Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Opinião não é ‘achismo’

Nos jornais, o espaço dos colunistas é de opinião, de livre expressão – mais livre do que a dos jornalistas. Eles podem criticar e tomar partido, não precisam ter a mesma opinião do jornal no qual escrevem. Mas isso de maneira nenhuma exime os textos de se posicionar baseados em fatos, na realidade, e não apenas em julgamentos pré-estabelecidos.

Duas colunas ilustram bem a necessidade da discussão sobre a responsabilidade da opinião no jornalismo. No dia 31 de agosto, Fernando de Barros e Silva escreveu ‘Foi o PT que fez’ (Folha de S.Paulo, 31/8/04). A coluna fala de como a candidatura da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, herda características que antes eram de Maluf, que a boa colocação da candidata se deve à atuação do marqueteiro Duda Mendonça, e termina com uma acusação direta ao PT e a seu presidente. ‘Repare, por exemplo, no jargão de um José Genoino. O presidente do PT converteu-se numa mistura caricata de businessman com o Roberto Jefferson da era Collor’, escreve.

Fácil de perceber

Em resposta, José Genoino escreveu ‘Colunismo político e julgamento moral’ (Folha, 13/9/04), em que acusa a coluna de Fernando de Barros e Silva de não desempenhar bem seu papel. Para ele, as colunas devem ter a função específica de ‘produzir análises políticas capazes de oferecer um entendimento adequado dos acontecimentos políticos ao leitor’. Em sua concepção, a coluna de Fernando Silva não teve teor político, mas de julgamento moral.

José Genoino se refere especificamente ao colunista da Folha, porque o texto afetou tanto seu partido quanto sua imagem pessoal. Na realidade, as críticas caberiam a qualquer coluna de jornal. Nenhuma delas pode se isentar de seu papel jornalístico – mesmo que não sejam escritas por jornalistas – de levar aos leitores visões diferenciadas, sem tentar conduzir a opinião deles e deixar apenas sua versão dos fatos aparecer. Um texto construído apenas em julgamentos e opiniões inflamadas e sem fundamento jornalístico é passível de crítica, corre o risco da falta de credibilidade e pode ser facilmente contestado.

Os colunistas às vezes esquecem de que é preciso, mesmo para emitir opinião, basear-se em fatos, ter visão geral dos acontecimentos, perceber que mesmo o lado contrário deve ser levado em conta. É fácil perceber quando o colunista teve o empenho de elaborar um texto jornalístico e quando fica apenas no ‘achismo’. Um colunista completo deve assumir seu papel de apurar os fatos, ouvir fontes, e somente assim estará habilitado a emitir opiniões que merecem ser lidas e levadas em consideração.

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Estudante de Jornalismo da PUC-Minas