Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O maior desafio é o da educação

Estou profundamente triste por não me decepcionar com discussões, como a da não obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, empreendidas pelo STF. Já há algum tempo venho conversando com colegas sobre a fragilidade dos cursos de Direito e, por consequência, da formação dos profissionais que saem das faculdades para advogar e atuar como juízes e promotores. O que observo é que falta compreensão social, conhecimento de Sociologia, de Filosofia, de Educação, de História, de Geografia, entre outras áreas do conhecimento indispensáveis para a formação cidadã, para a compreensão da ética, para a reflexão e para a tomada de decisões que implicam a interferência na vida das pessoas. Por isso, não tomo como surpresa as suas decisões, embora saiba que há, sim, profissionais que fazem a diferença pela qualidade do trabalho e do refinamento de conteúdo.

Lamento que tenhamos chegado ao ponto de ver um Judiciário se dedicando a negar o valor da formação acadêmica, quando a luta devia ser a de ampliar o acesso da população ao ensino superior. Lamento que tenhamos que assistir à atuação de ministros do STF dedicados a menosprezar a formação acadêmica para o Jornalismo (e, daqui a pouco, também para outras profissões), quando o desafio é qualificar ainda mais as nossas instituições de ensino.

Gente inteligente, capaz…

Lamento que tenhamos que perder tempo com uma discussão sobre obrigatoriedade ou não do diploma para o exercício de uma profissão, quando precisamos de segurança, de melhores salários, de mais acesso ao conhecimento científico e de maior acesso às informações tomadas pelas esferas de poder, para que possamos noticiar, sim, as coisas positivas, mas também os abusos de poder, os desperdícios pagos com dinheiro público, os enriquecimentos ilícitos, as negociações escusas, as inversões de valores. É com informação e com educação que a democracia se consolida e a liberdade de expressão se torna real.

O Brasil possui muitos desafios a vencer. Alguns deles ainda cheiram a período colonial, quando a cor da pele e o domínio da escrita eram fortes instrumentos de diferenciação social, muitas vezes calados pela ausência de uma imprensa (só presente a partir do século 19) e pela violenta exclusão social que negava o acesso da população às instituições de ensino… raríssimas na maior parte da história do Brasil. Talvez seja essa saudade que esteja batendo no peito dos nossos magistrados… – o tempo em que os filhos dos coronéis estudavam nas capitais para voltar doutores às suas terras… Gente de bem, inteligente, capaz.

Eternos aprendizes

Ao restante da sociedade (?), o conformismo… porque Deus quis que Fulano não estudasse… porque Beltrano não nasceu para as letras… e por água a baixo, vai junto a democracia, construída com o sangue de muitos de nós; escoa a cidadania, ainda um desafio; se esfacela a liberdade, ainda tão titubeante; dá-se adeus ao desenho de um país livre que ainda traz nos punhos as marcas da corrente. Assim, fica realmente mais fácil ‘controlar’ e ‘manipular’… E isso também não é novidade em nossa História.

Não. Não comungo da crença de que o exercício de uma profissão se realize pela pura e simples intuição. Não concordo com essa tentativa de desacreditar as instituições de ensino porque acho que o nosso maior desafio é justamente o da educação. Desaprovo essa decisão de negar o valor da formação acadêmica para o exercício do Jornalismo ou para qualquer outra profissão. Respeito a opinião dos magistrados que, como tantos outros brasileiros, também são vítimas das fragilidades do nosso sistema educacional e, talvez por isso, estejam pecando por miopia social.

Reafirmo minha crença no valor da escola, na necessidade de aprofundar a interiorização das universidades, na ampliação do acesso ao ensino superior a cada vez mais brasileiros. Somos eternos aprendizes, sedentos por conhecimento, ávidos pelo aprendizado… loucos por ‘independência’!

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Jornalista, Salvador, BA