Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os limites da investigação jornalística

No cotidiano das redações das diferentes mídias existe a incessante busca pelo ‘furo’, pela liderança em divulgar notícias no menor tempo possível e antes dos concorrentes. Este senso de urgência, somado aos egos inflados de muitos jornalistas, garante um ambiente ideal para que erros e até mesmo crimes contra a sociedade sejam cometidos.

Não é difícil notar que muitos profissionais do ramo têm dificuldades – ou talvez desinteresse – em preservar intactos quesitos éticos enquanto brigam para alcançar ou manterem-se em evidência na arena das redações. Em meio à guerra para apurar e publicar fatos relevantes para a sociedade, pairam questões como: até onde o Quarto Poder pode ir para cumprir suas obrigações sem ferir a ética e ao mesmo tempo desempenhar seu papel com competência?

Um dos eternos debates é a adoção de medidas alternativas como câmeras ocultas, disfarces, vazamentos, grampos, gravações ocultas, omissão da função jornalística para obter informações, omitir informações que revelariam fontes – e tantas outras que variam de acordo com as circunstâncias e criatividade do profissional para conseguir apurar e levar ao público as notícias de seu interesse.

É importante reconhecer as ocasiões em que jornalistas usaram recursos como esses, e que culminaram em descobertas que puseram a sociedade em alerta e obrigaram autoridades a tomar atitudes. Isto assinalou o início de investigações que mudaram o rumo da história – como o Caso Watergate –, queda de ministros mundo afora, além de ocorrências recentes no cenário brasileiro.

Na tentativa de entender se tais atitudes são corretas, sem se contentar com o simples ‘os fins justificam os meios’, convém observar alguns aspectos: primeiro, se o trabalho do jornalista não prejudica ninguém mais do que aqueles que deliberadamente agem de forma criminosa. Observada esta condição, não há razões para a condenação ou desqualificação de matérias produzidas dessa forma. Neste caso, a imprensa está tentando cumprir com o seu dever: informar e denunciar aquilo que compromete os direitos da sociedade.

Crise de identidade

O segundo item a se considerar: se ao fazer uso das instrumentos citados a imprensa não incorrerá no erro de esquecer da sua identidade exclusivamente apuradora. Se não passará a agir como autoridade, pisando a legislação e reivindicando um poder que não lhe pertence.

A imprensa deve reunir fatos – cuidadosamente apurados – e mostrar o que não está certo, amparada por garantias como liberdade de expressão e de imprensa. Mas quem deve tomar as medidas cabíveis são os órgãos como Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público e outros. Estes têm a obrigação de apurar fraudes e outras irregularidades. O jornalista idem, mas sem esquecer de que é um jornalista.

Terceiro, a relevância e urgência do assunto. Exemplo: um profissional obteve provas de mais uma situação irregular na política. Chegou a essas evidências graças a uma fonte ou gravação oculta. Se as provas são verdadeiras e passaram por uma pesquisa e investigação sérias, não há o que recear. É vital o conhecimento público destas questões, a fim de que providências necessárias sejam tomadas o mais rápido possível.

O que difere a investigação jornalística do sensacionalismo irresponsável é a relevância das questões levantadas, seriedade e profundidade com que são pesquisadas.

Cautela

Mesmo assim, esses recursos devem ser utilizados preferencialmente quando não é possível obter as informações de outra forma. Se isto fosse observado com mais seriedade na imprensa brasileira, as ondas de denuncismo – repletas de informações nem sempre verídicas ou devidamente pesquisadas – não maculariam a imagem da imprensa perante a sociedade.

Além disso, o verdadeiro jornalismo investigativo, sem cunho sensacionalista, seria devidamente valorizado. Quem sairia ganhando é o cidadão pelo qual a imprensa deveria estar constantemente em guerra. Pelos interesses e conscientização, não importando com que método ou disfarce. Afinal, seria uma luta constante pela verdade, justiça e democracia: uma guerra santa realmente coerente e necessária.

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Estudante de Jornalismo do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp).