Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Precisamos de reforços

No Globo de quinta-feira (17/11), leio que Lula, no discurso de abertura da 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em Brasília, criticou os professores, afirmando que ‘alguns precisam de reforço escolar’:

‘Se um professor entra numa sala de aula, dá uma aula e o aluno não aprende, o aluno precisa de reforço; se dá a segunda aula e o aluno continua não aprendendo, o aluno ainda precisa ficar no reforço; mas, se der a terceira e o aluno não aprender, quem precisa de reforço é o professor.’

Pedagogia não é o forte do presidente. De didática nada entende, e ninguém espera que entenda, mas que ao menos respeite quem é ‘do ramo’. E para tentar consertar mais este lapso presidencial, professor Fernando Haddad veio explicar o que dispensaria explicação: ‘Minha leitura é de que, se há muita repetência nas escolas, é preciso uma atenção maior ao professor, do ponto de vista de sua formação’, declarou o ministro da Educação, tentando salvar a situação.

Lula disse o que disse, simplificando ao máximo a realidade que desconhece. Imaginou uma situação inexistente, para efeitos retóricos: um professor e o aluno. Numa sala de aula não há um professor e o aluno. Há trinta, quarenta, cinqüenta alunos para um professor que, em não poucas ocasiões, precisa de reforços, sim. Reforços que espera receber do Estado, da sociedade e das instituições de ensino.

Formação continuada

Reforços econômicos. As pesquisas mostram que um professor de educação infantil ganha, em média, R$ 500,00 por mês. Os que lecionam em turmas da 1ª à 4ª série, R$ 600,00. Os da 5ª à 8ª, R$ 700,00. No ensino médio, R$ 900,00. Esses números variam de acordo com as regiões brasileiras, e em geral os professores que trabalham em escolas particulares ganham um pouco melhor do que os colegas da rede pública. No Nordeste, milhares de docentes recebem um salário mínimo por mês… e com atraso.

Reforços culturais. O professor brasileiro lê muito pouco, muito raramente vai ao cinema e ao teatro. Metade dos professores no Brasil nunca teve acesso à internet.

Reforços psicológicos. Insegurança e precariedade. Professores enfrentam dificuldades materiais, situações humilhantes, alunos agressivos, indisciplina institucionalizada.

E reforços profissionais. Os docentes, mais do que palestras esporádicas, muitas delas carregadas de sentimentalismo, necessitam receber uma formação inicial e continuada de nível filosófico e científico.

Reforços, reforços urgentes!

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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)