Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mário Magalhães

‘A REPORTAGEM ‘Bancos encabeçam lista de investimento em cultura’, publicada no caderno Dinheiro da quarta-feira, tinha alguns problemas.

Um deles era relacionar Banco do Brasil, Petrobras e Eletrobrás como instituições privadas. A falsa ‘privatização’, corrigida em ‘Erramos’, foi o de menos. Abrindo mão do espírito crítico que deve norteá-la, a Folha divulgou os resultados de uma pesquisa de modo que os bancos pareceram mecenas generosos quando às vezes estão longe disso.

Estudo do Grupo de Institutos Fundações e Empresas mostrou que, dos dez maiores ‘investidores em projetos culturais’ em 2005, cinco foram bancos (Bradesco, Banco do Brasil, Banco do Estado do Paraná, Itaú e Unibanco).

Relatou o texto: ‘Os investimentos em cultura [das empresas associadas ao Gife] aparecem em terceiro lugar, atrás de educação e desenvolvimento comunitário’.

As palavras se repetiram: ‘investidores’, ‘investimentos’, ‘investiram’. Nada se leu sobre ‘isenção fiscal’, ‘renúncia fiscal’ ou o eufemismo ‘incentivo fiscal’.

A reportagem omitiu dado elementar sobre as operações culturais das grandes empresas: são poucos os ‘investimentos’, negócios com risco. Há patrocínio, freqüentemente com dinheiro do Estado.

Não se trata de ser contra ou a favor, mas de informar o leitor para que ele possa tirar suas conclusões.

Como o jornal costuma noticiar, há leis de incentivo fiscal por meio das quais as empresas podem deduzir parcelas de impostos para aplicar em cultura. Elas deixam de recolher tributos e os destinam a patrocínios que promovem suas bandeiras.

Se dentro da lei, é tudo legal. Só que o jornal precisa avisar. Do contrário, os bancos saem melhor na fita do que deveriam. Os leitores não souberam que muitas empresas financiam projetos com a Lei Rouanet de incentivo.

Um bom antídoto para a Folha evitar tropeços assim é se inspirar no seu ‘Manual da Redação’, em cujo verbete ‘Jornalismo crítico’ se lê: ‘O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-la de um ponto de vista crítico’.’

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‘Às vezes, notícia fraca derruba assunto forte’, copyright Folha de S. Paulo, 29/4/07.

‘Nem sempre um assunto importante vale a manchete do jornal. O que merece destaque é a notícia, e mais valiosa ela será se tratar de assunto importante. No domingo passado, o título principal da primeira página da Folha foi ‘Grampos indicam vendas de sentenças’.

Era uma referência a gravações obtidas pela Polícia Federal e incluídas no inquérito da Operação Têmis, que investiga decisões judiciais suspeitas. Nas páginas internas, não havia uma só transcrição de impacto.

Ocorreu um procedimento comum -mas desaconselhável- no jornalismo: deu-se visibilidade a um tema pela sua relevância, mesmo sem o noticiário (que era carente de novidades) merecer.

É um risco que se corre em coberturas extensivas, como a da Operação Têmis e da sua antecessora -em uma semana- Hurricane (Furacão, em inglês), também da PF. O desafio é reconhecer quando a notícia fraca derruba a agenda forte.’

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‘Foto de macaco morto ‘reaviva dor’’, copyright Folha de S. Paulo, 29/4/07.

‘Às vezes, se uma informação pode provocar sofrimento dispensável em leitores, é melhor não publicá-la. O difícil é saber qual o limite.

No domingo, a Folha valorizou reportagem sobre o local onde o Boeing da Gol caiu em setembro. Os repórteres mostraram os destroços e narraram a aventura pela floresta. Saiu uma foto de um macaco morto por índios, que o comeram. O material me pareceu muito bom.

O leitor Wilson Cavalcanti discorda: ‘[A foto] é de extremo mau gosto, mostra cadáver de animal que muito lembra um humano em um local que está justamente marcado pela morte de 154 humanos’.

‘As imagens reavivam a dor, e a reportagem brinca de aventura na selva’, diz a leitora Maria Alice Gravina.’

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‘Leitor opina sobre duas coberturas’, copyright Folha de S. Paulo, 29/4/07.

‘Na coluna passada escrevi que gostaria de conhecer mais opiniões sobre duas questões: se a Folha está certa em sublinhar a condição do piloto inglês Lewis Hamilton como o primeiro negro na Fórmula 1; e se acertou na reconstituição do massacre na Virgínia (EUA).

Um leitor identificou um negro na ilustração do assassino, mas as notícias davam conta de que ele era asiático.

Agradeço às 54 pessoas que compartilharam suas observações. A consulta não tem valor de pesquisa de opinião. Serve para o ouvidor conhecer melhor o que pensam os leitores.’

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‘‘Swap cambial reverso’? Você sabe o que é?’, copyright Folha de S. Paulo, 29/4/07.

‘Dinheiro citou cinco vezes a expressão ‘swap cambial reverso’ no sábado 21 de abril. Não explicou o que é. Na crítica da segunda, lembrei que os leitores não são obrigados a conhecer tal palavrão. Na quinta, a incógnita voltou. De novo, o jornal não a traduziu aos não iniciados no ‘economês’.

Pedi, e Dinheiro enviou, definição para ‘swap cambial reverso’: ‘É um contrato que o Banco Central vende aos bancos. De sua parte, o BC paga uma taxa de juros aos bancos para ficarem com o título. E os bancos pagam à autoridade monetária a variação do câmbio em determinado período’.

Deu para entender?’

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‘Gravidez de 12 meses’, copyright Folha de S. Paulo, 29/4/07.

‘Em parte pequena dos exemplares da quarta, legenda na primeira página da Folha falou em ‘lei que permite aborto até o 12º mês de gestação’; o erro foi logo corrigido para ‘12ª semana’.’