Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mensalidade pesa e futuro salário desanima

Será que vale a pena? Essa é a pergunta que os estudantes do curso de Jornalismo fazem no momento em que pagam a mensalidade. Surge o desânimo quando os boletos bancários indicam, geralmente, no canto superior direito, que está na hora de separar o dinheiro. O valor é alto e o piso salarial do jornalista, baixíssimo. Como diz a letra da música, ‘somos pescadores de ilusão’. De acordo com o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, o piso salarial dos profissionais da área de comunicação é R$ 918,72 no estado – no Rio de Janeiro e em São Paulo, varia entre R$ 1.400 e R$ 3.300.

O presidente do sindicato, Rubens Lunge, lembra que os acordos salariais de Santa Catarina há algum tempo não são feitos na mesa de negociação, mas no tribunal. Isso quer dizer que os juízes têm decidido os reajustes no estado. ‘Muitas vezes, nem sequer têm reposto a inflação’, diz Lunge. ‘No fim dos anos de 1990, em Santa Catarina, alguns dissídios foram extintos pelo Tribunal Superior do Trabalho, ou seja, a categoria ficou sem reajuste’. O valor é estabelecido sobre o salário em vigor e reajustado a partir do Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC) de maio, ou seja, na data-base da categoria dos jornalistas. ‘A inflação de 2005/2006 foi de 3,34%, e os salários deveriam ser corrigidos a partir desse índice’.

A jornalista Roberta Locatelli Ramos considera o piso salarial baixo e atribui parte da culpa aos próprios estudantes de Jornalismo, que tiram a vaga de profissionais aceitando estágios não-regulamentados. As empresas se acomodam, pagam salário mínimo a profissionais não-habilitados e prejudicam quem passou quatro anos e meio na faculdade. A jornalista Ana Viana considera o mercado de trabalho muito restrito. Segundo ela, a principal causa seria a grande quantidade de formandos. O número de faculdades de Comunicação Social, entre públicas e particulares, aumenta em todos os estados A esperança dos estudantes está no mercado das novas mídias, como internet e TV a cabo. ‘A tendência é que pequenas empresas, como TVs locais, sejam mais valorizadas tanto quanto a rede nacional’, diz.

Luta diária

Em geral, são muitos formandos para poucas vagas, por isso é necessário ter algum diferencial. Falar no mínimo duas línguas, ler revistas, jornais, atualizar-se, porque o mercado de trabalho é competitivo e terão lugar somente os que se destacarem. A estudante Alessandra Damaceno avalia que o curso de Jornalismo não correspondeu as suas expectativas: esperava mais em todos os sentidos, tanto em relação às disciplinas quanto aos professores. ‘O valor que eu pago de mensalidade é de R$ 516, e o piso em SC é baixo. Para mim é complicado’, diz. Para ela, os alunos saem da faculdade massificados, com um conceito errado de jornalismo. ‘A universidade deveria valorizar o empreendedorismo’, complementa.

Os alunos gastam, nos cinco anos de graduação, incluindo mensalidade, despesas com livros, fotocópias e transporte, em média, R$ 40 mil. O jornalista precisa trabalhar aproximadamente durante quatro anos e meio para ‘recuperar’ o dinheiro investido em sua formação profissional. Para a maioria, é decepcionante se formar e ganhar um salário tão baixo – quando consegue emprego, porque muitas pessoas atuam na profissão irregularmente. ‘Ainda há empresas que contratam pessoas não-habilitadas’, diz Rubens Lunge. É nesse momento que o sindicato aparece. Com ações de fiscalização obriga as empresas a contratarem jornalistas formados. O presidente do sindicato acredita que faltariam profissionais se todas as emissoras de rádio, sites de notícias, jornais, revistas, assessorias e TVs contratassem apenas jornalistas. ‘Somos mais de 2.600 jornalistas registrados em SC’, afirma.

Segundo a professora de Jornalismo Vera Sommer, não dá para comparar educação e dinheiro. ‘Pagar a faculdade é investimento, e não se compara o dinheiro investido com o conhecimento adquirido nos anos de estudo’, afirma. Para ela, os profissionais que aceitam salário mais baixo ocupam a vaga – uma questão de ética profissional. ‘Na universidade o estudante vai aprender a se tornar mais crítico, conhecer seus direitos, ser mais consciente, e isso não tem preço’, observa. ‘O estudo oportuniza, mas não é a única solução’. Quem faz jornalismo precisa gostar da profissão, ter sangue de jornalista nas veias e não exercer a função pensando no retorno financeiro, defende a professora. Ir para a faculdade todos os dias com visão capitalista é perda de tempo. Ana Viana concorda. A maior recompensa da profissão é sua função social. ‘O jornalismo é o ato mais democrático, mais fácil de chegar até às pessoas’, afirma. ‘Ele visa o cidadão, forma opiniões, não tem discurso político que possa competir com isso: é a luta diária pela imparcialidade, pela verdade’.

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Estudantes de Jornalismo na Univali, SC