Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mãos que sentenciam

A vida de Cristo foi marcada por lutas, suor e sacrifícios. Tudo o que Ele sempre quis foi proporcionar uma vida digna para seu povo. Mas poderosos condenaram-no por sentirem seus poderes ameaçados pelo Homem de Nazaré, que mobilizou milhares de cidadãos para as causas que defendia serem as melhores para a harmonia social.

Mentes e mãos infelizes o condenaram a morte e ‘destruíram’ sonhos, ‘interromperam’ uma vida de realizações. Mas os objetivos de Jesus permanecem na mente e ação dos que acreditam que é possível vislumbrar um mundo melhor.

As mãos desventuradas que assinaram a sentença de Jesus voltaram. Perdão se estiver profanando, mas elas sentenciaram mais de 80 mil jornalistas e mais de 180 milhões de brasileiros a viverem sob os pés dos imperadores dos meios de comunicação. Essas mãos ‘interromperam’ sonhos de jovens estudantes e profissionais de jornalismo compromissados em levar informações à sociedade. Essas mesmas mãos que se julgam justas, no passado libertaram Barrabás e hoje absolvem pessoas que são nocivas ao povo brasileiro, que assaltam o erário público sem nenhum temor.

Em recente decisão, o Supremo Tribunal Federal (STF), através do presidente Gilmar Mendes, desobrigou a exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista e ainda ameaçou outras profissões. Lamentável!

Ser jornalista não é simplesmente escrever, mas informar a sociedade com ética. É informar a sociedade dos fatos sem superficialidade. É mostrar, mediante visibilidade da força de sua narrativa, a verdade e sua totalidade, sem interferência política, de empresas ou quem quer que seja. É levar a verdade com isenção. Essa é a característica do jornalista responsável com o país e que tem em mente os interesses sociais.

Temos que nos indignar

Qualquer um pode manifestar seu pensamento, como alega o ministro Gilmar Mendes, é verdade. Mas não é qualquer um que pode informar calcado no estudo antropológico, sociológico, filosófico, econômico, entre outras outros, inclusive com técnicas jornalísticas pelas quais a sociedade possa entender a informação independente de classe social. É o jornalista que é ensinado na academia a bem informar, inclusive os menos letrados.

O jornalista não ameaça a sociedade quanto o que determina a Carta Maior do país, em relação ao direito de expressão. Ao contrário, o jornalista contribui para a sociedade entender os acontecimentos sem rodeios, de forma nua e crua. Doa a quem doer. O lamentável é o comportamento omisso de muitos que estão no poder e que ainda não compreenderam que as empresas de comunicação são ‘concessionárias’ do sistema de comunicação e que têm a responsabilidade social de informar os cidadãos dos acontecimentos e permitir que eles formem opinião. Elas têm o dever de ser educativas, e não persuasivas, porque a formação do povo brasileiro depende disso.

A luta não pára por aqui. São mais de quatro décadas de lutas e conquistas. É mais um desafio para a nossa categoria e, principalmente, para os brasileiros que querem saber da verdade que envolve a nação. A nossa indignação não é com as instituições que compõem o sistema democrático do país. Temos que respeitá-las, porém repudiar os que as utilizam para beneficiar interesses individuais e de grupos.

Temos que nos indignar com comportamentos dos que se acham acima do bem e do mal. Não podemos achar que tudo é normal, caso contrário viveremos eternamente nas amarras dos que se julgam poderosos. Não podemos permitir que nos joguem na vala comum. Erraram os ministros do STF. Lamentável!

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Acadêmico de Jornalismo, Manaus, AM