credenciou a dupla para um voo mais alto, o desenvolvimento de uma novela a partir de um argumentou original. E, então, desfazer a parceria para quê?


A Globo pediu a elas que desenvolvessem uma sinopse. ‘De tão empolgadas que estávamos, fizemos cinco!’, conta Thelma. Uma das ideias agradou, mas era para uma novela de época, e a emissora queria uma história contemporânea. ‘Então, escrevemos mais duas. Uma delas, a que se transformaria em Cama de Gato, foi escolhida pelo (autor) João Emanuel Carneiro, que agora faz a supervisão.’


Desde que começaram a desenvolver o projeto, as duas trabalham sob o olhar atento do autor de A Favorita (2008), que, dizem elas com bom humor, é um ‘advogado do diabo’. ‘Ele questiona tudo. Para nós, os encontros com ele são um verdadeiro exercício de argumentação’, conta Duca. ‘Em alguns casos, depois da conversa com ele, fica claro que determinada ideia não ia mesmo a lugar algum.’


Até chegarem ao posto cobiçado de titulares de uma novela da Globo, Thelma e Duca percorreram caminhos bem diferentes, que levaram, por coincidência, a colaborações em novelas de Walcyr. Duca esteve na equipe do autor em O Cravo e a Rosa (2000) e A Padroeira (2001); Thelma escreveu com ele Esperança (2002) e Chocolate com Pimenta (2003).


Formada em jornalismo pela PUC de São Paulo, a paulistana Duca começou a escrever para televisão em Portugal, onde desenvolveu projetos para o canal RTP em parceria com o diretor Walter Avancini (1935-2001). A amizade com ele, levou-a a trabalhar com outra lenda da televisão, Walter George Durst (1922-1997). Com ele, escreveu a novela Tocaia Grande (Manchete, 1995).


Ao contrário de Duca, Thelma, carioca que vive em São Paulo há 30 anos, nunca havia pensado em escrever para a televisão, até ver um cartaz da oficina de autores da Globo em 1997, quando seguia carreira acadêmica. Formada em Letras pela USP e autora de livros de poesias e contos, ela entrou para o quadro de autores da emissora após passar numa seleção que teve 700 inscritos. Desde então, escreveu para vários programas, entre eles A Turma do Didi e Sítio do Picapau Amarelo.


METALINGUAGEM


Apesar das trajetórias distintas, Duca e Thelma são noveleiras inveteradas. É um traço comum aos novos autores, que cresceram acompanhando o trabalho dos pioneiros, como Manoel Carlos, Silvio de Abreu e Ivani Ribeiro, e guardam as referências. Agora, neste primeiro trabalho original, parece que chegou a hora de aproveitar essa bagagem – tanto é que Rose, a heroína de Cama de Gato interpretada por Camila Pitanga, é tão noveleira quanto elas.


‘Eu cresci em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. É um bairro da periferia, sem cinema, então não era muito agradável sair na rua. Por isso, eu me refugiava nos livros. E a TV era minha outra janela para o mundo’, lembra Duca. ‘Meu sonho era ser escritora, desde pequena eu escrevia poemas. Mesmo lendo muito e cursando Letras na USP, sempre vi muita novela. Na época da universidade via menos, até com um certo preconceito. Via meio escondida, mas via sim’, diverte-se Thelma. ‘A estrutura da novela tem tudo a ver com os nossos ídolos na TV.’


Leve e bem-humorada, como pede o horário, Cama de Gato fala sobre a perda de valores essenciais por causa do dinheiro. ‘A ideia surgiu das nossas conversas de comadres filósofas sobre as couraças que a sociedade obriga a gente a criar’, explica Thelma.


É a história de Gustavo, papel de Marcos Palmeira, perfumista de origem pobre que guarda rancor por causa das humilhações que sofreu antes de enriquecer. ‘Ele não pode ser bom com ninguém, porque acha que isso vai enfraquecê-lo’, anota Duca.


MULHER INVISÍVEL


O estopim da trama é uma brincadeira armada pelo amigo de Gustavo, Alcino (Carmo Dalla Vecchia). A intenção, é chacoalhar a vida do mocinho, mas um golpe armado pela mulher dele, a vilã Verônica (Paola Oliveira), transforma tudo numa tragédia. ‘Nisso, surge a faxineira Rose, que acaba sendo a única pessoa em quem Gustavo poderá confiar. Nossa intenção é mostrar a desconstrução desse personagem, nesse mundo tão individualista. A inspiração foi o Buda, que sai para a rua e conhece a dor, a morte, a miséria’, antecipa Duca.


A autora explica ainda que a inspiração para a criação de Rose foi a pesquisa do psicólogo Fernando Braga da Costa, que trabalhou como faxineiro na USP para escrever o livro Homens Invisíveis – Retratos de Uma Humilhação Social, em 2004. ‘A reflexão é a de que o trabalho está cada vez mais desvalorizado: você não fala com quem trabalha na sua casa, com o garçom, com o sujeito que abre a porta do carro para você. E é tudo escamoteado pelo politicamente correto, porque você não pode mostrar o quão reacionário você é.’


Cama de Gato é, então, um folhetim clássico, como se diz – romance, reviravoltas, mocinho e mocinha que se encontram, desencontram e encontram de novo. E é bom que seja mesmo, dizem Duca e Thelma, nomes que despontam na nova safra de teledramaturgos. ‘Tendo a achar que gente como Janete Clair e Walter Durst eram muito inovadores e são arrojados até hoje. Por isso, não gostaria de estar muito distante dessas pessoas, não’, diz Duca.


Para Thelma, a inovação do gênero não deve ser uma obrigação dos novos autores. ‘Desde que comecei a escrever para a TV, ouço o discurso de que é preciso inovar, fazer novelas diferentes. Mas o que há de diferente hoje é o ritmo da vida – por isso, o ritmo da novela é muito acelerado’, diz. ‘Mas há recursos que você não pode deixar de lado, senão não é novela. Então, dentro deste formato, você tem de conseguir surpreender o telespectador e mantê-lo interessado. Eu quero saber onde o público está, não quero fazer uma novela que ninguém entenda.’’


 


 


 


 


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