Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O jornalismo de facção

De forma transparente, nos Estados Unidos, jornais assumem suas posições políticas e divulgam, em suas páginas editoriais, os nomes dos seus candidatos. No Brasil, infelizmente, não funciona assim.


No caso do estado do Rio de Janeiro, esse comportamento pouco transparente dos jornais tem como expressão emblemática O Globo, de notória história de adesismo ao poder, que, embora não seja explícito, suas opções político-eleitorais perpassam todo seu noticiário, principalmente agora que resolveu transformar o prefeito Cesar Maia em seu alvo predileto. Como havia feito, num passado não muito distante, com o ex-governador Leonel Brizola.


Um bom exemplo desse jornalismo de facção do jornal O Globo foi na cobertura sobre a famiglia Jerominho, na edição de 23/7/2008, quando, ao mencionar o deputado Natalino Guimarães, fez questão de destacar, entre parênteses, que ele era do ‘(DEM, mesmo partido do prefeito Cesar Maia)’.


Perfeito, do ponto de vista jornalístico. No entanto, ao citar o vereador Jerominho, que está preso desde novembro do ano passado, e que pertence ao PMDB, O Globo não informou ao leitor que este é o partido do governador Sérgio Cabral.


Da mesma forma, O Globo cobrava, corretamente, por que o DEM mantinha em suas fileiras o deputado Natalino. Mas repetia o comportamento faccioso e não fazia o mesmo questionamento em relação ao vereador Jerominho e ao ex-deputado estadual Álvaro Lins, recentemente cassado e que também está preso, ambos do PMDB. Nem ao PT, quanto ao deputado estadual Jorge Babu, acusado de chefiar uma milícia.


Releases e publicidade


Um outro mal assola O Globo: o predomínio do jornalismo-release, principalmente quando a matéria é relacionada ao governo estadual. Por este método jornalístico, de forma acrítica, são publicadas matérias com base em releases do governo Sérgio Cabral, sobre, por exemplo, as finanças do estado.


Pelo que tem sido publicado, a impressão é que as finanças do estado nunca estiveram tão bem. Só que isso não é verdade. Os precatórios, que atingem mais de 1 bilhão de reauis, não têm sido pagos e empresas e fornecedores não têm recebido. Por que O Globo não apura?


Outro exemplo é a Cedae. Pelo noticiário nas páginas do jornal de segunda maior tiragem no estado, parece que a empresa de águas e esgotos é um case de sucesso em administração e finanças. Novamente, isto não corresponde à realidade. A Cedae foi considerada, em Edital de Notificação publicado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 3/1/2008, como inadimplente por não publicar os seus balanços no prazo correto definido por lei federal. Além disto, a companhia deve, segundo o último balanço publicado, cerca de R$ 460 milhões à Prece, o fundo de previdência complementar dos funcionários. Por que O Globo não apura?


Será que a opção por este jornalismo-release tem a ver com os R$ 80 milhões em publicidade gastos, em 2007, pelo governo Sérgio Cabral, e os previstos R$ 100 milhões para 2008?

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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ