Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Reunião estabelece novos rumos para a rede

O 1º Encontro da Rede Nacional de Observatórios da Imprensa (Renoi) apresentou como proposta uma avaliação dos nós da rede e a discussão dos futuros desafios para a continuidade dos trabalhos. O evento iniciou no dia 31 de maio e se estendeu aos dias 1º e 2 de junho, em Vitória, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Antes da conferência de abertura, o jornalista Alberto Dines – por meio de um depoimento em vídeo – registrou a importância da Renoi para a seqüência dos trabalhos de seu projeto, Observatório da Imprensa, que também começou em uma universidade, a Unicamp. Em seguida, o professor Luiz Gonzaga Motta, da Universidade de Brasília (UnB), fez uma apresentação, seguindo uma linha de raciocínio que foi do surgimento da linguagem até o trabalho de crítica da mídia atual.

Entre as diversas questões importantes e essenciais abordadas por Motta, me chamaram a atenção as perguntas levantadas por dele: ‘O que perguntar ao texto? A partir de quais suposições posso justificar e sustentar historicamente minhas perguntas ao texto?’, pois isso é o que devemos nos perguntar ao fazer uma crítica à algum meio de comunicação. Nós exercemos um papel de ponte do meio de comunicação com o leitor, como diz o professor: ‘Devemos formular as perguntas em nome do público, que às vezes nem eles sabem fazer, e trazer as respostas’. Segundo Motta, ‘a função do crítico é informar e formar o leitor’, e assim, aquele que quer criticar deve pensar no seu papel para com o público. ‘A prática de crítica dos meios pode e deve partir de pressupostos éticos, políticos e sociais’, afirma ele.

Segundo dia

O segundo dia do encontro iniciou com a oficina de Luiz Martins da Silva, também da UnB, intitulada ‘Danos morais: conceitos básicos’ (ver, neste Observatório, ‘Reparação de danos, conceitos básicos‘). Sobre isso, o professor afirmou que existem seis Rs mnêmicos, três consensuais – retificação, retração e réplica; e três conflitivos – resposta, reparação e retorção. Martins da Silva apresentou a pergunta de partida da sua oficina: ‘O que fazer quando a fonte erra?’ Através de muitos exemplos de casos que ocorreram na mídia, Martins apresentou dois pontos interessantes: ‘quanto mais singular o fato, mais valor-notícia tem; e quanto mais improvável o fato, mais midiático é’. Para isso, basta analisar as notícias de qualquer jornal e você pode comprovar. O professor relembrou ainda os crimes de honra: injúria, difamação e calúnia, sempre citando algum caso conhecido.

À tarde, houve a exposição dos grupos mais consolidados, que relataram suas experiências. Rogério Christofoletti começou falando sobre o Monitor de Mídia, como funciona, quem participa, o que é, e a estrutura de trabalho. Depois, foi a vez da professora Ana Prado que explicou sobre o projeto do qual participa, Agência Unama de Comunicação pelos Direitos da Criança e do Adolescente, que existe desde agosto de 2004 e que está vinculado à Universidade da Amazônia (Unama), em Belém, no Pará.

Luiz Martins da Silva compareceu novamente para falar sobre o grupo SOS Imprensa, da Unb, que tem 10 anos de existência. Assim como os outros, mostrou o que é e como funciona seu projeto. O último da mesa, Fábio Pereira, representante do Mídia & Política, também da Universidade de Brasília, foi um pouco mais além dos outros e trouxe algumas reflexões sobre os observatórios de imprensa. Relembrou uma fala de Luiz Gonzaga Motta do primeiro dia e disse: ‘A crítica são as perguntas do leitor, mesmo que difusas’.

Após essa exposição, juntaram-se à mesa os grupos mais recentes, com o objetivo de demonstrar seus problemas e dificuldades. Ângela Loures iniciou apresentando a Renoi – Vale do Paraíba, em que explicou o seu maior problema: é a única professora da Universidade de Taubaté (Unitau) que tem essa iniciativa, e por isso, leva o projeto praticamente sozinha. O professor Marcos Santuário, do Centro Universitário Feevale, no Rio Grande do Sul, demonstrou a sua intenção com o grupo Mídia em Foco: promover debates, seminários e colóquios dos jornais de análise. O site do grupo ainda não está pronto. A seguir, Ananias de Freitas, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – MG), explicou que está em processo de instalação do seu grupo de observatório de mídia. A sua proposta é a análise da violência e da segurança pública nos três principais jornais de Minas Gerais. Finalizando, Wellington Pereira, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), contou a sua experiência com o Grupecj. O grupo trabalha com jornal impresso e está em atividade desde 2002. O enfoque deles é a sociologia do cotidiano nos periódicos paraibanos.

Na última mesa do dia, participaram: Luiz Egypto, do Observatório da Imprensa, Guilherme Canela, da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), e Thaïs Mendonça, do Mídia & Política. O primeiro relatou a trajetória do Observatório da Imprensa que desde fevereiro de 2001 tornou-se semanal, mas existe desde 1996. Egypto disse algo muito importante para os críticos: ‘a crítica não desqualifica a mídia’, ou seja, criticar não é sempre falar mal, mas deve também elogiar, se a cobertura merecer. Representando a Andi, Canela apresentou a abrangência do grupo, que analisa 220 jornais no continente. Propôs alguns pontos do por que analisar a mídia: ‘colaborar para que a mídia seja mais responsiva; permitir um diálogo mais qualificado com os atores da mídia noticiosa; e permitir uma estratégia de cooperação mais eficaz, efetiva e eficiente com os mass media.’ Thaïs de Mendonça encerrou a noite e acrescentou mais alguns aspectos das funções dos observatórios, propostas anteriormente por Canela: ‘fiscalizar os meios e os profissionais, e alfabetizar em mídia, o cidadão comum’. O seu grupo Mídia & Política tem a periodicidade quinzenal e possui edições temáticas.

Terceiro dia

No último dia do evento, não tive a oportunidade de estar presente até o final do encontro. Participei somente na parte da manhã, em que foram apresentadas as oficinas da professora Ana Prado e de Railssa Alencar, da Andi. Ana Prado explicou as metodologias da Agência Unama. Já Railssa mostrou que o propósito do grupo é obter a mídia qualificada como meio de desenvolvimento. O grupo atua em 13 países da América Latina. A metodologia utilizada pela equipe é a análise de conteúdo para avaliar aspectos da cobertura jornalística e a coleta de dados. No final de sua explanação, mostrou alguns textos (duas matérias e um editorial) aos alunos para avaliarmos se era bom ou não, e o que poderia melhorar. A discussão e a troca de idéias foi muito interessante, principalmente para mostrarmos o nosso exercício crítico.

No final, pude perceber que a experiência foi muito enriquecedora para todos os estudantes de graduação envolvidos nos diversos projetos. O relato de experiências entre os estudantes e, principalmente, dos professores dos nós da rede foi enriquecedora. Além disso, é bom conhecermos um pouco daqueles que fazem parte da Renoi, de quem acompanhamos o trabalho.

O Encontro foi importante também para definir novos rumos da rede, conhecendo alguns aspectos de cada grupo, suas dificuldades e experiências, e propondo sempre soluções.

Victor Gentilli e sua equipe deram o pontapé inicial, fundamental para todos que integram a Renoi. Que essa iniciativa seja levada adiante e que possamos repetir em breve um novo encontro.

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Da equipe do Monitor de Mídia