Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os sentidos de ‘configuração’

Definitivamente, não é mais possível saber nada do que se passa com a educação brasileira pela leitura dos jornais. Jornalistas e instituições de ensino não mais se cruzam. As irregularidades nos cursos de pós graduação latu sensu (as especializações) atingiram níveis alarmantes. Qualquer birosca de esquina abre sua pós-graduação e usa as três letras mágicas: MBA. No Brasil, tal título não tem valor legal, mas as empresas gostam dos profissionais com diplomas recheados.

A sociedade fica sabendo dos problemas somente no momento em que o Ministério da Educação informa sua intenção de mudar a lei e impedir que as instituições possam abrir cursos sem autorização superior, o que hoje é permitido. Os jornais, aliás, faturam alto com a publicidade desses cursos. Mas, sem exceções sabidas por este observador, jamais tomaram a iniciativa de reportar o que se passa neles.

No ensino superior, o governo propõe um reajuste na remuneração de servidores e professores. É pauta, claro. Os encontros entre os sindicatos e o governo, as ameaças ministeriais, as ameaças de greves são noticiadas. Os campi, porém, permanecem espaços desconhecidos por repórteres.

Em Pernambuco e no Espírito Santo (apenas para dar dois exemplos), o ano letivo de 2004 vai se iniciar somente nesta semana ou na próxima. Afinal, 2003 só pôde ser concluído em abril, em decorrência das greves passadas. Os problemas, os transtornos, os desencontros não são tratados nem mesmo pela imprensa regional. Aliás, a imprensa regional informa sobre fim e início de aulas fora das datas habituais, mas não percebe que há uma pauta na frente do nariz.

Sigla enganadora

Duas grandes instituições de ensino superior privadas apresentam duas páginas inteiras em jornalão paulista. A Unip, maior universidade brasileira, privada e de propriedade de João Carlos Di Gênio, abre seu ‘processo seletivo’ para o segundo semestre de 2004 já em maio. A UniFMU paga uma página 5 na Folha para publicar a sua III Carta de São Paulo, tratando aparentemente da reforma universitária, mas sequer apresenta intenções.

Alguém consegue saber o que é UniFMU? Na internet, sua página institucional recorda que as Faculdades Metropolitanas Unidas foram criadas em 1968. Poucas linhas adiante, apresenta-se como ‘complexo educacional UniFMU’. Mas não esclarece do que se trata. O texto da carta de São Paulo, num dado momento, alude às ‘instituições universitárias privadas, em suas diferentes configurações‘ (grifo nosso). O texto induz a erro. No Brasil, as universidades têm uma única configuração. Faculdades isoladas, faculdades integradas e centros universitários são configurações diferentes de instituições de ensino superior. Nenhuma destas aqui citadas são universidades.

O leitor, coitado, paga um dinheiro para comprar informação, a UniFMU paga outro dinheiro para, supostamente, vender informação. Quem souber a configuração da UniFMU que cumpra a primeira pauta.

Ah: o MEC recomenda que apenas universidades usem a expressão ‘Uni’ nas suas siglas. Nem o próprio MEC nem a imprensa cuidam de fazer cumprir a regra.