Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Quando a imprensa se alimenta de sangue

Notícia e sangue estão intimamente ligados, afirmam dois economistas que pesquisaram a relação direta entre imprensa e terrorismo. Bruno S. Frey, da Universidade de Zurique, e Dominic Rohner, da Universidade de Cambridge, analisaram referências diretas a ações terroristas entre 1998 e 2005 nos jornais New York Times e Neue Zuercher Zeitung, respeitado diário suíço.

Os pesquisadores encontraram um macabro exemplo de relação onde todos ganham, no que chamaram de ‘jogo de interesse comum’. ‘A mídia e os terroristas se beneficiam de incidentes terroristas’, afirma o estudo. Os terroristas ganham publicidade de graça para suas ações e sua causa. A mídia, por outro lado, lucra com o crescimento da atenção do público, já que ‘reportagens sobre ataques terroristas aumentam a venda de jornais e o número de telespectadores’.

Efeito potencializado

Frey e Rohner coletaram também dados sobre atentados terroristas em todo o mundo entre 1998 e 2005, e usaram um procedimento estatístico para determinar se o aumento da cobertura jornalística influenciava o número de ataques. Os resultados comprovaram que a relação vale para os dois lados: mais cobertura causa mais ataques, e mais ataques levam a mais cobertura – efeito potencializado após os atentados terroristas de setembro de 2001, quando o interesse pelo tema cresceu consideravelmente.

Uma solução parcial, sugerem os pesquisadores, seria negar aos grupos criminosos a publicidade que eles tanto procuram. Como não é possível que a imprensa simplesmente ignore atentados com centenas e milhares de vítimas inocentes, a cobertura poderia, pelo menos, omitir a identidade dos terroristas e de suas organizações. ‘Eu gostaria que fosse aplicada a mesma regra de um país: ninguém pode ser chamado de criminoso – ou, neste caso, de terrorista – se isto não foi estabelecido pela justiça’, exemplifica Frey. Informações de Richard Morin [The Washington Post, 15/6/06].